AS ÁRVORES DA CIDADE
Recebi esta semana em meu trabalho a inesperada e inestimável visita do Dr. Sergio Godinho, Diretor-Presidente deste Jornal O PROGRESSO - fato que, aliás, muito me honrou e me honra. Sergio, abrindo a conversa, pediu-me uma fotografia (minha), para ilustrar esta coluna, na internet, a exemplo de tantos outros colaboradores (articulistas) que pontificam em suas colunas com suas respectivas fotografias. Evidentemente uma já assentada e nova cara do jornal! Na oportunidade, conversamos sobre coisas de um velho tempo desta cidade E, no ensejo e já na mente, prometi-lhe escrever o que viria a ser este tema: AS ÁRVORES DA CIDADE.
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Sou apaixonado por árvores. Planto árvores e planto sombras por aonde vou. Na minha casa – parte no quintal, parte no terraço – tenho árvores ordenadamente agrupadas que servem de morada e passagem a pássaros e outros bichos. Não crio, nem ofendo, nem aprisiono a quaisquer deles. E regozijo-me com a sua liberdade, com o seu voo, com o seu canto. E, aos pássaros que usam o meu quintal – seja como morada temporária, seja como passagem, já lhes dediquei textos que foram publicados nesta coluna e na minha crônica na Rádio Mirante/AM – São Luís, manhãs de domingo. Afinal, “Cada qual para o que nasce, cada qual para o que nasceu”.
Sou apaixonado por árvores, por isso planto sombras por aonde vou. Aqui, lá pelos anos setenta, houve um interventor DR. HELBERTH LEITÃO, ao que me lembro, o único que se interessou de frente pela arborização da cidade. Esse sim: plantou árvores e plantou sombras. Depois veio outro mandatário e mandava fazer a poda – o decote - das árvores da cidade. De lembrar ainda que as árvores então plantadas pelo interventor, quase todas foram dizimadas - umas pelos cristãos, outras pelo tempo. Afora isso é cada um por si: uns que eventualmente plantam e cuidam; outros que não plantam nem cuidam; outros que plantam e deixam-nas à própria sorte.
A gente por vezes, olhando a cidade no seu esticadão, submetida ao sol escaldante, é capaz de imaginar que isto aqui é um “deserto” tomado pelo asfalto e por uma construção em paredes e telhados mas quando a gente sobrevoa a cidade e olha a planície lá de cima, a cidade de Imperatriz é uma selva verde que dá prazer e emoção. O verde-clorofila toma de conta!
Olhando as árvores da cidade, como um questionador do social a que me dou conta, vejo que essa moeda como toda moeda, tem o seu outro lado. É que as árvores enquanto jovens são facilmente podáveis, manejáveis, controláveis. Ocorre, porém, que muitíssimas árvores crescem e tomam proporções gigantescas – é ai onde surge a dimensão de um novo problema e, pelo visto, escapam ao controle de quem as plantou. É, digamos, o bicho-doméstico que virou uma fera. E então, os arvoredos nas alturas tornam-se fonte de atração de raios da atmosfera. Submetidas ao vento, tornam-se em potencial elementos de risco e acidente. E, portanto, plenamente desaconselháveis. Muitíssimas delas nas alturas que tornaram-se “um caminho sem volta”. E, sobre estas só o futuro dirá.
E eu que planto árvores e planto sombras, fico a observar que os homens com todo o acesso à ciência e à tecnologia, com toda sorte de recursos que a mente e mãos humanas tem à sua disposição, não foi até aqui capaz de criar ou descobrir ou ainda que de construir sequer uma árvore, um galho, nem ao menos uma folha em clorofila; todavia, essa mesma mão é capaz de destruir em minuto/s – reduzir ao pó, em tábuas, em toras ou levá-la ao carvão ou à cinza uma árvore com cem ou mais anos de idade.
E então, o que a natureza faz em uma vida, o homem é capaz de destruir num instante. E eu que planto árvores e planto sombras, fico a ver essa desproporção terrível e fatal. E, ainda que a natureza não seja odiosa nem vingativa, também fica certo que esse mesmo homem capaz de destruir a natureza num instante, também é verdade que em igual instante, ainda que tenha milhões em seus cofres; que seja dono de toda a riqueza e poder ao redor e mais a diante, poderá voltar ao seio da natureza em instantes – seja porque o amanhã não nos pertence, seja porque ... ao pó voltaremos.
O meu pai, no local onde hoje edifico-lhe um “sítio florestal” que denomino MEMORIAL DE ANTÔNIO DE INEZ, foi um incansável plantador de árvores e de sombras. Ainda que sem meios, plantou-as avidamente em seu quintal e mais adiante: cedro, paparaúba, pequi, Bacuri, coco, manga, laranja, lima, tangerina e outras. E vivia recolhendo e plantando sementes. Vi isso tantas vezes. O meu pai foi um semeador!
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Ainda na infância, no meu Grupo Escolar, cantávamos HINOS todas as manhãs: Hino à Pátria, à Independência; à Bandeira, ao Maranhão; Hino às Árvores. Era a nossa iniciação ao civismo – uma prática da qual quase nada me dava conta e que hoje disso nem se fala.
O Hino às Árvores, porém, me deixava uma interrogação. Dizia em verso: “...ou flores ou frutos / ou sombras darás”. Esse “sombras darás” que eu interpretava como uma palavra única é que me atormentava, sem entender. E guardei como guardo até hoje a lembrança daquela iniciação ao civismo nas manhãs do Grupo Escolar, longe de imaginar que eu, caçador de mim, um dia viria a confessar que, qual o meu pai, “planto árvores e planto sombras por aonde vou”.
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