O meu velho pai, ainda no calor dos seus anos de fôlego, tonou-se "vendedor ambulante", uma atividade da qual se orgulhava, até porque nesse labor ganhou algum dinheiro, respirava financeiramente melhor, sem nunca perder o caminho da roça - tanto ele quanto a família. E, com aquele seu reluzente dente de ouro e aquele sorriso proposital e maroto, comia a quem encontrava pela frente. O meu pai, então, quando dessa viagens, costumava sempre trazer para casa alguma novidade. Foram tantas! Numa delas trouxe uma máquina de costura para minha mãe. Era como se ali descobrisse a ...
Era final de ano daquele ano, da década-50. Eu tinha lá meus sete, oito anos de idade e cheguei de férias à casa paterna. E o que vi naqueles dias foi um sofrimento, alvoroço das pessoas a caminhos de poços (de cacimbas) distantes com pequenas vasilhas em busca de água, que as mulheres e homens carregavam na cabeça e nos ombros. Entrei nessa procissão e saí à cata de água. Era um tempo em que as pessoas levantavam-se ainda na madrugada para encontrar pequenas porções de água, que se formavam dentro do poço, durante a noite. Era ...
Lembra-se você daquele texto que aqui retratei, semana passada, em face de uma cadela que se postava deitada na escadaria de acesso daquela repartição? Lembra? Ela mesma, no cio e ao lado o seu companheiro, um cachorro vadio? Lembra? E ambos compunham aquele retrato nada compatível ao recinto, mas empurrados que foram pelo abandono e pela indigência a que se veem submetidos. Lembra? Diz o texto entre outras coisas o seguinte: "ELA está inerte, imóvel, com um olhar apagado. Como se olhasse e não visse; Indiferente a tudo e a todos que passam ao seu lado, ...
Era uma manhã ainda meio sombria destes tempos primaveris. O sol no horizonte ainda se espreguiçava, num exercício de alongamento, prometendo para logo mais ir chegando e chegar abrasando os seus súditos cá no chão, com o seu calor. Lá adiante - que me perdoe a natureza - um falso ipê-roxo, com suas flores arroxeadas sobre uma copa entre achatada e alongada. Digo falso porque o homem sentiu-se ao direito de bulir na essência natural, transformando um original num "genérico", segunda via. E então o que era um ipê-roxo com sua copa aluarada, virou uma copa "achatada ...
Era o ano de 1.973 quando cheguei por aqui. Era eu estranho, numa cidade estranha. Tudo estranho por aqui. Por vezes, no silêncio das noites acordadas, chorava sozinho. Aprendi que é preciso sofrer para resistir. Naquela época, isto aqui era um cavalo bravo, um risco, um corisco. Nomes fortes que ditavam a vida e a sorte. Eu falo de Imperatriz, no contraponto - na outra ponta - do "Maranhão do Norte". A cidade estava em construção. Nova Imperatriz era uma cidade dentro da cidade; Bacuri, outra cidade dentro da cidade. Na época serrarias, arrozeiras e depois ...
No domingo passado, exibi neste CAMINHOS... um "documentário" traduzido em áudio e vídeo que são fatos e fotos de pessoas que são vistos e ouvidos por este "fotógrafo" do social. Uma dessas "fotos" deixou de compor as ilustrações que integram a "vida de cão" na ótica e nas lentes deste questionador do social. Vejamos o retrato. Bem ali, de quando em vez - na porta ou no portão do meu trabalho bate uma mulher. Ela deve ter seus trinta anos. É uma morena, um tipo razoável ao trabalho que encara a vida pedindo a um e ...
No domingo passado, exibi neste CAMINHOS... um "documentário" traduzido em áudio e vídeo que são fatos e fotos de pessoas que são vistos e ouvidos por este "fotógrafo" do social. Uma dessas "fotos" deixou de compor as ilustrações que integram a "vida de cão" na ótica e nas lentes deste questionador do social. Vejamos o retrato. Bem ali, de quando em vez - na porta ou no portão do meu trabalho bate uma mulher. Ela deve ter seus trinta anos. É uma morena, um tipo razoável ao trabalho que encara a vida pedindo a um e ...
Volta e meia revelo aqui o que interpreto como RETRATOS DA VIDA. São fotografias da retina e da mente deste inveterado questionador do social. São fotos em preto e branco e à distância; outras tomadas em corpo presente - ao vivo e em cores; ao passo que outras são como uma fita - com áudio e vídeo. E então vamos às páginas deste documentário, na visão deste fotógrafo do social. Página 01 - Sou um imperdoável frequentador das feiras livres. Gosto de ver o multicores e imaginar o sabor de tudo ali. E vejo frutos, hortaliças, ...
Viegas, Clemente Barros. (São Clemente papa e mártir). CLEMENTE vem do Almanaque de Bristol, antiga publicação do laboratório farmacêutico. Estudou as primeiras letras na escola da palmatória e dos joelhos ao chão, no sertão. Concluiu o curso primário (na terra natal), no tempo em que a escolaridade era levada a sério. Foi menino de recado e de mandado. Nos cursos Secundário e Técnico no internato da Escola Federal, onde ingressou via do “Exame de Admissão”. Cursou Direito, num tempo em que não havia celular, nem internet, nem FIES, nem as vantagens atuais. Não tinha livros, escrevia em papéis avulsos, taquigrafava as aulas ao verbo dos professores. Morou em casas de estudantes e cortiço, andava a pé, driblou o bonde, poucas roupas, curtiu a “Zona” e jamais dirá que “comeu o pão que o diabo amassou”. Trabalha desde os cinco anos, com intervalo dos onze aos vinte anos. Está na casa dos 73. Não brincou quando criança ou adolescente e na vida adulta tem três brinquedos que os leva a sério: 1 - Escreve a coluna CAMINHOS POR ONDE ANDEI; 2 - Escreve a crônica PÁGINA DE SAUDADE, Rádio Mirante/AM, domingos, há mais de dez anos; 3 - Tem uma “rádio”, com antena de 300 mm de altura, 1.000 a 1500 mm de alcance, com dois ou três ouvintes que, como você vê, “um que pode ser você”. É o rastro e a sombra de si mesmo. É o filho que veio e os pais que se foram. Superou milhares de concorrentes para nascer. É mais um na multidão e considera-se a escrita certa por linhas tortas, na criação do CRIADOR. Cumprimenta os seus interlocutores com votos de “saúde”! E diz aos semelhantes todos os dias que “...a vida continua”. (•) Viegas questiona o social.
e-mail: viegas.adv@ig.com.br