LEMBRANDO VELHOS CARNAVAIS
Era uma vez, aquele meu sagrado tempo colegial. Esse mesmo tempo. O TEMPO DOS BAILES DE CARNAVAL. Fica quieto porque a rima é proposital.
Por circunstâncias da falta de dinheiro ou do dinheiro contado, os bailes de carnaval me despertavam, me provocavam, me enfeitiçavam. E sempre que era carnaval, eu dava um jeito e... entrava. Mas... e cadê a mesa? O dinheiro da mesa? Aí era “de pé” que a gente ficava. O CLUBE DO SESI, na capital, foi o meu clube, a minha paixão. Não era sócio nem nada mas... ganhei um presente e tanto. Um PERMANENTE! E então, o carnaval no Clube do SESI é a saudade que eu gosto de ter.
Naquele outro carnaval, naquele meu dourado Monte Castelo, a multidão fazia um cordão na rua, esperando um bloco passar. E eu lá, pelo meio, de bobeira, na brincadeira. Fica quieto que a rima é só uma “maneira”. E um sujeito ali, esguichando rodó. Lembra do rodó? Fui lá, levei a ponta da camisa e o cara mandou um porre. Um porre de rodó! Fui nas alturas, fui na Lua, nas estrelas... E quando voltei ao chão, eu disse pra mim: “um dia ainda vou ter o meu rodó, todinho meu”. Mas aí, quando o suposto tempo do meu rodó chegou, o rodó não existia mais, evaporou, tornou-se proibido. O rodó era uma sedução, uma tentação. No desvario misturavam à cerveja e aí... era de parar o coração.
Naquele baile de máscara, em Fátima, eu também estava lá. E quando dei por mim aquela fruta madura estava segura pela cintura - que fruta madura, na raia, sempre foi a minha praia. Uma herança que vem dos tempos de internato. O grande enigma dos bailes de máscaras, era a mascarada manter-se sob a máscara, sem mostrar o rosto, sem tirar a máscara. Porque se mostrasse o rosto, se despisse a máscara... aí podia contar na certa... despia-se tudo o que tinha direito. E aí...  naquele baile de máscara, em Fátima, não deu outra...
A grande sacada dos bailes era a gente voltar “armado”. Armado quer dizer  “fichado”, com a garota do lado, lembra? E isso só pra te mandar um recado. Ma a nossa grande fantasia, atestado e diploma do machismo de “gente bom de gente”. Naquela festa no SESI, gatona no meio da família, porém sozinha, no abandono, carente de um dono. E eu lá... de olho comprido. Fiz um sinal convidando pra dançar. Não deu outra. No  fim da festa, voltei “armado”. Com a garota “fichada”.
E ainda me lembro outras vezes quando o carnaval,  no Clube de Sargentos da PM, na Cândido Ribeiro, enchia-se até na tampa, transbordava, derramava! Aquilo parecia um caldeirão, um panela de pressão! Era aí que as nossas roupas ficavam alagadas, encharcadas pelo suor, mas era O CARNAVAL. E quando alta noite a gente voltava pra casa... com a roupa secando no corpo, era aí que a gente se esfregava, descontava, se mordia, se amassava.
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Tinha oito anos de idade quando voltei de férias, do roçado, para a escolaridade no meu Grupo Escolar, na “Vila”. Fui recebido com a notícia de que no carnaval tivera o desfile de uma “Escola de Samba”. Nunca jamais eu tivera ouvido falar em “escola de samba”. Aí eu aloprei! Danou-se!
Na minha cabeça jamais poderia caber um “desfile de escola de samba”. Afinal, “desfile” era, para mim, coisa de Sete de Setembro; “escola” era o meu Grupo Escolar e aqueles valores misturados ao “carnaval”, não formavam nexo, sentido. Nem razão de ser.
Diante de um milhão de perguntas a que fiz, fiquei sabendo que, na escola de samba, quer dizer no bloco, todos vestiam-se iguais. Eu queria então saber se aquela vestimenta  se era a “farda”, o “uniforme” – vestuário do dia a dia do meu grupo escolar. E então, diante de tantas informações, tudo aquilo me confundia. E, confuso então fiquei.
Mais tarde e só mais tarde quando fui estudar em São Luís, as 11 anos, vi pela primeira vez o desfile de uma “escola de samba” e só então dissuadira-se todas as minhas dúvidas a respeito daquele intrigante assunto que durante muito tempo martelou o meu juízo. E até me lembro de um tema que foi cantado no carnaval, coisa que, aliás vinha dos discos de vinil.  Não era aquele o carnaval engraxado, desenhado, matriculado pra inglês ver, dos nossos dias.
E assim, quando no próximo carnaval, de férias na casa paterna, fiz célebres reuniões com a rapaziada mais adulta, daquele meu chão – pessoas que tanto quanto eu dos meus oito anos, basicamente não sabiam o que era o tal bloco e logo eu queria fundar uma “escola de samba”. Mas aí... tambores, cuícas, tamborins, vestimenta (fantasia) e tudo o mais e cadê o dinheiro? Aí... o projeto foi de água abaixo, já nasceu morto.
- Hoje quando me lembro dessa minha patacoada de querer fundar uma “escola de samba”, mais uma vez eu me convenço, de que tudo na vida tem o seu tempo. E, em matéria de carnaval, hoje tanto no rádio, como TV, na praça, na rua ou seja lá por onde tiver eu só encontro  um “zero no quociente”. E não digo mais, porque o carnaval não me diz nada, multiplicado por nada, absolutamente nada.