Nascemos com estigma da curiosidade. Penso que, no primeiro momento de vir ao mundo, quando choramos, queremos dar a entender a nossa perplexidade diante de tudo e de todos. Com o choro, estamos a perguntar: que mundo é esse? E queremos dizer: - Estava tão bem no aconchego do útero de minha mãe e, de uma hora para outra, sou lançado para fora, onde há luzes, risos e muito frio. Chorando, já demonstramos a nossa curiosidade e nossa rebeldia. É a primeira manifestação de protesto, só que em recinto privado, sem o ...
Parece tautologia repeti o tempo, para falar sobre o tempo. Mas dizem que boa parte do nosso funcionamento mental ocorre inconscientemente, e que a consciência é uma parte bastante limitada de nossa mente. Daí, creio eu, a importância do tempo, uma vez que o nosso inconsciente é o depositário de todo um passado, que, de quando em vez, vem à tona. Com razão o adágio popular: Deus nos concedeu a memória, mas também o esquecimento. Ocorre que o esquecimento não existe. Nunca esquecemos nem o que nos acontece de bom nem o ...
Estamos a viver o tempo das partidas. E das partidas dolorosas, que nos ferem profundamente a alma. É como se estivéssemos num porto, e o navio, ao ressoar o seu apito pungente e, ao mesmo tempo, de um chorar derramado, estivesse saindo lentamente sob a visão, alegre e triste, de muitos lenços brancos ou de cores, a acenarem e a dizerem adeus definitivo. No meio da pluralidade das despedidas, alguém da família, ou mesmo um anônimo, pede a Deus que proteja e mesmo receba os viajantes que partem para o encontro com ...
Inicio este texto recorrendo a João Benedito de Azevedo Marques e subtraio sugestiva passagem do seu livro Democracia, Violência e Direitos Humanos, 4. ed., São Paulo, Cortez Editora, 1984, p. 16, em que, analisando as questões daquele momento histórico, quando arduamente e com profundo sacrifício, se lutava pela redemocratização do país, que vivia o estertor da ditadura militar, regime violento que ceifou as nossas liberdades por mais de vinte anos. Transcrevo esta exortação: “Os desajustes e as contradições do mundo de hoje parecem indicar a necessidade de se desfraldar a bandeira da ...
Gostaria tanto que fosse econômico. Aliás, digo mais: que todos nós fôssemos econômicos. Não o econômico da mesquinharia, daqueles de ter e não viver. Mas da economia para usufruir das coisas da vida. Não sei isso é possível nesse mundo em que vivemos, denominado pelos estudiosos de pós-modernidade. A ordem e a desordem é consumir. Precisamos, antes de dançarmos o último tango argentino, viver com intensidade os sabores que vida nos concede. Nem tudo está perdido, já afirmava um filósofo amigo meu do alto da sua sapiência cultivada na tradição do viver. ...
Conheci-o em 1975, logo que cheguei a esta prazerosa cidade. Seria uma grosseria preconceituosa afirmar que era um preto de alma branca. Não. Dizer isso é estupidez. Era um ser humano, acima de todos os conceitos e preconceitos, extremamente humano. Um grande amigo. De fala ponderada, a exercer um diálogo manso, mas reflexivo. A ele fui apresentado por outro grande amigo, o Dr. Edivaldo Cunha Amorim. Lembro bem. Foi numa tarde, dessas próprias de Imperatriz. Ensolarada e quente. O jornal O PROGRESSO, que ele criara como a profetizar o progresso desta cidade, ...
A corrupção é produto do capitalismo, como decorrência não só da avidez pelo lucro e como ganho excessivo. Tanto isso é verdade que se constata, no dia a dia, que, se lucro diminui - porém não deixa de existir, não havendo prejuízo, mas apenas redução -, o dono do capital não espera um só segundo, demite, gerando a crueldade do desemprego. A revolução é e deve continuar sendo a socialista, firmada na igualdade e na prevalência da cidadania. Ao fazer a leitura de A Construção da Igualdade e o Sistema de Justiça ...
A sentença teve uma conclusão incisiva, destilando um quê de contundente revolta. Cada fim de frase era pontuada, com a força do vigor repetitivo, pela expressão exclamativa "pronto!". Uma decisão que deve ter enchido de alegria, se dela tomasse conhecimento, o casal mais famoso do Brasil: Daniela Mercury, cantora baiana e do Brasil inteiro, e a jornalista Malu Verçosa, sua amada companheira, promovida à esposa, com direito à capa de revista de circulação nacional. Um espanto para alguns, uma verdade para outros, um fato inquestionável para muitos. Uma sentença de nossos tempos, ...