ASSIM COMO SÃO AS PESSOAS...
Lição da vida me ensina que “assim como são as pessoas são as criaturas”. Li e aprendi isso no para-choque de um caminhão. Aliás, que de início, não conseguia compreender a lição, pois que eu achava que “pessoas” e “criaturas” era tudo a mesma coisa. Certo também que nem frases de para-choque nem caminhões não se fazem mais como antigamente.
Mais tarde, porém, o tempo, senhor da razão e divisor de águas, me ensinou a lição com exemplo sobre exemplo. E assim já escrevi múltiplos textos sobre o assunto e os tais exemplos.
Ultimamente, por conta da enchente em que as hidrelétricas fazem dos ribeirinhos uma bola aos seus pés, tenho ido constante à beira rio qual um masoquista para viver e sentir o drama da enchente e também em busca daquele casal de batalhadores, a quem vou escrever um tema, neste espaço, em... GENTE QUE FAZ.
Nessa peleja, vejo um quadro: um homem que, absorto, dormia bêbado ou em coma alcoólica ao chão, uma  imagem indigna em si ou digna de lamento, tal a indignidade a que se submetia a “pessoa”. Ao seu lado, o seu cachorro, a “criatura”, que igualmente inerte e deitado ao chão ao lado do seu amo, cumpria a sua sina. E ali, ambos ao chão,  moribundos e à própria sorte -  tal a pessoa, qual a criatura! Eis a vida! E a lição do para-choque!
INCOMODADOS...
Moleque, aprendi que “os incomodados que se mudem”. Já vi isso tantas vezes. Também já escrevi sobre o tema. Imagine que o meu amigo Salvador, um juquireiro de berço que virou operário de primeira e construiu  com os próprios punhos a sua casa com uma estrutura e arquitetura invejáveis. Coisa “para criar filhos e netos”. Mas aí veio um vizinho e detonava o seu som a insuportáveis decibéis. Salvador, ofendido e incomodado, mudou-se.
Semelhante situação ocorreu com outro amigo, o “Zé de Uzino”, lá pras bandas do meu chão-natal. Esse, então, foi um estrago: o rapaz abandonou a sua propriedade  no meio rural com tudo a que tinha direito e que construiu ao longo de sua vida, onde criou a família. É que o vizinho de frente, “porta-com-porta”, explodia-o com o seu som nas alturas. Tanto ele quanto seus amigos de pândega e donos de carro. Zé viu a hora de um “desastre” mas conteve-se. Evangélico, buscou a resposta em Deus: Salmos 37:27 “Desvia-te do mal e fazes o bem e sempre terás onde morar”.  E mudou-se. Foi como me disse.

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Desde que toquei um sítio, onde fiquei por vinte anos, em terras que pertenceram aos pais do nosso editor Coló Filho, que observo e escrevo sobre o comportamento dos animais. E entre estes: as saúvas, as formigas, o peru, os guinés, os cachorros, os maribondos, os pintos, os gatos e por aí vai...
Recente, resolvi por dever do senhorio, enfrentar um exército de formigas-de-fogo que se estabeleceram em uma área livre à frente da minha casa. E ai de quem se aproximasse! As formigas “voavam”, espalhavam-se em batalhões, dominavam a situação e não tinha para mais ninguém. Era um sufoco em abrasadoras picadas a qualquer aproximação. Um tormento! Resolvi enfrentá-las com uma “bomba atômica caseira”, que mistura sabão em pó e sal de cozinha. Duas porções, dois mísseis! As formigas, dois dias depois mudaram-se para pouco mais adiante.
Em seguida, elas em seu novo quartel e segue a guerra. A cada aproximação, o batalhão guerreiro, linha de frente, vinha pra cima.  E logo, acionavam as demais. E aí era um desespero em abrasadoras picadas de formiga de fogo. Mas aí, novas detonações daquela “bomba”. No dia seguinte, novamente mudaram-se e estavam apenas  um pouco mais adiante.
Segue a guerra, com os mesmos contratempos e com as mesmas armas, tanto as de lá como as de cá. As formigas não aguentaram o tranco. Afora  as que  morreram juntas, solidárias, lado-a-lado, o grande exército mudou-se, desapareceu! E então, mais uma vez me recai duramente a lição. “Os incomodados que se mudem”.
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LIBANHA é uma preta madurona, outrora parideira, fala de sotaque, descendente quilombola, dona de “dois aposentos rurais”, tanto quanto “naifabeta” mas não se pense que é um tola jogada para as cobras. Tem um filho que embora “trabalhador danado”, rijo que parece de ferro,  contudo tem uma comunicação enrolada, “língua pregada”, características de um surdo-mudo, mas nem tanto. E, incapaz, muito menos.
O “mesmo”, por suas deficiências físicas, resolveu procurar um aposento - que aposento é o sonho de qualquer um, pra ficar sem fazer nada, falar da vida alheia e ficar jogando conversa fora na porta da rua e ter a garantia do salário ao fim do mês.  LIBANHA, esperta, foi doutrinar a sua cria, sobre como se destrinchar com peritos e entrevistadores do “ENE-ESSE-ESSE”.
E deu um baile! E contorceu-se toda! E encraviou-se toda! E revirou-se de ponta a cabeça, toda! E “desmangolou-se toda! Era Libanha, a ex-quilombola, fala de sotaque pesado, dona de dois aposentos  rurais e mãe de um negona nadinha de se jogar fora, ensinando aquele seu sangue a dar um drible e uma goleada na Previdência. Enquanto isso o cara é uma fera na lavoura, na pescaria, na cavação de poço, no serviço bruto e em tudo o mais. Faz festas e domingueiras de “reggue”, trabalha pelos laranjais da vida e tem um aposento – que ninguém é de ferro. Mas é como diz  aquele outro: “neste mundo quem menos corre avua”; ou como disse aquele “guey”: Neste mundo melhor se dá, quem melhor sabe mentir”. Afinal, são os retratos da vida.