Noite dessas, madrugada insone e eu, qual o meu pai, nas noites acordadas, punha a cabeça para girar. Nesse giro da mente, de repente me vi às voltas com as coisas de um tempo. Velho tempo. E nessa insanidade a que os lampejos da mente nos fazem voltar no tempo. Nesse devaneio, pude ver o quanto os tempos mudaram.
Havia um tempo - naquela minha pequena cidade que eu conheci aos sete anos e os moleques iam para a escola na parte da manhã. Na minha cidade, naquela época, não havia emprego e os raríssimos assalariados estavam duas lojas de tecido. As demais atividades comerciais eram exercidas pelo patriarca, ajudado pelos filhos; às vezes também pela mulher. Um ou outro trabalhador e tocava-se uma vida provinciana à beira da casa.
Os pais, para não verem os filhos desocupados, punham-nos em oficinas artesãs para aprender um ofício. Oficinas de alfaiate do tradicional JOÃO BARROS, de sapateiro do famoso MESTRE BENTO. Outros iam aprender o ofício de barbeiro, de marceneiro. Havia também a escola de música de um velho jequibitá, um Rei Davi de tantas gerações - SEU PADILHA que, a partir dos seus, multiplicou sua arte e seus dons por gerações. Saxofone, trombone, bombardino, trompete, clarinete, piston, flauta.
Havia também as oficinas de foguete, de PIPIRA e CHAMPIRRA, estes que faziam o polo "fogueteiro" para toda uma região e além fronteiras. E em todas elas as presenças dos aprendizes. Outra presença naquele cenário eram as oficinas de ferreiro - OSMAR e FELIPE ATA. E ali sim: beira de fogo, ferro em brasa; forja para encandecer e transformar no brilho, o ferro, o trilho. E em quaisquer delas - alfaiate, sapateiro, ferreiro, música, o moleque era forjado para ter mãos ocupadas e virar cidadão.
As moças - essas iam para aulas de corte e costura, bordados e artesanato manual. E assim caminhava a cultura, os costumes e a juventude de um tempo, cujos pais, preocupados, impunham a mente e as mãos ocupadas, dos filhos. Era assim naquele tempo. Mas os tempos mudaram. E hoje? Quem é que quer o seu filho em oficinas de alfaiate? Sapateiro? Música... ou a filha em aulas de corte e costura e bordados? - Isso é da roda quadrada. Hoje é informática, é internet e outras coisas da modernidade, via dos quais faz-se sexo e casamento tudo pelas vias virtuais à distância, cujas vias levam à pedofilia, ao dinheiro fácil, ao xilindró e outros desvarios.
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Deixo esse blá-blá-blá de oficinas porque dar duro ninguém quer e embarco no barco da família. Olho no tempo o casamento antigo. Era um casamento feito para o resto da vida; para criar filhos e netos. E finalmente, para todo o sempre, amém! A mulher jactanciava-se de ser CASADA. O marido e pai ocupava-se do seu papel, dos seus deveres. Bem ou mal, mas era assim. E hoje? Os tempos mudaram. O casamento ainda existe mas... diante dos arranjos e amasiamentos que se vê por aí, está ultrapassado.
Hoje, o cara conhece a distinta numa beira-rio da vida, num barzinho vadio da esquina ou numa balada vazia por aí e logo vem que tal de "morar juntos". Ou não! E o mala, de cara, enfia logo três, quatro cinco filhos na garota. Coitada! Tá ferrada para o resto da vida. Essa farra pode demorar um ano, dois anos, mais dias ou menos dias. E muitos vão parar na Justiça, nas pensões de alimentos, no ranger de dentes, no olho da rua e até mesmo nas cadeias por aí.
A moça casava-se moça, essa era a regra, salvo exceções. As pessoas eras heterossexuais, homem com mulher, mulher com homem. O rapaz aguardava o seu tempo, ficava maduro para casar. E gora? 13 anos, 14 anos e eles e elas ainda nos primeiros pentelhos e já deram ou estão dando com os burros n'água. Amancebados aí... na cara limpa, bem no quarto do lado - quase em cima de papai e mamãe. Os tempos mudaram.
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O homossexualismo masculino, antigamente, era uma coisa proibida, envergonhada, retrancada, escondida, camuflada. Desejos frustrados. Debaixo de sete capas, salvo exceções. E agora? Agora... tá aí escancarado, esconjurado, declarado, multiplicado - enfrentando a tudo e a todos e cheio de direitos e cheio de razão. E cheio de ostentação. E ai de quem ao menos fizer um gracejo, um "psiiiiiu". Será preso e processado por "homofobia" e preconceito. E comparando com os idos tempos de ferreiro, sapateiro, alfaiate, marceneiro, logo vemos que os tempos mudaram.
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A mulher se casava com um homem e tinha um homem só, pelo resto da vida. Era assim. Vivia da castidade, na castidade e pela castidade. E, como sempre... as exceções. E hoje? Tá uma zorra. E vive-se qual num paraíso onde ninguém é de ninguém. E leia quem quiser. E salve-se quem puder. E ponha a mão no fogo quem quiser porque nesse terreno a bruxa está solta.
Outra coisa é o ladrão. Esses, então, eram uma exceção. Na minha cidade tinha um ladrão de cavalo; tinha outro que furtava nos quintais. E um terceiro que, dizem, era o receptador. Os três compunham a crônica policial e a língua das pessoas. E hoje? E hoje? Tá tudo aí, cara limpa; quais aqueles outros nos primeiros pentelhos, quais aqueles outros: declarados, assumidos, multiplicados. Ostensivamente e propositais. E assim nessa onda moderna de casadas que dão mais fora do que em casa, o alfaiate não existe mais, o sapateiro não existe mais, o músico está em extinção, o ferreiro... o oleiro... o marceneiro... OS TEMPOS MUDARAM.
" Viegas é viegas. E questiona o social.
Edição Nº 14575
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