Era uma vez... O BICHO PAPÃO. O bicho papão era uma "entidade imaginária" da qual utilizavam-se os pais, à imposição do medo, para cobrar obediência às suas crianças; ao passo que os irmãos mais velhos também usavam-no para conter o chororô ou a birra dos irmãos mais novos. Nessa sanha o bicho-papão tinha lugar em meio a familiares para fazer costuras e ranhuras domésticas.
Imagine-se numa época em que sobreviviam tabuadas, cartilhas e palmatórias; em que as noites eram tocadas a luz de lamparina ou em lampião a gás; em que não havia disputa para Conselhos Tutelares assalariados; também não havia um Ministério Público  atuante para meter o bedelho em tudo enquanto; muito menos uma Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (as famosas DPCA); longe de um Estatuto da Criança e do Adolescente - justo numa época em que uma taca explicada, ou como se dizia: "rezada", fazia parte do jogo da criação.
Hoje, quando existe todo um aparato de proteção e defesa em favor da criança e do adolescente, e que brindados e blindados por essa barreira, criança não pode levar uma palmada na bunda, nem um puxão de orelha, muito menos ficar de joelhos - a passo de que essas mesmas "crianças" podem roubar e matar e, como punição, ganham um refresco com pão. Então, que o imaginário do bicho papão certamente não tem mais vez nestes tempos da nova roda. Lembrar o bicho papão, agora, é voltar à época do botão-de-sola.
E se for mandado fazer um servicinho qualquer? Varrer uma casa, buscar um copo d'água, pegar uma roupa no varal? Aí é exploração de trabalho infantil. Lavar um prato? A xícara do café? Nem pensar! Pior ainda se a pobre criança for submetida ao sol das nove horas, ou ao vento das cinco da tarde. Aí então estará exposta às intempéries do tempo. Ave Maia Cruz-Credo!  Criança tem mais é que brincar, estudar, exercer atividades psicomotoras, vestir roupa de marca, usar cadernos capa-dura  de DEZ MATÉRIAS, namorar aos 11, 12 anos, ter todos os desejos realizados e "curtir a vida" - nem que os pais se matem para isso. Não é como a gente vê por aí?!!!
ABRE PARÊNTESE: Fui falar em Bicho-papão e olha onde é que fui parar! Mas é como diz a canção: "perdi a fé...  e a rua em que morava / está tão longe pra voltar". Tento encontrar o caminho - porque caminho é uma velha pegada, um vereda que a gente tanto palmilhou naquele velho tempo que fez e ainda faz esse hoje meu estradão com suas encruzilhadas da vida. Fecha parêntese.
E quem foi que disse que bicho papão é coisa do tempo da roda-quadrada? Será? Não é bem assim, ouso pensar. E se o bicho bicho papão, de velhos tempos, era uma "entidade imaginária" que escorchava o mundo infantil das crianças ao raiar da vida - hoje bicho papão é um estroina, embusteiro e enganador em meio a adultos encaliçados, desses que dobraram ou estão dobrando o seu próprio cabo das tormentas, rumo ao solo que faz o chão - o chão que faz o pó; o pó a que, enfim, voltaremos todos nós.
Mas nem só dessa leva sobrevive o bicho papão - este que também infiltra-se no social com os seus tentáculos no bolsa-escola; no salário-família, "Minha Casa, Minha Vida" e, como vinha querendo dizer... na APOSENTADORIA DOS VELHINHOS. É, enfim, essa leva de gente adulta - desde as mulheres que acabam de parir os primeiros filhos até os encaliçados que estão criando os netos. É em meio a essa massa ignara e acomodada que faz a leva do social afetado pelos tentáculos do bicho papão, nesta NAÇÃO PETISTA. Eles que são levados a imaginar que o "petismo" de Lula e Dilma são os novos ventos para o refrigério dos infelizes e o bicho papão, que é o resto-adversário, corre o risco de mijar na farofa do pobre e acabar com as gorduras do "avanço social" - que é como pensa muita gente desse mundo perverso.
É um jogo de enganação e esconde-esconde, na terra do diabo. Os beneficiários do bolsa-escola, do salário-família, da aposentadoria dos velhinhos, "Minha Casa, Minha Vida" e outras gorduras custeadas pelo contribuinte estão convencidos de que LULA/DILMA e sua beira são os defensores e guardiões e garantidores de tais benefícios e que os seus adversários políticos - esses, são o cão - são o bicho papão que poderá lhes roubar o tesouro adquirido. Bem aí faz-se a urna eleitoral.
Nessa treita eleitoreira, os velhinhos, as mulheres parideiras e toda a sua parentalha e outros tantos eleitores - que não são bobos nem nada - grudam-se na ilusão de um "pai protetor" que passou o bastão da herança e do poder para uma mãezona também protetora e daí têm medo do bicho papão mijar na farofa e roubar o tesouro adquirido. Nessa onda o "petismo" enche o saco e o bisaco na urna eleitoral com a lorota de que são os "bonzinhos" e o que os seus adversários políticos são o bicho papão dessa gente. E segue a ciranda... porque o horário eleitoral... está chegando...

* Viegas questiona o social