Dia desses, minha mulher foi convocada a prestar depoimento na Delegacia de Polícia, sob o apontamento de que fora a última pessoa a estar com a vítima. Solidário, acompanhei-a até a delegacia. Na delegacia, naquele “cacete” de espera que a gente costuma enfrentar, resolvi procurar o que fazer. E saí à procura de um computador desocupado, onde redigiria um texto para estes... CAMINHOS. Logo ali perto a Prefeitura e imaginei: ali o local ideal para encontrar um computador desocupado. Afinal, escrever um texto isso não é prejuízo para ninguém! Vi, porém, que no térreo não havia ...
“Boate”. Boate, entre nós, é coisa do tempo das Capitanias Hereditárias, quando o Rei de Portugal dividiu o Brasil para uns poucos amigos do peito. Boate antigamente era outra coisa, escrevia-se “boite”, do francês. Ainda me lembro daqueles dias, quando a palavra “boate” guardava um sentido pejorativo; era quase uma palavra proibida. Objeto do preconceito social. Em família, boate era um palavrão, esconjurado até, em meio às pudicas. Lugar carregado, mal-fadado e mal falado. Boate naquele tempo era lupanar, casa de “mulheres de vida livre”. Boate era a encarnação do CABARÉ. Ambiente de puro sexo, orgia e ...
Fiz, para esta edição, um tema sobre a "descoberta" agora e só agora das boates e similares deste país, depois do tenebroso sinistro ocorrido com uma delas lá no sul, em que centenas de vidas foram ceifadas e outras tantas correm risco. Boates que vêm dos tempos das Capitanias Hereditárias, coisa vinda dos costumes de Portugal, até parece que agora estão sendo descobertas pelas "autoridades" do setor, depois do tsunami lá do sul. Coisa do Brasil de Cabral. Tive problemas com a transferência eletrônica do tema para a edição de O PROGRESSO mas, para não perder a ...
Com o crescimento da cidade, aluguel e tudo o mais nas alturas; um trânsito que nos deixa cada vez mais engessado e estressado, imóveis valendo fortuna multiplicada depois do surgimento da ponte e aquele loteamento gritando 24 horas aos nossos ouvidos, com prestações a perder de vista e uma escravidão pelo resto da vida, no foco da casa própria. E a cidade, novamente e simultaneamente, ganhou ares de um NOVO GARIMPO, um garimpo se renova a cada dia. Taí a explosão, um verdadeiro "pacote" de tudo a tudo. E, nessa leva, assaltos maiores e menores dando um ...
(texto anteriormente publicado, revisto e editado)
Naquele sertão em terras de roças de sobrevivência, de um analfabetismo devastador, de mãos tocadas a machado, foice e facão e matas de capoeirão, casas distantes umas das outras; por vezes uma "corrutela" aqui e outra lá no fim do mundo, sem uma única escola pública, sem estradas, num tempo em que ninguém ali conhecia TV e que o rádio era privilégio de uns poucos donos de casa em telha - o povo vivia de cabelo em pé, com as perversidades de "CURRUPIRO", cujo espírito-do-mau é conhecido noutras ...
É meio dia deste 24 de dezembro. A muitas léguas de distância pôde-se ouvir a girândola - doze dúzias de foguetes explodirem no espaço! Foi um eco estrondoso, barulhento e incomum que "Mãe Carolina" - preta velha, mãe, avó, bisavó e tetravó de gerações de negros retintos, todos criados e a costumados ali na beira, ela mesma que diz que "ainda pegou uma pontinha da escravidão", sofreu um susto danado e depois, aliviada, exclamando, comentou: - Meu filho intonsi qui eu pensava/ qui aquilo era o canhão do Imperadô!!! Pensava qui era ao mundo qui ...
Mateus, porém, não consegue esquecer-se por um só instante da grande festa que será realizada naquela noite na casa de seu MANÉ FOLHÁ, no lugar Baixa da Folha, animada pelo conjunto musical do primeiro sem segundo, o famoso Zé do Bule; o comentado e respeitado ZÉ DO BULHO, o maior “tucadô” daquele chão que já tocou no carnaval no CASINOl em São Luís e até no Rio de Janeiro. Famoso “até debaixo d’água”, principalmente agora que o ZÉ DO BULHO tá de rebeca nova, novinha em folha que custou setenta contos de réis, disso todos sabem. Ainda ...
Senhoras e Senhores... eu conheço um cara que quebrou coco; cercou, plantou e capinou; ele mesmo que passou por casas alheias, morou em repúblicas coletivas, em casas de estudantes, comeu em restaurantes estudantis. Lavou e engomou a própria roupa, ralou a pé, dormiu em colchões pelos quais passaram dezenas, ficava sempre em pé nas festas por onde ia, contraiu venéreas, driblou o bonde, vestiu roupas e calçou chinelos dos colegas. Foi aprendiz de alfaiate, cursou mecânica e desenho técnico. Não sabe apertar um parafuso nem fazer uma linha reta. Não sabe cantar, nem assobiar, nem joga bola. ...
Viegas, Clemente Barros. (São Clemente papa e mártir). CLEMENTE vem do Almanaque de Bristol, antiga publicação do laboratório farmacêutico. Estudou as primeiras letras na escola da palmatória e dos joelhos ao chão, no sertão. Concluiu o curso primário (na terra natal), no tempo em que a escolaridade era levada a sério. Foi menino de recado e de mandado. Nos cursos Secundário e Técnico no internato da Escola Federal, onde ingressou via do “Exame de Admissão”. Cursou Direito, num tempo em que não havia celular, nem internet, nem FIES, nem as vantagens atuais. Não tinha livros, escrevia em papéis avulsos, taquigrafava as aulas ao verbo dos professores. Morou em casas de estudantes e cortiço, andava a pé, driblou o bonde, poucas roupas, curtiu a “Zona” e jamais dirá que “comeu o pão que o diabo amassou”. Trabalha desde os cinco anos, com intervalo dos onze aos vinte anos. Está na casa dos 73. Não brincou quando criança ou adolescente e na vida adulta tem três brinquedos que os leva a sério: 1 - Escreve a coluna CAMINHOS POR ONDE ANDEI; 2 - Escreve a crônica PÁGINA DE SAUDADE, Rádio Mirante/AM, domingos, há mais de dez anos; 3 - Tem uma “rádio”, com antena de 300 mm de altura, 1.000 a 1500 mm de alcance, com dois ou três ouvintes que, como você vê, “um que pode ser você”. É o rastro e a sombra de si mesmo. É o filho que veio e os pais que se foram. Superou milhares de concorrentes para nascer. É mais um na multidão e considera-se a escrita certa por linhas tortas, na criação do CRIADOR. Cumprimenta os seus interlocutores com votos de “saúde”! E diz aos semelhantes todos os dias que “...a vida continua”. (•) Viegas questiona o social.
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