No momento em que publica-se estes textos, estarei distante daqui a centenas de milhas, lá na Baixada da minha identidade, no chão que me viu nascer, em minha décima quarta maratona (em dois anos), onde construo o “MEMORIAL ANTÔNIO DE INEZ”, para trabalhar a memória do meu velho pai. E nesse caminho, pouco mais adiante, além da homenagem que presto aos decanos pranteados daquele outrora e sempre sofrido lugarejo, ergo também, naquela TAPERA que aqui já foi tema, uma singela homenagem ao meu avô DOCA BARROS – sabedoria e símbolo-cidadão que guardo na cabeça e no coração. ...
Veríssimo era filho de Honorato. E no avesso da linguagem daquela gente ficou rebatizado como “Virisso de Norato”. Virisso tinha fama de comilão. Quando Veríssimo de Honorato Barros casou-se com Raimunda de Milhano, eu ainda era um garoto. E me perguntava: por que uma moça casaria com um homem que tem fama de “cumidô”?! E via, no gesto da jovem-noiva, um ato de coragem e despojamento. E interpretava essa gulodice com estranheza. Casaram-se de papel passado, com banquete e tudo o mais e viveram até que a morte os separou. Virisso de ...
Era moleque e já ouvia dizer que “ovo não briga com pedra”. E nessa luta do rochedo contra o mar - uma briga de vira-latas a gente vê todo o dia por aí. Estão aí os tribunais da vida, os juizados de pequenas causas. Mas uma briga de CACHORRO GRANDE, embora tenha todo o santo dia, não é todo santo dia que a gente vê nos arrabaldes uma briga de cachorro grande. E se na briga entre vira-latas saem foiçadas, mordidas e latanhadas, escândalos e gritos no ar e brigam por causa ...
Monsenhor Estrela era um pároco mais que sexagenário que pregava no rádio. E todos os domingos, lá se vinha Monsenhor Estrela dentro de sua batina preta para o seu evangelho na Rádio Educadora. O meu pai não perdia as suas pregações. E então um dia ele disse que “o homem deve sonhar os seus sonhos; viver os seus sonhos, buscar os seus sonhos”. O meu pai me disse isso com os olhos brilhando, logo ele, um sonhador que tantas vezes acordado nas noites, punha-se a idealizar os seus sonhos, ou ainda que na roda do dia, riscando ...
Ainda me lembro. Foi um tempo em que me perdi na rota da escolaridade. Concluí o curso técnico em desenho técnico e quando descobri que queria cursar Direito, de livre e pessoal iniciativa, voltei para o 2º ano científico, que cursei no Liceu Maranhense, à noite. Certa noite, no Liceu, no intervalo - entre uma aula e outra eu... assim do nada... só uns gatos pingados na classe, fui ao quadro, fiz um círculo e neste um losango e neste a inscrição semicircular: “CLEVIEGAS” – uma elisão do meu prenome com o sobrenome, formando um sigla. Num ...
Desconfio que estou vivendo um deserto do meu lado-escriba. Por vezes, nas madrugadas ou nas tardes de domingo, tento exercitar a mente, mas a ideia não flui, o texto não sai. Nem as imagens e passagens do dia-a-dia me despertam. Republico aqui MÃE NONATA, um tema da vida real a que revivo em versão ampliada.
“MÃE NONATA”
Naqueles sertões, tocados a roça de sobrevivência, cargas de cangalhas e luz de lamparinas durante a noite, eis que uma festa por ali de tempos em tempos sacudia aquela gente. Grande maioria da qual ...
A nossa mente entre outras articulações e vicissitudes, irrequieta e nômade como sempre, tem a incrível capacidade de nos transportar em fração de segundos para o outro lado do planeta; para mundo/s jamais conhecidos e sequer imaginados, enfim para qualquer lugar que a nossa volição ou ainda que a vã imaginação nos encaminhar. Por vezes fico “em-mim-mesmado” no centro desse imaginário, como se desconhecesse a mim mesmo e a me interrogar sobre os mistérios da mente. E fico vendo quão é maravilhosa essa criatura de Deus com tantas peculiaridades capaz de tanta criatividade e longevidade a ponto ...
Aquelas imagens, vertidas em paisagens, ainda estão nítidas na minha mente. Na beira-mar, na ilha de maré e eu ali ora à espera do barco, ora saindo do barco, ora nos devaneios de quem teve a embarcação como uma inevitável referência de vida. Nem tanto porque eu gostasse ou me sentisse feliz em atravessar a Bahia, o mar – mas porque essa travessia se fazia obrigatória, pelo menos duas vezes ao ano em ida e volta. Afora isso e nas diatribes de um colegial, aquela beira-mar de tantos encantos e de tantos ...
Viegas, Clemente Barros. (São Clemente papa e mártir). CLEMENTE vem do Almanaque de Bristol, antiga publicação do laboratório farmacêutico. Estudou as primeiras letras na escola da palmatória e dos joelhos ao chão, no sertão. Concluiu o curso primário (na terra natal), no tempo em que a escolaridade era levada a sério. Foi menino de recado e de mandado. Nos cursos Secundário e Técnico no internato da Escola Federal, onde ingressou via do “Exame de Admissão”. Cursou Direito, num tempo em que não havia celular, nem internet, nem FIES, nem as vantagens atuais. Não tinha livros, escrevia em papéis avulsos, taquigrafava as aulas ao verbo dos professores. Morou em casas de estudantes e cortiço, andava a pé, driblou o bonde, poucas roupas, curtiu a “Zona” e jamais dirá que “comeu o pão que o diabo amassou”. Trabalha desde os cinco anos, com intervalo dos onze aos vinte anos. Está na casa dos 73. Não brincou quando criança ou adolescente e na vida adulta tem três brinquedos que os leva a sério: 1 - Escreve a coluna CAMINHOS POR ONDE ANDEI; 2 - Escreve a crônica PÁGINA DE SAUDADE, Rádio Mirante/AM, domingos, há mais de dez anos; 3 - Tem uma “rádio”, com antena de 300 mm de altura, 1.000 a 1500 mm de alcance, com dois ou três ouvintes que, como você vê, “um que pode ser você”. É o rastro e a sombra de si mesmo. É o filho que veio e os pais que se foram. Superou milhares de concorrentes para nascer. É mais um na multidão e considera-se a escrita certa por linhas tortas, na criação do CRIADOR. Cumprimenta os seus interlocutores com votos de “saúde”! E diz aos semelhantes todos os dias que “...a vida continua”. (•) Viegas questiona o social.
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