Clemente Viegas

Clemente Viegas

“EU TE CONHEÇO, CARNAVAL!!!”

Tenho um texto que está prontinho. Na hora de mandar para a edição. Intitula-se JERÔNIMO DE JOANA ou... “A SAGA DE JERÔNIMO DE JOANA” que seria o tema desta minha edição. Jerônimo é um velho lavrador, hoje aposentado, que dele me lembro à meia idade, ainda rapaz. Procurei-o por mais de 50 anos e acabo de descobri-lo em terras do Pindaré, com quem vou encontrar-me brevemente. Jerônimo era um sujeito “presepeiro”, cheio de “presepadas”. Contava estórias de Lampião no cangaço; seguia por Padrinho Padre “Cirço Rumão” e ia parar nas loas e tiradas em livretos de cordel ...

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ÔLALÁ – ÔLALÁ

Escrevi um texto: “IMPARRIÁ”. Imparriá, na linguagem da gente do meu sertão, é “aperrear”, atrasar; não desenvolver. Enfim, “imparriá”. Dias depois, quando fui ver o texto, cadê? “Imparriá”, imparriou. Foi-se pelos ares (coisa de computador). Já disse aqui sobre a desfunção do meu intelecto. Posso riscar um caderno inteiro, mas se perder o texto, jamais reconstruirei o caminho. Caio desmotivado.
Imparriá era gostoso, saudável e bem humorado e contava a minha trajetória na tentativa de “apanhar” um verde cacho de coco babaçu, a meia-altura. Nada deu certo. E o certo é que o cacho “imparriou” lá ...

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O ERMITÃO E O SALAFRÁRIO (vida real)

E então naquela cidade vivia um ermitão. Ermitões existiam nos desertos que viraram cidade e nos contos da Carochinha, mas esse era de verdade, em carne e osso e chinelo de dedo. Ermitão veio das bandas daquelas terras de um povo marcado pelo celibato; alheio à sexualidade, convivente com a solidão. Ermitão era assim, um sujeito pacato, com um pé fora deste mundo, um tipo mão fechada, esquisito, “canhenga”, desconfiado.
Vindo das encravas do sertão em chapadas de cerrado, trazendo consigo uma ponta de recurso – creiam – chegou à cidade e, em meio às casas ...

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E A MOÇA NÃO ERA MAIS MOÇA...

Já disse aqui tantas vezes que apresento ao vivo, no Programa Arimatéia Júnior, na NATIVA/FM, o quadro Rádio Verdade, cujo tema é o social do dia-a-dia. O quadro assume o caráter de um espetáculo, desde a sua abertura com a música “Lá vem chegando o verão”. Ao final do texto (da crônica), VALDINEI LIMA, que é um crânio da mesa de áudio, completa com uma música - música que completa a história que interpreta o texto. Às vezes com um “pot-pourri” de duas ou três músicas. Vejamos, então, dois textos (e música) da semana passada no quadro ...

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“RIBEIRO, GROSSO”

Éramos a CASA DO ESTUDANTE SECUNDARISTA DO MARANHÃO, no centro histórico da capital - uma casa obtida de um lesa-Estado e doada pelo Governo aos estudantes secundaristas pobres, vindos do interior. Uns oito apartamentos (quartos) lá em cima, um banheiro coletivo e mais a “GERAL” lá embaixo. A GERAL era o inevitável destino primeiro dos novatos (recém-chegados), este que iam subindo à proporção que os apartamentos “lá em cima” iam desocupando. Eu, por exemplo, morei na GERAL, acho que durante uns dois anos, e quando mudei para o apartamento de cima, sofri com a saudade do grande-quarto-coletivo, ...

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Os melhores da semana

Quando os meus neurônios não estão dispostos a produzir ou descrever temas exclusivos (ou inéditos), em intensas duas páginas em um só fôlego para este... CAMINHOS POR ONDE ANDEI, volta e meia recorro aos meus textos arquivados – uns que faço para o quadro RÁDIO VERDADE (Nativa / FM, Programa Arimatéia Júnior), outros que envio para o quadro PÁGINA DE SAUDADE (Mirante/AM, São Luís, manhãs de domingo, ao programa CLUBE DA SAUDADE.

Hoje, na pura veleidade, tomo dois temas, um de cada programa, o primeiro de Página de Saudade e o segundo de Rádio ...

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“ARGEMIRO DE BASTIÃO”

Naquele meu chão feito a foice e facão, mutilado em crendices e roças de crua sobrevivência - tanto quanto ainda o é, entre tantos roceiros analfabetos que ali mourejavam, ARGEMIRO DE BASTIÃO era mais um entre os demais. Filho da trinca de Bastião Folhá, ali em terras de Antônio de Anjo, Argemiro era mais um sobrevivente da peleja do sol a sol em meio àqueles que punham o dedo como assinatura. Ainda cedo juntou-se com Godença de João-Guegué e lá se foi uma queira de filhos, todos entregues à pobreza e à vida crua herdadas do pai-Argemiro.
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O LENDÁRIO MANÉ FOLHÁ...

Naquele meu chão varrido de paupérrimo que conheci quando criança, o patriarca MANÉ FOLHÁ era, com a sua tribo, o mais pobre entre todos os pobres, um símbolo amargo do "miseré". Carregado de filhos com sua TEREZA FOLHÁ, moravam todos ali, na BAIXA DA FOLHA, em terras de Mundico do Sertão. Baixa da Folha era, portanto, o último gueto daquele chão de analfabetos, feito de sol, foice e facão. E uma roça todos os anos, a vida toda.
Baixa da Folha era uma corrutela de quatro ou cinco casas. De um lado do caminho, o casebre ...

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Clemente Viegas

Viegas, Clemente Barros. (São Clemente papa e mártir). CLEMENTE vem do Almanaque de Bristol, antiga publicação do laboratório farmacêutico. Estudou as primeiras letras na escola da palmatória e dos joelhos ao chão, no sertão. Concluiu o curso primário (na terra natal), no tempo em que a escolaridade era levada a sério. Foi menino de recado e de mandado. Nos cursos Secundário e Técnico no internato da Escola Federal, onde ingressou via do “Exame de Admissão”. Cursou Direito, num tempo em que não havia celular, nem internet, nem FIES, nem as vantagens atuais. Não tinha livros, escrevia em papéis avulsos, taquigrafava as aulas ao verbo dos professores. Morou em casas de estudantes e cortiço, andava a pé, driblou o bonde, poucas roupas, curtiu a “Zona” e jamais dirá que “comeu o pão que o diabo amassou”. Trabalha desde os cinco anos, com intervalo dos onze aos vinte anos. Está na casa dos 73. Não brincou quando criança ou adolescente e na vida adulta tem três brinquedos que os leva a sério: 1 - Escreve a coluna CAMINHOS POR ONDE ANDEI; 2 - Escreve a crônica PÁGINA DE SAUDADE, Rádio Mirante/AM, domingos, há mais de dez anos; 3 - Tem uma “rádio”, com antena de 300 mm de altura, 1.000 a 1500 mm de alcance, com dois ou três ouvintes que, como você vê, “um que pode ser você”. É o rastro e a sombra de si mesmo. É o filho que veio e os pais que se foram. Superou milhares de concorrentes para nascer. É mais um na multidão e considera-se a escrita certa por linhas tortas, na criação do CRIADOR. Cumprimenta os seus interlocutores com votos de “saúde”! E diz aos semelhantes todos os dias que “...a vida continua”. (•) Viegas questiona o social. e-mail: viegas.adv@ig.com.br