Corria o início de 1973. Foi quando cheguei por aqui, faz 43 anos. E lá se vão três quintos (3/5) da minha vida. Afinal, são 70 anos cravados! Isto aqui tinha aura de garimpo; gente chegando de todos os cantos do Brasil e do mundo, um poeirão. A Nova Imperatriz tinha começado. As “Quatro Bocas” (na Nova Imperatriz) eram tema do sermão do padre-capuchinho na Igreja. Juçara Clube e Clube Tocantins estavam na onda. A Revolução de 64 dava as cartas. O “Cacau” era o eixo da roda que movimentava as noites nos ...
Tocado pelos ventos do destino, tornei-me um morador perdido nos meus próprios horizontes, daquela cidade na Baixada, quando tinha, então 27 anos, um anel de rubi ao dedo e um diploma de bacharel em Direito. Corria o início dos anos setenta. Foi quando conheci um negro de cabelos carapinha e esbranquiçados, corpulento, falaz, eloquente, que se chamava GEREBA. De início logo me despertou o seu codinome: GEREBA, que naquelas bandas é uma conhecida espécie de urubu. Urubu gereba. Certa feita, nos acasos da vida, cruzei com GEREBA, com ...
LEMBRANDO VELHOS CARNAVAIS Era uma vez, aquele meu sagrado tempo colegial. Esse mesmo tempo. O TEMPO DOS BAILES DE CARNAVAL. Fica quieto porque a rima é proposital. Por circunstâncias da falta de dinheiro ou do dinheiro contado, os bailes de carnaval me despertavam, me provocavam, me enfeitiçavam. E sempre que era carnaval, eu dava um jeito e... entrava. Mas... e cadê a mesa? O dinheiro da mesa? Aí era “de pé” que a gente ficava. O CLUBE DO SESI, na capital, foi o meu clube, a minha paixão. Não era sócio nem nada mas... ganhei um presente ...
ASSIM COMO SÃO AS PESSOAS... Lição da vida me ensina que “assim como são as pessoas são as criaturas”. Li e aprendi isso no para-choque de um caminhão. Aliás, que de início, não conseguia compreender a lição, pois que eu achava que “pessoas” e “criaturas” era tudo a mesma coisa. Certo também que nem frases de para-choque nem caminhões não se fazem mais como antigamente. Mais tarde, porém, o tempo, senhor da razão e divisor de águas, me ensinou a lição com exemplo sobre exemplo. E assim já escrevi múltiplos textos sobre o assunto e os ...
Triângulo da morte Zé de Maria e Romualdo eram dois amigos inseparáveis. Trabalhadores de roça, onde estava um estava o outro. Não eram de briga, nem de mexer com ninguém, mas... qualquer ali tinha a obrigação de saber que ambos, como uma bomba relógio, estavam naturalmente prontos para explodir a qualquer instante. Zé de Maria havia servido “os quartel”. Outrora, chegou ali vestido na farda, faca de selva à cintura, trajes de combatente, braços e bíceps que pareciam uma mão de pilão. Zé, na farda e no calor dos seus vinte e poucos anos, “bem aparentado”, ...
ALMANAQUE DE BRISTOL - Fim de 1945. Faça as contas. E lá se vão 70 anos cravados! A Segunda Guerra Mundial tinha terminado por aqueles dias! É quando nasce uma criança que se chama CLEMENTE (Eu aqui, para contar a história)! - Ainda me lembro. Era moleque e o meu pai possuía um velho e surrado almanaque. ALMANAQUE DE BRISTOL! Lembra? Uma publicação do laboratório farmacêutico do mesmo nome que o meu pai ganhou na Farmácia do Seu Bibi, respeitável farmacêutico, honrado e honroso político e homem público daquele meu chão ...
GOIABEIRA: O SEU E MEU DESAFIO Faz tempo e eu observo o desafio que enfrenta aquela jovem goiabeira. O desafio que aquele pequeno vegetal enfrenta também me desafia, vez que tento escrever um texto sobre o quanto vejo e o quanto me desperta, todavia não consigo articular nem conjecturar as ideias. E a omelete, que é o tema, por mais que eu bata na mente, não desabrocha, não cresce. Quem anda na Rua Coronel Manoel Bandeira, entre as ruas Luís Domingues e Benedito Leite, no meio do quarteirão pelo lado esquerdo à mão do trânsito pode ...
UM CONTO DE NATAL Qual um bicho assustado na capoeira ou um africano engaiolado no “navio negreiro”, foi assim como cheguei aos onze anos, em São Luís, ainda de calças curtas para fazer o “EXAME DE ADMISSÃO ao Ginásio”, num tempo em que passar do 5º ano primário para a primeira série ginasial, principalmente nos colégios públicos, exigia o “Exame de admissão”, um verdadeiro e temível vestibular da época. Era manhã, com cara de domingo de festa. E quando fui à porta da rua, o que vi? A molecada inteira do setor num fuzuê danado, brincando ...
Viegas, Clemente Barros. (São Clemente papa e mártir). CLEMENTE vem do Almanaque de Bristol, antiga publicação do laboratório farmacêutico. Estudou as primeiras letras na escola da palmatória e dos joelhos ao chão, no sertão. Concluiu o curso primário (na terra natal), no tempo em que a escolaridade era levada a sério. Foi menino de recado e de mandado. Nos cursos Secundário e Técnico no internato da Escola Federal, onde ingressou via do “Exame de Admissão”. Cursou Direito, num tempo em que não havia celular, nem internet, nem FIES, nem as vantagens atuais. Não tinha livros, escrevia em papéis avulsos, taquigrafava as aulas ao verbo dos professores. Morou em casas de estudantes e cortiço, andava a pé, driblou o bonde, poucas roupas, curtiu a “Zona” e jamais dirá que “comeu o pão que o diabo amassou”. Trabalha desde os cinco anos, com intervalo dos onze aos vinte anos. Está na casa dos 73. Não brincou quando criança ou adolescente e na vida adulta tem três brinquedos que os leva a sério: 1 - Escreve a coluna CAMINHOS POR ONDE ANDEI; 2 - Escreve a crônica PÁGINA DE SAUDADE, Rádio Mirante/AM, domingos, há mais de dez anos; 3 - Tem uma “rádio”, com antena de 300 mm de altura, 1.000 a 1500 mm de alcance, com dois ou três ouvintes que, como você vê, “um que pode ser você”. É o rastro e a sombra de si mesmo. É o filho que veio e os pais que se foram. Superou milhares de concorrentes para nascer. É mais um na multidão e considera-se a escrita certa por linhas tortas, na criação do CRIADOR. Cumprimenta os seus interlocutores com votos de “saúde”! E diz aos semelhantes todos os dias que “...a vida continua”. (•) Viegas questiona o social.
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