Aquelas imagens, vertidas em paisagens, ainda estão nítidas na minha mente. Na beira-mar, na ilha de maré e eu ali ora à espera do barco, ora saindo do barco, ora nos devaneios de quem teve a embarcação como uma inevitável referência de vida. Nem tanto porque eu gostasse ou me sentisse feliz em atravessar a Bahia, o mar – mas porque essa travessia se fazia obrigatória, pelo menos duas vezes ao ano em ida e volta.
Afora isso e nas diatribes de um colegial, aquela beira-mar de tantos encantos e de tantos amores, nos segredos de um céu aberto, deixava correr na veia a emoção das aventuras de ocasião. Sussurros, intimidades, juras, promessas vãs. E o silêncio que dali se espraiava, a penumbra que envolvia e acomodava, a claridade que nos incomodava. E a cumplicidade de tudo aquilo ali em testemunha e conivência. E assim vivemos um tempo, uma emoção, uma experiência. Aquelas imagens, vertidas em paisagens e aquele olhar perdido rumo ao mar infinito, ainda me lembro - ora em maré baixa, ora em maré cheia. A maré seca com a lama lá em baixo me dava ali uma sensação de abandono, do vazio, do que “foi embora”. A maré cheia dando sopapos e pontapés à beira do cais - para mim, ali era o mar em corpo presente. A natureza, enfim, respirando, transpirando. Questionando a gente.
Ainda me lembro daquelas imagens vertidas em paisagens. E eu ali... Ali ficou a minha juventude, os anos dourados do meu tempo de rapaz, sussurros, intimidades, promessa vãs e um tempo que não volta mais. Também ficou a maré seca e com ela a sensação de vazio e os gritos da maré cheia, respirando e transpirando rumo ao imaginário lá longe, daquela sereia. Hoje, quando volto no tempo revendo essas imagens e paisagens, suspiros, ansiedade e triviais, vejo que na alma deste escriba também é assim: ora na maré seca, ora na maré cheia, como enfim na beira do cais. E, porque vivo agora, a orla da maré baixa; temas submersos que resistem a eclodir, piso o chão deserto e reproduzo aqui textos que os fiz para o rádio, uma velha praia em que também tenho experimentado tempos de maré baixa, tempos de maré cheia.

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IMPERATRIZ – TERRA DE TODAS AS OPORTUNIDADES
(Texto produzido para o quadro RÁDIO VERDADE – NATIVA/FM, Arimatéia Junior)

Dia desses, eu parava para refletir sobre o quanto IMPERATRIZ É A TERRA DE TODAS AS OPORTUNIDADES. Aqui, neste chão, quem planta colhe. E colhe com fartura. E colhe com louvor. Melhor ainda aos que plantam com honestidade, responsabilidade – com fé (boa fé), esperança e perseverança. Imperatriz é uma terra em que todos (absolutamente todos) têm vez. Aqui tem vez o pedreiro, o alfaiate, o encanador, o serviçal. A empregada doméstica, o ambulante, o açougueiro, o biscateiro, o doutor, o empresário (seja pequeno ou grande) - enfim, IMPERATRIZ É A TERRA DE TODAS AS OPORTUNIDADES. Falo isso não só em causa própria, mas porque a gente sente, a gente vê o trabalho e o progresso das pessoas, dos negócios da empresas, das gentes que plantam com trabalho e boa fé. A gente vê as oportunidades que se constroem, as oportunidades que se realizam. Então esta Imperatriz de todos os povos é o chão da prosperidade, a terra de todas as oportunidades.
Aqui, a mulher da panelada tem filha na faculdade, o alfaiate também está na faculdade, o filho do pedreiro, do biscateiro - todo o mundo de olho na universidade. Balconistas, no curso superior; neguinho que começou do nada e virou fazendeiro, proprietário. Tem doutor dando no meio da canela em cada esquina; lutadores de todos os gêneros e qualidade – uns colhendo mais e outros colhendo menos – mas o certo é que todos colhem e todos chegam lá. Afinal, isto aqui – esta Imperatriz – é a terra de todas as oportunidades. Aqui ninguém fica de mãos abanando, nem olhando para o tempo, é só querer trabalhar. É ter fé e boa-fé, dedicação, perseverança, porque Imperatriz é essa mãezona de todos nós; Imperatriz é esse rio caudaloso e rico; essa central de todas as gentes que aqui buscam e que qui encontram um lugar à sombra. Sim porque esta nossa Imperatriz é a terra de todas as oportunidades.

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“...A MÚSICA ATRAVÉS DOS TEMPOS!!!”
(Tema enviado para o programa CLUDE DA SAUDADE / Mirante - manhãs de domingo)

Era manhã de domingo. Ligo o rádio e ouço uma antiga canção. Entrei na roda do tempo e vi que estava aos 11, 12 anos, no João Paulo. João Paulo do Bonde, do “abrigo”. João Paulo do “rodo”. O “rodo”, de tantas mulheres; mulheres de tantos amores. João Paulo da amplificadora DIACUÍ. João Paulo de Dona Perpétua, chefe da mulherada. E nesse transe fui vivendo na mente idos da minha ADOLESCÊNCIA. Pouco depois, uma nova canção! BIENVENIDO GRANDA! Perfume de Gardênia! Agora eu estava com 14, 15 anos - um tempo inesquecível no internato e na escolaridade da minha impagável e eterna Escola Técnica Federal. Eu era feliz e não sabia!!! E vivia na mente todo o esplendor de um tempo que ali fiquei durante OITO ANOS. Bienvenido GRANDA. Mais do que a música, era a vida através dos tempos.
Ainda nessa mesma estação, nessa mesma manhã-de-domingo e lá se vai um desfile de outras tantas canções e me vi garotão - subindo e descendo ruas da minha vetusta São Luís: Vila Passos, Monte Castelo, Fátima, Retiro Natal, Lira, Belira, onde deixei amores - embalados pelas canções que tocavam nas amplificadoras ou nos portáteis radinhos de pilha. Ainda estou vivendo esse devaneio, quando entra ROBERTO. Ele mesmo do seu álbum “Roberto canta para a juventude”! Eu estava lá! Era um tempo de CASA DO ESTUDANTE... da UMES... do primeiro emprego, da Rua do Passeio, pertinho do Gavião. Tempo das festinhas (e baladas) em finais de semana, ao som da radiola, com Poly em “SAIA VERMELHA” ou “NA FRONTEIRA DO MÉXICO”. E foi nesse transe de lembranças e recordações, em marcas e traços e rastros da vida, quando dei por mim... eu estava no PROGRAMA CLUBE SAUDADE.

* Viegas questiona o social