Certo dia estava descansando em uma rede estendida na varanda de minha casa quando percebi alguns pedaços de capim envoltos de minúsculas folhagens secas caídas no chão da varanda. Ao vistoriar o local a fim de descobrir a origem da "sujeira", percebi que em cima de uma pilastra, próximo ao telhado, estava um emaranhado de vegetação. De imediato e precipitadamente, conclui que se tratava de um "ninho-de-ratos". Para me livrar daqueles supostos "mal-vindos" hóspedes, limpei o ambiente e joguei-o fora. No dia seguinte, para minha surpresa, lá ...
Noite dessas, madrugada insone e eu, qual o meu pai, nas noites acordadas, punha a cabeça para girar. Nesse giro da mente, de repente me vi às voltas com as coisas de um tempo. Velho tempo. E nessa insanidade a que os lampejos da mente nos fazem voltar no tempo. Nesse devaneio, pude ver o quanto os tempos mudaram. Havia um tempo - naquela minha pequena cidade que eu conheci aos sete anos e os moleques iam para a escola na parte da manhã. Na minha cidade, naquela época, não havia emprego e os raríssimos assalariados ...
Toda e qualquer cidade que se preze tem lá sua "figuras" que compõem a vida no dia a dia e a sociedade marginal. São ébrios, esmoléus, deficientes físicos ou mentais; outros que carregam apelidos que o infernizam. Enfim, são os excluídos. Na minha terra natal, por exemplo, são incontáveis as figuras que fizeram e fazem o brasão dos rejeitos do social. Chico-cu-de-sapo, que nem mais se incomodava com a alcunha, deixou o apelido para os seus descendentes - filhos, netos, bisnetos. Vizinhos, até. Esperança-doida era provocada, abusada e humilhada pela molecada, por onde ia. Manoel João Fateiro, ...
Era final de ano. Festão da entronização dos novatos em clube fechado. Soma-se a isso as festas de fim de ano. Comida e bebida "no balde", na fartura, derramando. Para isso morreram bois, suínos, galináceos. Dinheiro escorreu. E aí já viu: tanta laranja madura, tanto limão pelo chão naquele banquete de ocasião. E eu lá, naquele meio de mundo do "Parazão", penetra de oportunidade, mas vestido na camisa de convidado. E, como sempre, de olho no social. Começa a solenidade, quer dizer o banquete. O chefe do clã vestia a camisa de mestre de cerimônia. Pediu ...
Todas as madrugadas, quando começo a minha rotina do dia, faço-o no "escritório" que adaptei ao terraço da minha casa, de cara para a rua. Ali ao lado, tenho antigos pés de açaizeiros que os plantei. Gosto de árvores e de sombras. E planto árvores e planto sombras nos lugares por onde vou. Sempre. Minhas moitas de açaí têm nomes que homenageiam as memórias dos meus ancestrais. Essas coisas de um cara que sou eu... Desse meu "escritório" de cara para a rua, na madrugada-indolente e quieta, por vezes agressiva e inclemente, volta e meia deparo-me ...
Cira de Mundico era filha de Mundico do Sertão - o senhor daquela imensidão de terras, negociante fechado, dinheiros guardados, um homem reservado, de conversa firme e aprumada; um homem rico para os padrões daquele meu lugar. CIRA era a "mais velha" daquela prole, também ensinava na escola do pai, em tempos de tabuada, palmatória, "traslado" e castigo. Ensino que ia té o "QUARTO LIVRO". Quis a sorte e o destino, CIRA tornou-se minha madrinha. Madrinha de Batismo; isso lá pelos meus dois anos de idade. Conta minha mãe que numa certa "mexição de farinha", no ...
Foi a derrama do dinheiro e um monte de frustrações, nestes tempos de eleição. Tema que fiz para o quadro RÁDIO VERDADE - Nativa FM - Programa Arimatéia Júnior. Não publicado por questão meramente "temporal". Terminaram as eleições (por aqui). Estamos em plena ressaca eleitoral. A lei desse mundo cão tem uma regra que diz que "...aos perdedores as batatas". Enquanto isso, com centenas de candidatos a vereadores que aqui tivemos, o que se vê agora é... "tanta laranja madura, tanto limão pelo chão...". A Câmara de Imperatriz, por exemplo, renovou em boa parte. Ótimo!!! ...
Por vezes eu fico cismando sobre esse dom da vida, essa faculdade que é a memória. A capacidade que temos de armazenamento de dados, informações, conhecimentos, fatos, cenas, imagens, nomes e tudo enfim. É incrível essa criação do CRIADOR DE TODAS AS COISAS. E nosoutros, alheios e indiferentes a tudo isso, geralmente nem nos damos conta de tantas riquezas e benesses que nos cercam a vida inteira. Abrindo passagem com o AGRADECIMENTO ao CRIADOR pela faculdade da memória é que lembro agora de FLORÊNCIO DE MUNDICO, com quem pelas via da escola, convivi na minha primeira idade ...
Viegas, Clemente Barros. (São Clemente papa e mártir). CLEMENTE vem do Almanaque de Bristol, antiga publicação do laboratório farmacêutico. Estudou as primeiras letras na escola da palmatória e dos joelhos ao chão, no sertão. Concluiu o curso primário (na terra natal), no tempo em que a escolaridade era levada a sério. Foi menino de recado e de mandado. Nos cursos Secundário e Técnico no internato da Escola Federal, onde ingressou via do “Exame de Admissão”. Cursou Direito, num tempo em que não havia celular, nem internet, nem FIES, nem as vantagens atuais. Não tinha livros, escrevia em papéis avulsos, taquigrafava as aulas ao verbo dos professores. Morou em casas de estudantes e cortiço, andava a pé, driblou o bonde, poucas roupas, curtiu a “Zona” e jamais dirá que “comeu o pão que o diabo amassou”. Trabalha desde os cinco anos, com intervalo dos onze aos vinte anos. Está na casa dos 73. Não brincou quando criança ou adolescente e na vida adulta tem três brinquedos que os leva a sério: 1 - Escreve a coluna CAMINHOS POR ONDE ANDEI; 2 - Escreve a crônica PÁGINA DE SAUDADE, Rádio Mirante/AM, domingos, há mais de dez anos; 3 - Tem uma “rádio”, com antena de 300 mm de altura, 1.000 a 1500 mm de alcance, com dois ou três ouvintes que, como você vê, “um que pode ser você”. É o rastro e a sombra de si mesmo. É o filho que veio e os pais que se foram. Superou milhares de concorrentes para nascer. É mais um na multidão e considera-se a escrita certa por linhas tortas, na criação do CRIADOR. Cumprimenta os seus interlocutores com votos de “saúde”! E diz aos semelhantes todos os dias que “...a vida continua”. (•) Viegas questiona o social.
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