Com o crescimento da cidade, aluguel e tudo o mais nas alturas; um trânsito que nos deixa cada vez mais engessado e estressado, imóveis valendo fortuna multiplicada depois do surgimento da ponte e aquele loteamento gritando 24 horas aos nossos ouvidos, com prestações a perder de vista e uma escravidão pelo resto da vida, no foco da casa própria. E a cidade, novamente e simultaneamente, ganhou ares de um NOVO GARIMPO, um garimpo se renova a cada dia. Taí a explosão, um verdadeiro "pacote" de tudo a tudo. E, nessa leva, assaltos maiores e menores dando um baile. E, na criminalidade... não digo mais nada.
Nessa leva - vejam as coisas cidade grande - surgiram malabaristas e palhaços nos sinais luminosos de trânsito. Pintam-se a caráter, aproveitam o sinal vermelho, trepam-se sobre pernas de pau, zigue-zagueiam seus malabares, sopram e engolem fogo e... depois passam o chapéu pelos primeiros carros à frente, à guisa de uns trocados, para em seguida zarpar quando acende o sinal verde. E eu, questionador do social, fico me interrogando sobre a corda bamba, a queda livre, a dura vida desses palhaços e malabaristas dos sinais de trânsito. No entroncamento da Getúlio Vargas com a Belém-Brasília, é o palco principal! Pois é! A cidade que se multiplicou depois da construção da ponte, além das "facilidades" no rumo da casa própria, tem dessas e outras por aí.
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Sexta-feira, manhã de um tempo nublado, começa o expediente e o trânsito já provocando arrepios, aí eu pensei: melhor andar um quilômetro a pé do que me esfregar para estacionar. Bem ali cruzamento da Dorvigal Pinheiro com a Alagoas, aquele palhaço! Outro palco! É um cara magricela, simpático até. Enverga uma calça que lembra uma contida bombacha e a camisa tem múltiplos retângulos multicores e um meião nas canelas, de tudo fazendo um estilo todo seu. Demostra traços leves e mesmo de cara pintada, mostra-se simpático. Faz o seu malabarismo e... passa o chapéu. Pela segunda vez para lamento meu, eu estava sem os trocados. Fiz-lhe em lamento, o gesto de "negativo", e ele aceitou tolerante, compreensivo, na boa. E prometi a mim mesmo que vou quitar-lhe os atrasados. Ora se vou. Estou devendo.
Trânsito caótico, oito e pouca da manhã e aquele palhaço, quando fecha o vermelho, deixa o frontal do trânsito e recolhe-se à calçada, à espera do sinal verde para o prosseguimento da aventura que é o seu ganha-pão. Enquanto isso, ele estica a mão e repassa a uma filha, que jazia sentada sobre a calçada, ao lado de uma esquelética mobilete da família, algo como uma ou duas moedas. A filha, ali no papel de CAIXA, uma compridinha, bem-comportada e magricela como o pai, recebe as moedas e guarda-as num bolso da roupa.
E lá vou eu, me virando no trânsito imprensado naquela manhã de tempo fechado, pensando naquele palhaço, no débito que estou devendo e sua sua pequena cria que ali servia de caixa e depositária e questionando quanto à sobrevivência neste chão que é o nosso vale de lágrimas. Vírgula, para uns, porque tem muita gente "nadando de braçada" em cima do erário, da dinheirama e coisa pública. Mensalão? Isso foi ocasional (incidental), dedo daquele Roberto Jefferson - coisa pra inglês ver, pura fichinha. E por tudo enquanto é canto... "derramando pelo ladrão". E o palhaço? O palhaço é o povo! Quer dizer, grande-maior parte do povo.
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E já que os palhaços entram em cena, na cidade do trânsito caótico, com lotes residenciais e suas mensalidades a "preço de ocasião" apontando para uma escravidão pelo resto da vida; cidade esta feita de sons-de-carro, coisa de louco (a lei fala em louco de todo o gênero), por vezes com ares de uma terra sem lei, por aqui tem outro palhaço - ele que se propõe a coover de "Maicon Jequison". Pinta a cara, roupa preta, paletó preto. Monta sobre uma bicicleta, sonzinho-furreca de propaganda-volante na garupa e lá se vai Maicon Jequison. Parece um cara fechado, solitário e não dá bola pra ninguém. Vive daquele personagem. Na dele, como sempre.
Dia desses, vi o Maicon Jequison e fiquei com pena dele. Era uma manhã de domingo na feira. Estava em frente a uma pequena loja, quiçá a mando desta. Roupa preta, paletó preto, cara pintada, som ligado com a música do original Jacksson, aquele que, segundo a lenda e a legenda, tinha lá seus atrativos por jovens do mesmo sexo e ainda assim queridinho e passagem livre por onde ia. Bem, mas isso não é o caso. Foi quando o personagem, nas firulas do seu papel, propunha-se a fazer diabruras de contorcionismo e rebolados e trejeitos e meneios sobre a sua genitália. Tudo sem graça, insosso e solitário. Sem um cristão-vivo, seu "fã", parado por perto a admirá-lo como bem assim é comum em semelhantes situações. E a cena exibia e lembrava um IDIOTA A CÉU ABERTO. São, enfim, os retratos da vida!
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E por falar em idiota a céu, eis que idiotices são coisas comuns neste chão de vestibulares de faz-de-conta e "universitários" de fachada e de oportunismo e mutretas mil por cima e por debaixo dos panos. E nesse criatório, tem coisas na mídia (por exemplo) que faz a gema da idiotice. É de lá de onde vêm, muitas vezes, os gametas e os cerebelos que fazem uns tantos.
Vi, dia desses, um "cantor" local, desses beira-Vila-Cafeteira cheio de ego e do falso brilho que é o meio, nos holofotes da TV. O cara dava estouvados solavancos ao microfone, rebolava, mostrava o traseiro insinuando sensualidade e cantava um pancadão que tinha dois refrões e só isso: traz o peito, traz o peito, traz o peito (infinitas vezes) e, em seguida, traz a bunda, traz a bunda, traz a bunda (outras tantas infinitas vezes). E quando eu pensei que o desastre estava terminando, vi em seguida que mal estava começando. E tome peito e tome bunda e tome peito e tome bunda no interminável "hit" do cantor. Cantor??? E eu ali vendo até onde iria o sinistro, o estrago, a miséria. Mas é como diria o jurado de ASTROS: "Se você não tem vergonha do que faz, eu tenho vergonha por você".
* Viegas questiona o social
Edição Nº 14615
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