Dia desses, minha mulher foi convocada a prestar depoimento na Delegacia de Polícia, sob o apontamento de que fora a última pessoa a estar com a vítima. Solidário, acompanhei-a até a delegacia. Na delegacia, naquele “cacete” de espera que a gente costuma enfrentar, resolvi procurar o que fazer. E saí à procura de um computador desocupado, onde redigiria um texto para estes... CAMINHOS.
Logo ali perto a Prefeitura e imaginei: ali o local ideal para encontrar um computador desocupado. Afinal, escrever um texto isso não é prejuízo para ninguém! Vi, porém, que no térreo não havia ninguém, então resolvi subir ao primeiro andar, onde também não havia ninguém. Logo ali ao concluir a escadaria encontrei uma sala com computador e tudo o mais, e então percebi que deveria ser a seção de engenharia, pois haviam plantas, desenhos, projetos, réguas, escalas - essas coisas.
E estou ali ansiando pelo texto, quando de repente chega o “engenheiro”! Aí o tempo fechou! - Que tu fazes aqui? Perguntou ele, soltando fumaça pelas narinas. - Nada, estou só querendo escrever um texto para a coluna que mantenho no jornal. - O quê??? Interroga ele, insinuando que eu queria roubar. Foi então quando justifiquei que não precisava roubar, que não estava roubando, nem intencionava roubar. Instala-se a polêmica.
Em seguida, o sujeito usa o celular e liga para a Polícia. Num minuto chega o policial e me conduz à Delegacia, para onde seguimos os três. No percurso, o “engenheiro” desaparece e então chegamos os dois – o policial e eu, ali conduzido e, evidentemente, humilhado. De cara, vejo uma fila à espera de atendimento e dezenas de outros tantos a esmo, espalhados na grande sala à espera da vez.
Apresentado que fui ao delegado como “o rapaz que foi encontrado na sala do “engenheiro” da Prefeitura”, a autoridade, calma e paciente, foi direto e reto: “Não vou te prender, nem abrir inquérito, nem TCO (termo circunstanciado de ocorrência), pois que se eu te prender vou te mandar para a cela dos jornalistas e lá é uma zoada dos diabos, um barulho dos infernos”. E me liberou. E fui embora, sob advertência de que poderia ser chamado oportunamente.
No caminho, quem me aparece? O engenheiro! Ele lia, ao papel, um texto que esqueci sobre sua mesa e que era a minha última coluna publicada nestes CAMINHOS. O cara lia extasiado, era como se me elogiasse e pedisse desculpa pelos transtornos ocorridos. De nada adiantava, eu estava transtornado...
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O mundo dá só umas voltas e nesses “casuísmos da vida” me encontro com o meu preclaro colega, advogado Dr. L., que de inopino, convida-me para uma diligência de cunho profissional na cidade de Marabá. Topei na hora! Conversa-vai conversa-vem e quando me dei por conta e ali mesmo estava na casa de um médico, amigo do Dr. L. Aproveitei o ensejo e queixei-me de algum incômodo da minha saúde. O médico deu uma aula sobre o assunto e, “in contitinenti”, aplicou-me um injeção, ali mesmo no recinto de uma grande sala que mais me pareceu uma varanda.
Chamou-me ali a atenção para um grande quadro fotográfico que havia em sua parede: pai e mãe ladeavam o filho do casal, um menino de seus doze anos, em pelo, este que tinha a cara do pai. Mas, até aí, tudo bem. De repente, o casal entrou em uma tórrida discussão. É que, ali mesmo na parede, havia um quadro fotográfico encoberto por uma toalha. A mulher queria pô-lo à descoberta, retirar a toalha. O marido contestava, questionava, não aceitava desnudá-lo. A mulher justificava que aquilo era um nu artístico; que era decente, razoável, bonito. O marido (o médico) opunha-se férreo a tudo isso.
Observei em seguida que a discussão era pura cena, mera provocação e que ambos aceitavam, sim, o nu artístico da esposa na parede. Foi quando o marido, aceitando os apelos da mulher, ambos à minha frente e ele pôs-se a retirar lentamente, suavemente, a toalha sobre o quadro, como que provocando-me suspense e expectativa, tensão. Foi quando, enfim, descerra-se o quadro! E lá estava a esposa nua em pelo e marido e mulher como que felizes em clímax, com a cena. A essa altura eu estava a mil megatons, qual o contato de placas tectônicas ao fundo do mar, despertando um tsunami com ondas quilométricas e provocando um desastre sem fronteiras. Foi quando, já saindo, vi que uma filha do casal, uma jovem de seus dezoito ou dezenove anos, varria a casa, igualmente nua em pelo. E só então vi que ali, naquela casa, a nudez era cultura e prática dos seus ocupantes.
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A essa altura, desfez-se a diligência para a cidade de Marabá. Saí dali cheio de interrogações, pensamento girando, mil conjecturas. Foi quando me lembrei de um fato. Naquela ilha a centenas de milhas, havia um casal. O marido era um médico, negro, famoso, fechado em copas. A mulher uma loura de tirar o chapéu, inteira, na dela, não sei.
Conta a lenda que nas madrugadas, quando o casal encontrava-se em “congresso conjugal”, havia entre ambos uma prática, isto é, uma sessão sado-masoquista em gritos e pancadaria. É que o negrão espancava a sua loura e esta em gritos despertava o sono e a atenção dos vizinhos. Um juiz que morava por perto tomou as dores e ligou para a polícia. Olha o drama! Só então a ilha ficou sabendo que a “violência” fazia parte da rotina congressual do casal. Nada de violência propriamente dita mas... de uma fantasia que o desviado erotismo enseja.
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Ufa! Ainda bem. Eu estava sonhando. Puro pesadelo! Mas que a lenda da “ilha” não era uma lenda. Mas... uma realidade e que, quando descoberto o enigma, passou a movimentar a libido da vizinhança.
* Viegas questiona o social
Edição Nº 14631
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