Era final de ano daquele ano, da década-50. Eu tinha lá meus sete, oito anos de idade e cheguei de férias à casa paterna. E o que vi naqueles dias foi um sofrimento, alvoroço das pessoas a caminhos de poços (de cacimbas) distantes com pequenas vasilhas em busca de água, que as mulheres e homens carregavam na cabeça e nos ombros. Entrei nessa procissão e saí à cata de água. Era um tempo em que as pessoas levantavam-se ainda na madrugada para encontrar pequenas porções de água, que se formavam dentro do poço, durante a noite. Era um tempo penoso, uma vida penosa. Por vezes as pessoas "raspavam" o fundo do poço, tal a penúria que era a falta de água, naquele ano.
As pessoas andavam em comboio à procura de água. E então havia solidariedade e compreensão. As pessoas dividiam a pouca água que encontravam que mal dava para beber. Por vezes, faziam plantão à beira do poço, esperando formar pequena porção do líquido. E anoiteciam e amanheciam nessa peleja. Era uma água "toldada", poluída, misturada com a terra raspada ao fundo. Ainda me lembro daquele domingo à tarde, quando o povo daquela minha vizinhança saiu pelos caminhos, rezando aqueles benditos tristes, de sua fé, invocando a São Sebastião e a São José pedindo chuva para o nosso sertão.
E quando o meu velho Lua cantou PROCISSÃO, eu vi e ainda vejo e ouvi e ainda ouço aquela seca e o sofrimento da minha gente e a procissão pelos caminhos em que as pessoas cantavam BENDITOS, pedindo a provisão divina e clamando chuva para o alívio daquela minha gente. E como a saudade é sempre um sentimento DE LEMBRANÇA e recordações tantas que tangem as cordas do nosso coração, ainda que no amor ou na dor - é essa, hoje, a minha PÁGINA DE SAUDADE.
" Viegas é "baixadeiro" (nativo da Baixada do Maranhão) e questiona o social. Email: viegas.adv@ig.com.br
Edição Nº 14535
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