Era moleque e já ouvia dizer que “ovo não briga com pedra”. E nessa luta do rochedo contra o mar - uma briga de vira-latas a gente vê todo o dia por aí. Estão aí os tribunais da vida, os juizados de pequenas causas. Mas uma briga de CACHORRO GRANDE, embora tenha todo o santo dia, não é todo santo dia que a gente vê nos arrabaldes uma briga de cachorro grande.
E se na briga entre vira-latas saem foiçadas, mordidas e latanhadas, escândalos e gritos no ar e brigam por causa de ossos secos, centavos e tostões, na guerra entre cachorros grandes, os motivos e as armas são outras; o buraco é mais embaixo. Aqui a guerra envolve fortunas, interesses maiores ou até mesmo meras opiniões.
- Faz algum tempo e vimos por aí uma briga de cachorros grandes. Os helicópteros cruzaram no ar. A dinheirama, a influência do vil metal, e tráfico de influência na sujeira da política suja e tudo o mais alastraram-se pelo chão, voaram pelos ares, também cortaram os mares. Enquanto isso, os cachorros pequenos que se meteram pelo meio uns sobraram para os urubus e outros em caixões de madeira, foram para sete palmos debaixo do chão. E tome briga de cachorro grande!!!
Enquanto o vira-lata mofa na cadeia, por uma bagatela, um cigarro de maconha, um celular, um botijão alheio ou roupa de varal, CACHORRO GRANDE consegue A LIBERDADE (um papel pelo qual não pode ser preso), assim num piscar de olhos - de um dia para o outro. É impressionante certas prioridades e acessos e o poder da dinheirama e o tráfico de influência dos CACHORROS GRANDES.
Enquanto isso, nos porões das superlotadas e desumanas cadeias públicas por aí em que filho chora e mãe não vê, os vira-latas torram-se ao desespero e à desgraça - ora submetidos aos “chefes” e aos “parceiros” das celas; ora às infindáveis prisões. Para os vira-latas, um alvará de soltura, por exemplo, pode demorar um ano, dois anos, três anos, uma vida. Mas para um cachorro grande, um alvará de soltura pode ser uma questão de minutos, um punhado de dinheiro ou... uma conversa ao pé do ouvido. Estão aí os noticiários da TV. Ou não. Ei bicho que compra a sorte, que paga a sorte! Ei bicho que tem sorte! É o cachorro grande!!!
- E nessa luta do rochedo com o mar morrem os vira-latas e salvam-se os CACHORROS GRANDES. Afinal, não foi à toa que eles chegaram lá. Ou será que foi pelos recônditos soturnos e proibidos? Ei bicho que compra a sorte! Que paga a sorte! Ei bicho que tem sorte! É o cachorro grande!!!

A GREVE DOS POLICIAIS MILITARES

A Associação dos Cabos e Soldados da PM é um braço da democracia; é uma veia da democracia. E o espírito corporativista (o corporativismo) faz parte da sociedade civil organizada e estimula os valores democráticos. Até aí tudo bem!!! Recentemente os policiais militares entraram em greve, mas por um motivo (ou um aceno) não sei das quantas, logo suspenderam o movimento e voltaram aos quartéis e silenciaram a zoada, como que à espera de algo prometido. Agora, certamente porque a promessa não se cumpriu, cabos e soldados e bombeiros militares e outas patentes voltam ao ataque, persistem na GREVE e pleiteiam melhoria salarial.
- A luta dos oprimidos pela sua redenção é justa. O direito de lutar por melhorias é natural do ser humano. O direito de greve é assegurado pela constituição federal aos trabalhadores da nação. Mas... mas... essa mesma constituição em seu art. 142, § 3º, item IV, deixa claro: “Ao militar são proibidas a sindicalização e a greve”.
Vejo a greve das arquibancadas, isto é, das gerais. E encaro a coisa como uma luta do obreiro; o exercício de um direito. E greve é cruzar os braços, é não trabalhar. Greve é a reivindicação articulada de direitos da categoria. É reivindicação das perdas salariais e outras frustrações. E mesmo que se trate de um “serviço essencial”, como é o caso da PM – entendo então todo o serviço público é essencial. E por que então distinguir os militares dos servidores do Judiciário? Ou da Previdência, por exemplo? Todos os serviços públicos são essenciais. E qual deles não é?
- Agora, por conta da greve, os policiais fecharam por duas vezes a rodovia federal, sujeito a tantas outras quantas assim entenderem - numa afronta à lei, à ordem e à segurança. Tudo isso na cara (na cara) das autoridades que não fizeram nada! E, inertes, deixaram a banda passar. Isso é baderna, isso é anarquia. Baderna é uma palavra grave, de repúdio, nos meios militares. Anarquia é a ausência da hierarquia. E a hierarquia é ouro na ordem e no comando militar. Hierarquia é a essência do serviço militar. Ouso pensar.
A justiça estadual já declarou em liminar que a greve é ilegal e estipulou multa de duzentos reais por dia a cada grevista. Então os grevistas já começaram perdendo o jogo de quatro a zero, no primeiro tempo. Em meio a essa zoeira, o governo e o alto comando militar em nota oficial fizeram como que a última chamada: os ou policiais voltam aos quartéis ou inicia-se o processo de deserção. Desertor e desertar - em matéria de quartel - é uma espécie de “crime da mala”. Então de três uma: ou o governo segura a corda e aplica a punição. Ou os militares se rendem e voltam aos quarteis. Ou... a dupla encontra uma solução aí pelo meio do caminho. Mas não nos enganemos: isso é como uma novela mexicana que a gente já viu outra/s vez/es. E então vamos ver onde, como e quando vai terminar o espetáculo.
(textos do autor publicados, semana passada, no quadro RÁDIO VERDADE, no rádio/FM)

* Viegas é esse olhar do pássaro sobre o galho.
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