(Este tema vai para Antônia e para os pais de Antônia)
Antônia é uma jovem de 45 anos. Tem corpo de 13, 14 anos e tem a mente de quem tem quatro anos, cinco anos. Antônia é uma deficiente física e mental. Ela vive ora no colchão da cama, ora engatinha pelo chão como criança – e, quando sai à rua, vai naquele seu carrinho de bebê, conduzida pela sua mãe. Antônia, como toda menina, gosta de boneca. Tem a sua boneca preferida que dela faz uma banda do seu mundo. Sente-se mãe, conversa com seu brinquedo, faz carinho, bota pra dormir. Dá boa noite. Essa é Antônia, 45 anos com mente de criança.
Antônia é uma criatura inteligente, acima da média – que surpreende e agrada a seus pais. Ela tem hábitos próprios. E não come sem antes tomar banho. Isso, nunca! E, numa linguagem que só os seus pais entendem, ele fala tudo, conversa tudo, manifesta-se em tudo. Antônia é também dependente em tudo. Até para comer. E quando tenta comer com a colher, inverte a colher e tudo vai ao chão. É quando Antônia se aborrece. E no dia a dia da vida, Antônia tem a assistência e o carinho dos seus pais (da sua família), durante as 24 horas do dia.
Antônia é uma criatura mansa, meiga, amável, carinhosa. Que não dá problema. É uma boneca que brinca com sua boneca; que sente-se mãe diante da filha; que põe a sua filha-boneca para deitar e para dormir – tudo com carinho e com a linguagem – e de uma criatura que aos 45 anos com um corpo de 13, 14 anos e a mentalidade de quem tem quatro, cinco anos. E nós outros, aqui correndo e andando; pulando, falando e berrando, trabalhando ou brincando, ganhando dinheiro – deitando e rolando e ainda lamuriando da vida. Obrigado Senhor, pela vida da Antônia. Obrigado Senhor, por mais um dia. E pela oportunidade e pelo intelecto que nos dá para revelarmos mais este – RETRATO DA VIDA...

* Viegas é advogado e questiona o social.
Email: viegas.adv@ig.com.br