O meu pai não era de beber, nem de fumar. Essa era a regra. Mas como toda regra tem exceção, ocorria que em distantes ocasiões, vez por outra, em meio aos amigos, entretinha-se na conversa e aí, rolava uma pinga, um cigarro. Tudo só por “enfeite”, nada de vício porque o meu pai não tinha vício, vírgula, seu vício era... mulher! Incorrigível, inveterado. Inconsequente, até.
E quando o meu pai, naquelas circunstâncias entre os amigos e uma pinga, eu e meu irmão, por decreto há muito publicado, deveríamos ficar longe ...
Tenho a incorrigível e inevitável mania de antes de escrever um texto, dar-lhe o título. E isso vem da minha antiga vocação de que o título se encarregasse de traduzir ou despertar o enredo. Mais ainda: eu dispunha de pequeno espaço para que a titulação saísse em letras graúdas. Daí as contorções à escolha do título inicial da “obra”, tal o pequeno espaço das então colunas do Jornal Pequeno eu que, volta e meia, “colaborava”. Enfim, era como se eu treinasse para vencer ...
“HONRA TEU PAI E TUA MÃE...” A palavra de Deus, em Êxodo 20.12, nos ensina: “Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas vida longa na terra que o Senhor, o teu Deus, te dá”. A lição bíblica se faz tão atual porque a palavra de Deus não envelhece e, contrário disso, renova-se a cada dia. Ouvindo a mensagem, eis que o caso concreto, os exemplos em carne e osso, coração e vida, vêm à baila, resplandecem e tomam do conta do meu ser. Católico, frequento a Igreja de Santa Tereza D’Ávila nas ...
“REPÚBLICA” (a casa de Mãe Joana) A culpa foi do Gonzaga. Gonzaga era assim: um cara dinâmico, despojado, despachado, lutador, um aventureiro como tantos ali. Gonzaga foi quem teve a ideia, movimentou-se em tudo e, da noite para o dia, fundou uma “REPÚBLICA”. República é(ra), a casa de um determinado grupo social; moradia coletiva com predominância dos interesses individuais, anárquica, desorganizada e com tendências para a promiscuidade, o trote, a esculhambação. Pois é, a “culpa” foi do GONZAGA. Gonzaga foi quem teve a ideia! Insatisfeito com moradia de um quarto, juntamente com dois outros mais outros ...
A SAGA DE PROCÓPIO PALITÔ Naquelas terras feitas de capoeirões e caminhos estreitos que de chamam “estradas”, de uma pobreza avassaladora; de gente de mãos calejadas em serviço rude, entre os tantos viventes daquele meu lugar, ali morava um homem chamado PROCÓPIO PALITÔ. Não sei de onde veio. Quando, porém, ali chegava alguém de origem desconhecida, logo atribuía-se: “Veio da beira do campo”. Penso então que SEU PROCÓPIO, veio da “beira do campo”. ...
A POEIRA QUE SE FEZ CHÃO Rolava o final dos anos 60, pipocava a Revolução de 64 e eu, morador inarredável da Casa de Estudante, sozinho no mundo e dono do próprio nariz, fui cursar o noturno pré-vestibular CASTRO ALVES, do Professor Alberico Carneiro, que funcionava num vasto salão do antigo e desativado Seminário Santo Antônio, ao lado da tradicional ESCOLA MODELO. No Castro Alves éramos uma turma de uns sessenta entre rapazes e moças. Era eu ali, diário, vindo de dois expedientes na repartição pública, mais um na multidão. O Professor WELINGTON dava aula de ...
Seu Mundiquinho era, na minha cabeça, um bem-sucedido comerciante daquela minha cidade. Ele era dono e balconista único do seu “Bar do Mundinho” em cujo estabelecimento haviam umas prateleiras esvaziadas, algumas poucas mercadorias do tipo “mercearia” mas o forte mesmo, era, ali, o “refresco com pão”, fosse de coco ou de maracujá, enfim um refresco com pão.
Os homens roceiros, analfabetos e descalços do interior que vinham à VILA, montados em seus cavalos de cangalha para VENDER suas poucas coisas tinham dois pontos básicos ...
“OS HERÓIS DA LIMPEZA PÚBLICA” Desde os meus primeiros passos nos corredores da imprensa, ainda colegial, que a “questão do lixo” me desperta particular atenção e mexe com o meu ego. Comecei escrevendo “artigos de protesto” no Jornal Pequeno, na capital, gostei da ideia e nunca mais parei. E então lá se vão sete décimos da minha vida, metido no ofício de “escriba” amador e voluntário. O Jornal do velho Bogéa, de longe o primeiro da preferência popular, “se espremesse saía sangue”, era uma porteira escancarada. Mandava-se o artigo, fazia-se a queixa eles publicavam. Achei que ...
Viegas, Clemente Barros. (São Clemente papa e mártir). CLEMENTE vem do Almanaque de Bristol, antiga publicação do laboratório farmacêutico. Estudou as primeiras letras na escola da palmatória e dos joelhos ao chão, no sertão. Concluiu o curso primário (na terra natal), no tempo em que a escolaridade era levada a sério. Foi menino de recado e de mandado. Nos cursos Secundário e Técnico no internato da Escola Federal, onde ingressou via do “Exame de Admissão”. Cursou Direito, num tempo em que não havia celular, nem internet, nem FIES, nem as vantagens atuais. Não tinha livros, escrevia em papéis avulsos, taquigrafava as aulas ao verbo dos professores. Morou em casas de estudantes e cortiço, andava a pé, driblou o bonde, poucas roupas, curtiu a “Zona” e jamais dirá que “comeu o pão que o diabo amassou”. Trabalha desde os cinco anos, com intervalo dos onze aos vinte anos. Está na casa dos 73. Não brincou quando criança ou adolescente e na vida adulta tem três brinquedos que os leva a sério: 1 - Escreve a coluna CAMINHOS POR ONDE ANDEI; 2 - Escreve a crônica PÁGINA DE SAUDADE, Rádio Mirante/AM, domingos, há mais de dez anos; 3 - Tem uma “rádio”, com antena de 300 mm de altura, 1.000 a 1500 mm de alcance, com dois ou três ouvintes que, como você vê, “um que pode ser você”. É o rastro e a sombra de si mesmo. É o filho que veio e os pais que se foram. Superou milhares de concorrentes para nascer. É mais um na multidão e considera-se a escrita certa por linhas tortas, na criação do CRIADOR. Cumprimenta os seus interlocutores com votos de “saúde”! E diz aos semelhantes todos os dias que “...a vida continua”. (•) Viegas questiona o social.
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