Fiz do meu terraço e do quintal na minha casa um pequeno bosque: juçareiras, sapotilheira, coqueiro, figueira e outras sombras – um verde que me dá trabalho e alegria. Por conta desse “verde” em pleno centro da cidade - os pássaros e outros bichos resolveram fazer morada. Uns que permanecem – outros em temporadas.
Um casal de bem-te-vis desperta e alegra as minhas manhãs e segue com o seu canto, durante o dia. Fiz-lhe um tema que foi publicado no rádio e no jornal. Outra freguesa é a ...
Qual o meu velho pai, traço projetos. Muitos que se esvaem, perdem-se com o tempo. Outros que se materializam, concretizam-se. O meu pai, debaixo do sol, riscava ao chão os seus projetos. Vi isso tantas vezes. De minha vez, traço-os na mente, nas noites acordadas. E jamais imaginava que haveria um paralelo, uma similaridades de ideias entre os projetos do meu pai e meus ideais. E então puxei ao meu pai. O meu velho avô-materno Doca Barros, de quem guardo exemplos e lembranças moráveis; de quem me tornei o seu “fã” por tudo ...
Minha mãe, na sua linguagem simplista, mulher que teve a vida marcada pela excruciante luta do sol a sol; que pariu 14 filhos e que teve entraves com o garanhão seu marido e meu pai, costumava dizer por motivos diversos: “o que a gente tem de passar não se bota na porta dos outros”. Eu, menino, ouvia aquilo com atenção e respeito à filosofia de vida da minha mãe, naquele tempo à luz da lamparina e ao chão da capina. Ela que sempre dizia aquilo com base em um ...
Eu ainda era um menino, 13, 14 anos de idade, quando certa feita, debaixo do sol, num trabalho de roça, ao lado do meu pai, este me fez uma revelação: “...eu, quando casei com tua mãe, tinha o dia, a noite e o caminho pra andar”. Aquela declaração me deixou em interrogações, numa época em que “criança não podia perguntar”. Em seguida, o meu pai, de livre iniciativa, indica os seus bens: um cavalo de cangalha, um burro de serviço, uma pistola mauser enferrujada da qual ...
Recebi esta semana em meu trabalho a inesperada e inestimável visita do Dr. Sergio Godinho, Diretor-Presidente deste Jornal O PROGRESSO - fato que, aliás, muito me honrou e me honra. Sergio, abrindo a conversa, pediu-me uma fotografia (minha), para ilustrar esta coluna, na internet, a exemplo de tantos outros colaboradores (articulistas) que pontificam em suas colunas com suas respectivas fotografias. Evidentemente uma já assentada e nova cara do jornal! Na oportunidade, conversamos sobre coisas de um velho tempo desta cidade E, no ensejo e já na mente, prometi-lhe escrever o que ...
Os cabarés da cidade, o Restaurante Tapioca e... o Porco-China
Era o fim do ano de 1973. Havia chegado em março. Era um tempo em que a palavra “IMPEROSA” fazia parte da linguagem e do quotidiano. Aura de garimpo. Ruas de areão. Poeirão que se espraiava no ar. Os olhos da Revolução de 64 espalhados por aí. Grilagem de terras e pistolagem estavam em alta. Rodoviária, hoje fechada - há pouco inaugurada, era o cartão de visita da cidade. Televisão? Isso nem se falava. O bairro Nova Imperatriz era recente; Quatro Bocas em prostituição era tema ...
"Minha mãe largou do meu pai, ela veio pra São Luís e foi morar na ZONA. Fiquei um tempo comendo na casa da minha tia e depois vim morar com a minha mãe, na ZONA. Não tinha emprego nem escola, comecei a engraxar sapato e, para garantir o dicumê, dava segurança para algumas mulheres da ZONA." Essa foi a declaração - uma espécie de livro aberto - que CHININICA, conterrâneo (da minha cidade), abriu para mim, numa conversa, quase por acaso. CHININICA é meu conterrâneo. Conheci-o aos nove ...
Era uma vez... O BICHO PAPÃO. O bicho papão era uma "entidade imaginária" da qual utilizavam-se os pais, à imposição do medo, para cobrar obediência às suas crianças; ao passo que os irmãos mais velhos também usavam-no para conter o chororô ou a birra dos irmãos mais novos. Nessa sanha o bicho-papão tinha lugar em meio a familiares para fazer costuras e ranhuras domésticas. Imagine-se numa época em que sobreviviam tabuadas, cartilhas e palmatórias; em que as noites eram tocadas a luz de lamparina ou em lampião a gás; em que não havia disputa para Conselhos Tutelares ...
Viegas, Clemente Barros. (São Clemente papa e mártir). CLEMENTE vem do Almanaque de Bristol, antiga publicação do laboratório farmacêutico. Estudou as primeiras letras na escola da palmatória e dos joelhos ao chão, no sertão. Concluiu o curso primário (na terra natal), no tempo em que a escolaridade era levada a sério. Foi menino de recado e de mandado. Nos cursos Secundário e Técnico no internato da Escola Federal, onde ingressou via do “Exame de Admissão”. Cursou Direito, num tempo em que não havia celular, nem internet, nem FIES, nem as vantagens atuais. Não tinha livros, escrevia em papéis avulsos, taquigrafava as aulas ao verbo dos professores. Morou em casas de estudantes e cortiço, andava a pé, driblou o bonde, poucas roupas, curtiu a “Zona” e jamais dirá que “comeu o pão que o diabo amassou”. Trabalha desde os cinco anos, com intervalo dos onze aos vinte anos. Está na casa dos 73. Não brincou quando criança ou adolescente e na vida adulta tem três brinquedos que os leva a sério: 1 - Escreve a coluna CAMINHOS POR ONDE ANDEI; 2 - Escreve a crônica PÁGINA DE SAUDADE, Rádio Mirante/AM, domingos, há mais de dez anos; 3 - Tem uma “rádio”, com antena de 300 mm de altura, 1.000 a 1500 mm de alcance, com dois ou três ouvintes que, como você vê, “um que pode ser você”. É o rastro e a sombra de si mesmo. É o filho que veio e os pais que se foram. Superou milhares de concorrentes para nascer. É mais um na multidão e considera-se a escrita certa por linhas tortas, na criação do CRIADOR. Cumprimenta os seus interlocutores com votos de “saúde”! E diz aos semelhantes todos os dias que “...a vida continua”. (•) Viegas questiona o social.
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