Ainda me lembro. Foi um tempo em que me perdi na rota da escolaridade. Concluí o curso técnico em desenho técnico e quando descobri que queria cursar Direito, de livre e pessoal iniciativa, voltei para o 2º ano científico, que cursei no Liceu Maranhense, à noite. Certa noite, no Liceu, no intervalo - entre uma aula e outra eu... assim do nada... só uns gatos pingados na classe, fui ao quadro, fiz um círculo e neste um losango e neste a inscrição semicircular: “CLEVIEGAS” – uma elisão do meu prenome com o sobrenome, formando um sigla. Num instante, ali para meia dúzia de colegas de turma dei o grito: A partir de hoje eu sou o CLEVIEGAS! A esse tempo eu já ensaiava pequenos e esparsos artigos no Jornal Pequeno e o próximo, então, já saiu assinado: “CLEVIEGAS”. Tornei-me assim, para tudo e para todos, um cara conhecido por CLEVIEGAS. Isso faz só uns 44 anos.
A esse mesmo tempo estudantil, inseguro e indeciso na vida, usei como logomarca pessoal o rabisco de um BARCO ou... uma jangada. E sentia-me na vida como que uma jangada sob as ondas revoltas, à procura de um porto. Era como eu dizia. E fui tocando... Tanto assim que a minha rubrica (assinatura) até hoje guarda as características e contornos de um barco. Empolgado e envolvido com esse barco, ao mesmo tempo que publicava os meus textos no Jornal Pequeno, criei então uma jangada e mandei fazer o meu clichê, quer dizer o meu retrato com que assinava os meus temas no jornal. Fiquemos por aqui, para depois retomar esse “retrato”.
Ao chegar em Imperatriz, algo como seis anos depois, trazendo na bagagem e nos ombros o Cleviegas, iniciei no Jornal o Progresso, então de Seu Vieira, com a coluna VISÃO GERAL, assinando com a velha e “patenteada” marca: Cleviegas. VISÃO GERAL, se me permitem, conquistou o seu lugar. No contrapeso, porém, vinham fuxicos, fofocas, queixumes, reclamações e outros babados, de todas as direções. E aí o que vi era Cleviegas pra cá, Cleviegas pra lá. E isso me incomodava, pois a minha imagem de “operário do direito” se desgastava à guisa do codinome no que resolvi, então, acabar com CLEVIEGAS. E, da mesma forma que o criei, tão singularmente o arquivei.
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Fiquei em O PROGRESSO de Seu Vieira, de 1.973, até quando o jornal passou para novas mãos. De saída, quer dizer, de chegada, aqui aportou um decano jornalista de velha cepa, sanluisense, MOREIRA SERRA, que veio botar ordem na casa, dar nova dimensão à publicação e... revolucionar o novo jornal que ali se implantava sob novo signo e nova direção. A esse tempo eu, qual um rato de praia, vivia dentro do jornal. Então o jornal era a minha praia. Nessa praia, algo como dois dias depois encontro-me ali com o Sr. Moreira Serra, o novo caput da edição, comandante em chefe e editor supremo e temporário. Qual o meu pai, em suas travessias nos barcos da vida, apresentei-me ao novo editor, como o titular-subscritor da COLUNA VISÃO GERAL. Rápido, Moreira toma a última edição do jornal e leu a minha coluna de ponta a ponta.
Quem escreve constante guarda na convicção a certeza de que o escriba tem altos e baixos, ora está melhor, ora... nem tanto. Naquela edição, para o meu convencimento, eu estava no pique. Estava bem situado. E então MOREIRA SERRA, o menestrel do momento, dirige-me a palavra. E eu, na boa e na lição do meu avô, encarei-o olho no olho! Disse-me Moreira Serra: “Sua coluna está ótima, não tem o que botar nem tirar. Jornalismo moderno é isso aí”. Carambas! Senti-me nas nuvens e então levitei no ar. E eu colaborador de mãos vazias, pensei: “O meu ‘emprego’ está garantido”. Emprego vírgula, maneira de falar. E fui dormir o sono dos justos. No dia seguinte, no entanto, eu, que estava levitando, pisei ao chão. E recebi “bilhete azul”. E estava “desempregado”. E... adeus VISÃO GERAL. E hibernei no peito e na mente, aquele “foca” do jornalista que trago comigo durante uma vida. E sepultei sonhos, ideais, vãs aspirações. Sepultei também o anseio e o riacho do jornalismo que sempre jorrou em mim. E lá se foram sete... oito... “n” anos. E enterrei os meus “talentos”.
A palavra de Deus, porém, nos ensina que não devemos enterrar nossos talentos, os nossos dons. E, quem assim o faz, é um servo mau e preguiçoso. E então, qual uma FÊNIX, ressurgi das cinzas e estou nesta coluna – bem ou mal – faz mais cinco anos, cativo e semanal, naturalmente pelo aceite da direção e pelo acatamento do editor Coriolano-Coló Filho, a quem sempre mando um “bilhete”, com o texto on-line, a quem peço e declaro-me honrado pela publicação.

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O sangue do foca-de-jornalismo que corre nas veias deste signatário desde a sua juventude, leva-o a publicar seus temas também no rádio. Outra praia por onde começou e morejou o jovem CLEVIEGAS. Assim é que recentemente nas crônicas, no rádio, onde assino em viva-voz o quadro RÁDIO VERDADE / NATIVA-FM, coloquei-me num e noutro tema em observação dos fatos como “o olhar de um pássaro sobre o galho”. E isso foi referência a mim mesmo como “intérprete” e questionador do social no dia-a-dia. E se me permitem, gostei da ideia e da imagem e do ideal em-mim-mesmado, do “olhar de um pássaro sobre o galho”.
De sorte assim que, doravante, sem a intenção de publicar o meu retrato nesta coluna - envelhecido pelo tempo - mas numa parábola àquele meu retrato envolvido na jangada (no barco) que fiz e até hoje faz a minha assinatura, doravante então, a me permitir a direção, desejo publicar o clichê de “um pássaro sobre o galho”, que a mim representará como o olhar deste cara, de olho no social. E eu que tenho o “jornalismo” no sangue; sangue com que assino o velho refrão: “Viegas questiona o social”, ele mesmo de “o mundo dá voltas e a vida continua”. Agora, o questionamento do social haverá de estar refletido em CAMINHOS POR ONDE ANDEI, com o clichê de “o olhar de um pássaro sobre o galho”.

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Viegas é esse “olhar do pássaro sobre o galho”. Um questionador do social. Email: viegas.adv@ig.com.br