No domingo passado, exibi neste CAMINHOS... um "documentário" traduzido em áudio e vídeo que são fatos e fotos de pessoas que são vistos e ouvidos por este "fotógrafo" do social. Uma dessas "fotos" deixou de compor as ilustrações que integram a "vida de cão" na ótica e nas lentes deste questionador do social. Vejamos o retrato.
Bem ali, de quando em vez - na porta ou no portão do meu trabalho bate uma mulher. Ela deve ter seus trinta anos. É uma morena, um tipo razoável ao trabalho que encara a vida pedindo a um e a outro. Da última vez que a vi, ela estava razoavelmente bem vestida, alinhada. Ela exerce uma forma diferente de "atacar" as pessoas no seu ofício da pedilança. "Hei moço quero falar com você", diz ela determinada, com voz empostada a modo seu e consciente do seu ofício. O transeunte, até por um princípio humanitário, para a ouvir a interlocutora. Ela tem uma conversa decorada, preparada, determinada. As mesmas palavras de sempre, o mesmo sotaque, um verbo contínuo e interminável. É e foi assim que ela se acostumou para "convencer" as pessoas em seu ofício de pedir.
Esse tipo de pedichona profissional, de regra, nos dá a negativa impressão de que está-se diante de um/a viciado/a estelionatária/o profissional. São pessoas viciadas, conscientes ou voluntariamente preparados que se propõem a seduzir e despertar a "sensibilidade" das pessoas, rumo ao seu pedido. Na próxima abordagem, vou ficar mais atento; vou "dar corda", para ver até aonde esse golpe vai esbarar.
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PÁGINA DE SAUDADE
Já disse aqui: mando textos para o programa semanal CLUBE DA SAUDADE, manhã de domingo, Mirante AM, São Luís - em cadeia com dezenas de emissoras do Estado. É a crônica cativa, faz anos - PÁGINA DE SAUDADE. Neste domingo, por conta do aniversário de 400 anos da cidade de São Luís, vejamos a minha PÁGINA DE SAUDADE:
SÃO LUÍS - UMA HISTÓRIA DE VIDA E AMOR
Era uma tarde chuvosa - final de ano - quando aportei em São Luís, acompanhado de meu pai. Eu tinha então onze anos de idade e tudo o que eu sabia é que a ilha se chamava "cidade". Pouco antes caíra uma chuva e a cidade ainda estava molhada, fria. E eu ali, estranho, num mundo estranho - longe de imaginar que aquele mundo novo e São Luís se tornaria um caso de amor - um grande amor na minha vida!!!
Vindo do curso primário do meu Mota Júnior, na minha Baixada, pisei na "cidade" em busca de ventura e aventura para tentar a sorte no Exame de Admissão - um verdadeiro vestibular para o Curso Ginasial daquele meu tempo. Deu certo!!! Daí em diante, tive um idílio, um romance - uma história de amor e sedução. Tantos passos de vida; coisas de um jovem e sua paixão - com essa Ilha de São Luís e do meu coração. Ilha da minha Escola Técnica; do meu Monte Castelo. Ilha da Casa do Estudante (na UMES), Ilha da Deodoro, da Rua do Passeio, do Caminho da Boiada, Fabril, Praça da Alegria - tudo caminhos meus. Ilha do Olho da D'Água, e dos olhos teus. da Ponta Dáreia e dos sonhos meus. Ilha do Araçagi; dos meus devaneios, venturas e aventuras - e eu ali.
E quando deixava a cidade em finais de semana, voltava para a Ilha, apaixonado... correndo... morrendo de amores. Caminhava contra o vento, Rua Grande, Praça João Lisboa, Beira-Mar, como se quisesse a cidade abraçar; sentir a sua brisa, viver a respiração da Ilha. E lá se foram 16 anos: emprego, escolaridade, formação, contornos do social. Diploma, profissão e tudo o mais. Aos 27 anos deixei a ilha. Cabeça feita, cara e coragem e canudo na mão. O tempo senhor da razão, ele mesmo cortou esse cordão - o cordão de morar, de vir ver por lá, mas nunca o cordão do amor; do amar; do sentimento, do gostar.
- Hoje, quando vejo uma São Luís QUATROCENTONA, eu me lembro daquela tarde chuvosa quando cheguei por lá. E vejo as voltas que o mundo deu e vejo as voltas que o mundo dá. E vejo o ouro e a prata sonho e realidade que vivi por lá. Obrigado minha querida São Luís! Obrigada por você existir. Obrigado pelos teus 400 anos!!!
LEMBRANDO AS CASAS DE TÁBUA
Era o ano de 1.973 quando cheguei por aqui. Era eu estranho, numa cidade estranha. Tudo estranho por aqui. Por vezes no silêncio das noites acordadas, chorava sozinho. Aprendi que é preciso sofrer para resistir. Naquela época isto aqui era um cavalo bravo, um risco, um corisco. Nomes fortes que ditavam a vida e a sorte. Eu falo de Imperatriz, no contraponto - na outra ponta - do "Maranhão do Norte".
A cidade estava em construção. Nova Imperatriz era uma cidade dentro da cidade; Bacuri, outra cidade dentro da cidade. Na época serrarias, arrozeiras e depois o ouro de Serra pelada ditavam com dinheiro o zuadão do terreiro. Imperatriz, como sempre, um cavalo bravo que não se submete nem se entrega ao cavaleiro.
Naquela época, CASAS DE TÁBUA, de luzes acesas, se espalhavam por aí. Mulheres livres em tempo livre. Eis a cidade livre!!! Nova Imperatriz, Cacau, Macaúba, Mangueirão, cerveja gelada, mulheres livres e prostituição!!! Farra Velha e por que não? E haja embalos, o tempo todo, o tempo inteiro. Era assim neste terreiro. Ninguém é de ninguém, rolando sexo, bebida e dinheiro. E as músicas se espalhavam por aí. Fosse manhã, à tarde ou à noite. Mulherada e macharada pronta para o açoite. Música de um tom goiano; som de Mato Grosso, isto aqui é terra de todos; de todas as gentes, de todos os gostos!!!
Milionário e José Rico cantavam, rodavam, marcavam. E compunham o recinto, o ambiente, o mulherio, a identidade que marcou este terreiro. Era o tempo das casas de tábua... de mulheres livres. Do som das radiolas, dos amores por dinheiro. Era cerveja derramando, dinheiro rolando; homens e mulheres se dando... Era o tempo das casas de tábua.
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* Viegas questiona o social. Email: viegas.adv@ig.com.br
Edição Nº 14500
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