O meu velho pai, ainda no calor dos seus anos de fôlego, tonou-se "vendedor ambulante", uma atividade da qual se orgulhava, até porque nesse labor ganhou algum dinheiro, respirava financeiramente melhor, sem nunca perder o caminho da roça - tanto ele quanto a família. E, com aquele seu reluzente dente de ouro e aquele sorriso proposital e maroto, comia a quem encontrava pela frente. O meu pai, então, quando dessa viagens, costumava sempre trazer para casa alguma novidade. Foram tantas!
Numa delas trouxe uma máquina de costura para minha mãe. Era como se ali descobrisse a América!!! Noutra, trouxe uns pacotinhos de suco em pó (Qui-suco), que ficamos todos extasiados com a novidade. Numa delas trouxe um jovem papagaio, nas primeiras falas. Fomos traquejando, traquejando e o bicho, em meio aos VIEGAS, tornou-se falante, falador. Era o nosso bicho de estimação, comum a todos. Falava, conversava, assobiava, imitava. Além do mais, era dócil, bastava dizer "dá o pé meu louro" e logo ele se entregava ao dedo de quem o chamasse. E quando o meu pai se demorava em viagem, logo ele ficava triste, não conversava, não queria comer. A gente notava o banzo que o atacava. E, por isso, a gente também se tocava.
Certa feita, quando o meu pai em viagem, o "louro" estava triste, desolado. Mas quando o meu pai, ainda na estrada, em braças distantes, falava com um vizinho aos pulmões, nas alturas, como do seu hábito, o "louro" ouviu a fala e, num instante, ficou feliz, começou a gritar "papai, papai", alçou pequeno voo até o chão e foi encontrá-lo a caminho. Eu era criança e me lembro da cena naquela tarde de verão. E então a alegria, o contentamento tomou conta de todos, só que o alegre papagaio, ali, não dava espaço para mais ninguém.
O meu pai, que não era de perder tempo, escreveu não leu pau comeu. E cinturão tinha serviço - foi assim como fomos criados, com predileção aos primeiros e logo eu, seu primogênito! Certa feita, quando ele "corrigia" em cinturão a um dos filhos, meu irmão, o "louro" pôs-se a ralhar, a protestar. O velho não deu trela para o bicho e continuou metendo a taca; foi quando o papagaio voou e engatou-lhe com o bico à altura do calcanhar. E segurou! E nisso rodopiaram. Olha a cena!
Aí, o senhor meu pai suspendeu a taca e... pegou o papagaio e qual uma pedra, jogou-o nas alturas e na distância, no mato, pê da vida com tudo aquilo. Caía uma chuva fina. Ficou o drama e a cena ocorridos e o papagaio lá no mato, pois que ninguém, diante da fera-ferida, teria coragem de ir buscar o nosso bicho de estimação lá no mato. E a chuva caindo... e todo o mundo enfezado. E o papagaio lá no mato...
A certa altura, o papagaio abre o bico: "hei papai, vem me buscar". E repetiu o pedido. E o velho caiu na chuva e resgatou a indefesa vítima, que pagou pelo instinto da solidariedade. E, se já éramos amigos, ficamos gratos e amigos... PARA SEMPRE!
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No meu sertão, lá do lugar de onde eu venho, nestes tempos é uma seca só, repetindo, aliás, o castigo do ano passado. Palavras devem ser medidas, mas o CRIADOR sabe o que faz. Neste ano, o sofrimento à falta de chuvas se estende e o povo sofre na pele e na alma as agruras da "sequidão", que é como dizem. As cacimbas estão secas; as mais resistentes estão secando. Lá não tem riacho permanente no verão e as águas vêm de poços distantes ao fundo do quintal. Ainda que no inverno ou no verão, o fator-água, ali, é sempre um trabalho para todos nós.
Por conta de situações essas, doído ao peito, escrevi na minha PÁGINA DE SAUDADE, cativa do programa CLUBE DA SAUDADE, MIRANTE/AM, manhãs de domingo, o texto que transcrevo abaixo:
Edição Nº 14535
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