“TUDO NA VIDA É UM TEMPO...”
Fiz do meu terraço e do quintal na minha casa um pequeno bosque: juçareiras, sapotilheira, coqueiro, figueira e outras sombras – um verde que me dá trabalho e alegria. Por conta desse “verde” em pleno centro da cidade - os pássaros e outros bichos resolveram fazer morada. Uns que permanecem – outros em temporadas.
Um casal de bem-te-vis desperta e alegra as minhas manhãs e segue com o seu canto, durante o dia. Fiz-lhe um tema que foi publicado no rádio e no jornal. Outra freguesa é a rolinha sangue de boi. Vem... faz ninho... cria seus filhos... canta, chama o companheiro, passa uma temporada e depois... bate em revoada. Vai quando quer; volta quando quer.
Fregueses de carteirinha são os pardais! Estão sempre em grupo. Começam a sibilar às cinco da manhã, na folhagem das juçareiras. E dividem com o meu galo-cantador o milho moído que lhes ofereço. Por aqui, em dois dias de sol, também apareceu um sabiá. Cantou e encantou. Bateu asas e não mais voltou.
Outro que fez sucesso foi um curió-tisiu; parece que perdeu a noção do tempo e cantava solitário no madrugadão, ao clarão da luz da rua. Também dediquei-lhe um texto no jornal, lembrando os capoeirões da minha infância e os tisius que haviam por lá.
E os anuns? Volta e meia também estão por lá. E as formigas-de-fogo? São criaturas que se não mexer com elas, também não mexem com ninguém. Involuntariamente, liguei um motor perto da casa delas. A família inteira veio pra fora; veio pra guerra! Então vi como a natureza responde.
E assim: bem-te-vis, pardais, rolinhas-sangue-de-boi, curió-tisiu, anuns, galo-cantador, sabiá, formiga-de-fogo - são atraídos pelas sombras e pelos galhos que lhes dedico e tudo isso me faz voltar à criança do meu tempo e aprender que “tudo na vida é um tempo” – que a gente, sem saber, guarda e relembra com saudade - como nesta música de um tempo que se foi...
LEMBRANÇA DA FESTA NO CORETO, NA IGREJA-MATRIZ
Era uma VEZ... NAQUELE MEU TEMPO DE RAPAZ: 13, 14 ANOS DE IDADE. Voltava de férias, ficava dois, três na cidade, até chegar uma viagem para o interior – para a casa dos pais.
- Era um tempo de festas na igreja-matriz. Novenas, santas-missas, Procissão. E lá na torre (nas alturas) o sino a tocar.
No coreto, SEU NOGUEIRA, com toda a sua banda com instrumentos de sopro, fazia a sua parte. Tocava marchas, hinos, dobrados, retretas e a gente-moleque, ficava a “expectar” aquele espetáculo musical de tantos instrumentos, de tantos componentes – tudo sob a batuta implacável do velho NOGUEIRA.
- Seu Augusto na Tuba, João Goma na Bateria, Ferreira no Piston, Bide no Saxofone. Têtê no Pandeiro e no vocal – Seu Nogueira no Trombone. Assim era o conjunto de Nogueira de tantos instrumentos dourados e prateados naquela festa católica, na Matriz do senhor padre.
No largo (quer dizer, na grande praça), tinha o carrocel, a roda gigante; tinha bolos, doces. Suspiros, “coração”. Carne de porco, carne de boi, galinha caipira, comida de todos os tipos. Tiro ao alvo, a pescaria “da sorte”; muita brincadeira, muita comida e muitas atrações. E o namoro ali rolando - ora assumido, ora discreto, enrustido...
Naquela praça de um gramado verde, aqueles balões multicores em cachos, enchiam os meus olhos negros de rapaz. A molecada corria, se empurrava, caía no chão, se embolava. Tudo na brincadeira, naquela maior “zoeira”. Lá adiante tocavam foguetes, gritavam leilões de prendas e mais prendas – porque a igreja, como sempre... precisava de renda...
Agora, volto no tempo, e vejo no coreto, o seu Nogueira e sua banda que faziam o som que fazia a festa. A festa de todas as gentes; a festa de Senhor São Bento. A festa no coreto, da Igreja Matriz.
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