A primeira casa da minha criancice, em terra alheia, naqueles rincões de um tempo, havia ao seu entorno algo como um antigo sítio frutífero mal-cuidado, do qual a gente não se tocava nem da beleza nem da riqueza, nem da nobreza que era aquilo. Ao lado direito da nossa casa, havia um "mangal"; à frente do outro lado do caminho, outro "mangal" entremeado de cacaueiros, cajazeiros tangerineiras e jaqueiras, porém o que me destacava ali, nas reminiscências de um tempo, era uma antiga mangueira de MANGA CAJÁ que situava-se à beira da caminho, irrompendo o terreiro daquela ...
Na velha Ilha de Maré, fica o Bairro do João Paulo. E neste, um trecho era conhecido por "RODO", onde o bonde fazia parada final e logo desenvolvia uma curva. E daí, o "rodo". Naquele trecho à beira da avenida principal, a mulherada se espalhava e fazia ponto na noite. O famoso "trotoar", a prostituição em meio de rua. De sorte assim que o RODO e o "buraco do tatu" era tudo ali mesmo. O rodo era o "ponto" de espera, ao passo que o "buraco do tatu" era o gueto das casinholas situadas em ruelas mais-que-apertadas ...
Longe se vão os anos cinquenta e a "Escola Sertãozinho", era uma página de ensino ao som da palmatória - herança do antigo e rude sistema de aprendizagem colonial. Ali sim: "escreveu não leu, pau comeu". Tudo simples - aprendia-se a ler, a escrever e "fazer contas". O estudo começava às sete e meia da manhã e estendia-se até ao meio dia, um horário sem relógio, avaliado pelo sol. E era - vênia em memória - como um coaxar de sapos na lagoa. Quem passava a pouco mais de cem metros podia ouvir ...
Mestre WADY SAUAIA foi um dos maiores luminares da ciência jurídica do Maranhão em todos os tempos. Dono de uma mente privilegiadíssima, o jovem Wadi interrompeu a escolaridade ainda cedo e só já rapaz voltou à escola. Em princípio, viveu as sendas do jornalismo e depois tornou-se bacharel em direito e daí por diante, de longe, um dos maiores pilares do direito civil e processual civil em todos os tempos que o Maranhão já conheceu. Advogado das grandes nomeadas. Mestre Sauáia, simplicidade em pessoa, calmo, discretíssimo, pacato ainda que na exterioridade, sabia tudo do direito e ...
ABRE PARÊNTESE: mando os meus textos deste CAMINHOS... para alguns amigos, entre eles o VAVÁ MELO, conterrâneo da minha Baixada, pesquisador inveterado, múltiplas láureas, fundador e presidente da Academia de Letras da minha São Bento-natal. No seu recente livro APONTAMENTOS PARA A LITERATURA DE SÃO BENTO, VAVÁ me homenageia às fls. 160 a 163, com a inserção do texto abaixo - faz tempo, publicado neste CAMINHOS POR ONDE ANDEI. Obrigado Vavá, por você existir. FECHA PARÊNTESE.
Naquele esticadão de meio de mato e fim do mundo, o povo se virava mesmo era na roça ...
Havia um tempo e esta Imperosa de todos nós era uma enseada infestada de serrarias, oficinas de marcenaria e, cá pra nós, cabarés por todos os lados. Também para completar esse quadro caótico de poluição, vinham as chuvas e alagavam senão toda mas pelo menos parte da cidade. Vieram as "bocas de lobo" e com elas ou sem elas o drama permanece. Então esta nossa querida Imperosa era aquele drama-nosso: serrarias, marcenarias, cabarés, alagadiços... Tantas vezes me peguei conversando com os meus botões e dizia para a minha ingênua sandice: legal, né? Aqui por perto de ...
Tenho o compromisso cativo de fazer um texto semanal e enviar para esta coluna. Faço isso com fidelidade e pontualidade. Por vezes, assim como agora, não tenho pique, nem vontade, nem ideia, nem iniciativa, mas ainda assim tenho a consciência de que "compromisso é compromisso". E aí me viro, contorço-me e sinto-me na obrigação de ocupar o "meu lugar"; até porque, na lição da infância, "quem vai ao ar, perde o lugar". Lembra daquele padre que fez uma engenhoca de balões infláveis??? Saiu do seu lugar, foi ao ar e deu no que deu... Eu que ...
Já começa a se ouvir os primeiros zumbidos do que vem a ser a grande colmeia eleitoral. Qual um enxame de abelhas de olho nesse certamente doce e "maravilhoso mel", que é o erário público ou como nos velhos tempos - a "burra" - que é o cofre que guarda a riqueza que é a provisão do apiário. Abelhas são assim: eficazes em seus interesses, trabalham em silêncio, no fabrico do seu mel, mas chega um tempo (qual este tempo), assanham-se quando a sua colmeia é atingida por quem quer penetrar ou dividir-lhe o mel. E tornam-se ...
Viegas, Clemente Barros. (São Clemente papa e mártir). CLEMENTE vem do Almanaque de Bristol, antiga publicação do laboratório farmacêutico. Estudou as primeiras letras na escola da palmatória e dos joelhos ao chão, no sertão. Concluiu o curso primário (na terra natal), no tempo em que a escolaridade era levada a sério. Foi menino de recado e de mandado. Nos cursos Secundário e Técnico no internato da Escola Federal, onde ingressou via do “Exame de Admissão”. Cursou Direito, num tempo em que não havia celular, nem internet, nem FIES, nem as vantagens atuais. Não tinha livros, escrevia em papéis avulsos, taquigrafava as aulas ao verbo dos professores. Morou em casas de estudantes e cortiço, andava a pé, driblou o bonde, poucas roupas, curtiu a “Zona” e jamais dirá que “comeu o pão que o diabo amassou”. Trabalha desde os cinco anos, com intervalo dos onze aos vinte anos. Está na casa dos 73. Não brincou quando criança ou adolescente e na vida adulta tem três brinquedos que os leva a sério: 1 - Escreve a coluna CAMINHOS POR ONDE ANDEI; 2 - Escreve a crônica PÁGINA DE SAUDADE, Rádio Mirante/AM, domingos, há mais de dez anos; 3 - Tem uma “rádio”, com antena de 300 mm de altura, 1.000 a 1500 mm de alcance, com dois ou três ouvintes que, como você vê, “um que pode ser você”. É o rastro e a sombra de si mesmo. É o filho que veio e os pais que se foram. Superou milhares de concorrentes para nascer. É mais um na multidão e considera-se a escrita certa por linhas tortas, na criação do CRIADOR. Cumprimenta os seus interlocutores com votos de “saúde”! E diz aos semelhantes todos os dias que “...a vida continua”. (•) Viegas questiona o social.
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