Clemente Viegas

Clemente Viegas

O GÊNIO DA LÂMPADA ou... o príncipe encantado

Era meados de 1975, faz 36 anos. Eu ainda engatinhava os primeiros passos na profissão. Era manhã quando o telefone tocou. Um amigo me indicava uma cliente. Uma hora depois, chega ao nosso trabalho uma distinta senhora, nada de se jogar fora, que eu já sabia ser uma viúva, na entressafra da viuvez. Ainda ressentida com a perda do marido e, como ninguém é de ferro, até que ela toparia um “free lance” com um vizinho da frente, bacana, endinheirado, gentil, amistoso e cordial, mas este um tremendo garanhão, mil mulheres à sua disposição, derramando pelo ladrão, ...

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OS MISTÉRIOS DA MENTE

Viegas*

Sempre que Estou de volta à minha terra natal, na Baixada do Maranhão, o que, ultimamente, tenho feito com predestinada insistência, costumo ouvir ao longo do trajeto músicas para espantar a monotonia do estradão, em longas quase doze horas de viagem. E vou ouvindo os cantores da terra – esses que estão à margem do raio-soçaite cultural justo para manter-me ligado a esta Imperosa de todos nós. E lá vou eu ouvindo Ostérnio, Pedro Bispo, Francis Neto, Raimundo Paulino e outros da mesma raiz. Nesse devaneio, vou tecendo na mente o trânsito da ...

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Jirau

*Viegas

Jirau. Sabe você o que é um jirau? Ouso traduzir que o jirau é uma geringonça dos tempos da escravidão. Um depósito, uma mais-que-segura plainada em caibros roliços ao teto da casa de palha, amarrados em cipó que, protegido pela altura, o roceiro estoca(va) víveres destinados ao alimento da família: arroz, feijão, farinha, tapioca, peixe-seco e outros. Meu avô tinha um jirau cheio de fartura. E não tinha aperreio. Aprendi com ele o ofício e a função do jirau. Tantas vezes eu de férias e de passagem pelo caminho e bem ali a ...

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Do outro lado da cidade - depois da ponte

Do outro lado da cidade (depois da ponte) tem um povo, tem uma gente. Refiro-me ao Estado do Tocantins – sua gente, seus costumes, seu comportamento, sua vida. O Tocantins... em particular o “bico do papagaio” é nosso vizinho, é nosso amigo e sua gente “é gente da gente”. O “bico”, por sua vez, tem em Imperatriz uma grande fonte de sustento, de intercâmbio comercial, de negócios; de profissionais das mais diversas áreas, dos cursos de educação técnica e superior - enfim: Imperatriz é um oxigênio que dá vida a esse antigo pedaço que separou-se do velho ...

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RETRATO DA VIDA

(Este tema vai para Antônia e para os pais de Antônia)
Antônia é uma jovem de 45 anos. Tem corpo de 13, 14 anos e tem a mente de quem tem quatro anos, cinco anos. Antônia é uma deficiente física e mental. Ela vive ora no colchão da cama, ora engatinha pelo chão como criança – e, quando sai à rua, vai naquele seu carrinho de bebê, conduzida pela sua mãe. Antônia, como toda menina, gosta de boneca. Tem a sua boneca preferida que dela faz uma banda do seu mundo. Sente-se mãe, conversa com seu ...

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“PISADEIRA”

Viegas*

Noite dessas, o sono se foi e eu fiquei rolando na cama. E quando procuro a companheira, cadê? Tal como o sono que se foi, ela também não estava comigo. Mas logo fiquei quieto; imaginei que a consorte estaria na casa de sua mãe, ali bem perto. E fui conciliando comigo mesmo. Mas a esse instante o meu irmão, em pelo, entra no quarto. Estranho! Em meio a meus irmãos, isso não existe. Recomeça o meu mau humor, mas um pássaro na gaiola põe-se a trinar e o seu canto aos poucos me ...

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Clemente Viegas

Viegas, Clemente Barros. (São Clemente papa e mártir). CLEMENTE vem do Almanaque de Bristol, antiga publicação do laboratório farmacêutico. Estudou as primeiras letras na escola da palmatória e dos joelhos ao chão, no sertão. Concluiu o curso primário (na terra natal), no tempo em que a escolaridade era levada a sério. Foi menino de recado e de mandado. Nos cursos Secundário e Técnico no internato da Escola Federal, onde ingressou via do “Exame de Admissão”. Cursou Direito, num tempo em que não havia celular, nem internet, nem FIES, nem as vantagens atuais. Não tinha livros, escrevia em papéis avulsos, taquigrafava as aulas ao verbo dos professores. Morou em casas de estudantes e cortiço, andava a pé, driblou o bonde, poucas roupas, curtiu a “Zona” e jamais dirá que “comeu o pão que o diabo amassou”. Trabalha desde os cinco anos, com intervalo dos onze aos vinte anos. Está na casa dos 73. Não brincou quando criança ou adolescente e na vida adulta tem três brinquedos que os leva a sério: 1 - Escreve a coluna CAMINHOS POR ONDE ANDEI; 2 - Escreve a crônica PÁGINA DE SAUDADE, Rádio Mirante/AM, domingos, há mais de dez anos; 3 - Tem uma “rádio”, com antena de 300 mm de altura, 1.000 a 1500 mm de alcance, com dois ou três ouvintes que, como você vê, “um que pode ser você”. É o rastro e a sombra de si mesmo. É o filho que veio e os pais que se foram. Superou milhares de concorrentes para nascer. É mais um na multidão e considera-se a escrita certa por linhas tortas, na criação do CRIADOR. Cumprimenta os seus interlocutores com votos de “saúde”! E diz aos semelhantes todos os dias que “...a vida continua”. (•) Viegas questiona o social. e-mail: viegas.adv@ig.com.br