ALMANAQUE DE BRISTOL
- Fim de 1945. Faça as contas. E lá se vão 70 anos cravados! A Segunda Guerra Mundial tinha terminado por aqueles dias! É quando nasce uma criança que se chama CLEMENTE (Eu aqui, para contar a história)!
- Ainda me lembro. Era moleque e o meu pai possuía um velho e surrado almanaque. ALMANAQUE DE BRISTOL! Lembra? Uma publicação do laboratório farmacêutico do mesmo nome que o meu pai ganhou na Farmácia do Seu Bibi, respeitável farmacêutico, honrado e honroso político e homem público daquele meu chão da Baixada.
O ALMANAQUE DE BRISTOL era uma enciclopédia para nós ali. Fases da lua, movimento das marés, palavra-cruzada, charadas, anedotas, adivinhação, nomes e datas históricas. Higiene, saúde. A atração do meu pai era pelos SANTOS DO DIA, em que dava o nome aos seus filhos e recebia consulta e dava orientações a nome de outros tantos filhos dos outros. Está aí, eu – CLEMENTE! 23 de novembro - São Clemente Papa e mártir da Igreja católica! - Está no Almanaque de Bristol! E assim o nome dos 14 filhos foram quase todos inspirados no ALMANAQUE de Bristol!
A gravidez do terceiro filho da minha mãe que nasceu de sete meses foi uma complicação. Mãe e filho estiveram na vida, por um fio. Minha mãe fez promessa para São Raimundo, o Santo parteiro, mas o meu pai estava de olho no almanaque. Então, nasceu RAIMUNDO VENÂNCIO. Raimundo, da Promessa de minha mãe e Venâncio do Almanaque, de meu pai. E haja Raimundo e Raimunda, neste mundo de meu Deus!
Raimundo nasceu só um pingo de gente e o sopro da vida, numa época em que só havia a promessa ao santo, uma pílula para tudo, um chá de folha ou raiz e a água do pote e muito sofrimento. Fosse hoje, a criança passaria uns seis meses no hospital entre a incubadora e a UTI. Mas sobreviveu entre os “cueiros”, aqueles panos de criança e... a água do pote! E as bênçãos de Deus! É claro!
- Quando Raimundo ganhou os primeiros ares de gente, aquela guerreira feita de aço, minha avó, mulher do guerreiro e caçador, meu avô, tomou uma canela de veado que jazia na fumaça sobre o seu fogão de lenha e bateu nas canelas (nas pernas) do menino, para ele ficar ágil, ligeiro, esperto, forte, trabalhador. Não deu outra! Raimundo, aquela gota de gente que nasceu entre a sopro e o pó, hoje é a encarnação de toda a predição da minha avó! Dinâmico, guerreiro, trabalhador! Aceso em tempo inteiro! Vejo então como um sonho se transforma em realidade! É a bênção de Deus!
Hoje, eu lembro do Almanaque de Bristol do velho meu pai; lembro daquele recém nascido de sete meses que era só um pingo e mais nada; lembro da água do pote; lembro da promessa da minha mãe a São Raimundo-parteiro, lembro do dia e da crendice da minha avó, num sonho que se fez realidade e longe de imaginar que dali... um dia... eu declamaria para este... CLUBE DA SAUDADE
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Vivo obstinado, caçando na lembrança, em noites acordadas, temas para o programa CLUBE DA SAUDADE, Mirante/Am, domingos, oito da manhã, em cadeia com 19 emissoras em todo o Estado no qual escrevo, cativo, faz oito anos, a minha... “PÁGINA DE SAUDADE”. O tema acima foi a minha mais recente elucubração em Página de Saudade.
Aliás que, a propósito do texto supra, resolvi procurar pela internet sobre o ALMANAQUE DE BRISTROL, uma publicação que não vejo há sessenta anos e que imaginava estivesse morta e enterrada e que só existiram os restos mortais, talvez. Qual nada!
Constatei então que o verdadeiro nome da obra é “ALMANAQUE PINTORESCO DE BRITOL”, uma publicação contínua e anual, desde 1.832, com distribuição em princípio gratuita que circula na Colômbia, Peru, Equador, Bolívia, Panamá, Nicarágua, El Salvador, Honduras, México, Zona do Caribe e parte dos Estados Unidos.
A publicação, com múltiplos conteúdos, foi criada pelo químico e farmaceuta Cyrenius Chapin Bristol, cujo retrato até hoje estampa-se em sua capa frontal e tinha, ao início, por finalidade de base, promover um “xarope” tônico, de sua produção farmacêutica. O título foi adquirido em 1856 por outra fonte que ampliou os horizonte da publicação, outrora gratuita e que objeto de falsificação passou a ser vendida a preço singular.
Edição Nº 15509
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