Aureliano Neto*
Nascemos com estigma da curiosidade. Penso que, no primeiro momento de vir ao mundo, quando choramos, queremos dar a entender a nossa perplexidade diante de tudo e de todos. Com o choro, estamos a perguntar: que mundo é esse? E queremos dizer: - Estava tão bem no aconchego do útero de minha mãe e, de uma hora para outra, sou lançado para fora, onde há luzes, risos e muito frio. Chorando, já demonstramos a nossa curiosidade e nossa rebeldia. É a primeira manifestação de protesto, só que em recinto privado, sem o estardalhaço das ruas. Queremos saber alguma coisa sobre essa novidade de estarmos ali, sendo observados por muitos olhares interrogativos, ora de parentes, ora de meros bisbilhoteiros, que querem levar adiante a boa nova do nascimento. Essa curiosidade é tão grande que, quando Cristo nasceu, além dos pais, dos animais e das pessoas humildes da região, visitaram-No alguns reis, que vieram de lugares distantes, para vê-Lo, venerá-Lo e presenteá-Lo com mirra, incenso e ouro. Depois que cumpriram a sua missão profética, retornaram para seus reinados, ludibriando a curiosidade de Herodes, que queria saber onde se encontrava esse novo rei para, evidentemente, concretizar a sua intenção maligna de eliminar o possível rival. Os reis magos, alertados, tomaram outro caminho, não intervindo no curso da história, para que se cumprisse a profecia da crucificação. Pois bem. A história é mais do que clara, e, de curiosidade em curiosidade, Cristo foi construindo a sua doutrina que revolucionou o mundo. E uma das indagações mais interessantes foi quando um indivíduo resolveu perguntar-lhe quem era o próximo, porque Ele pregava que tinha que se amar ao próximo com a si mesmo. Cristo, questionado pelo impertinente curioso, não titubeou e lhe contou a história do bom samaritano, cujo relato atravessou séculos e, satisfeita curiosidade inicial, até os dias atuais poucos têm sido bons samaritanos, já que a prática do venha nós tem superado a do vosso reino.
Sempre viajo. Por dever paterno e necessidade de cura dos males pessoais, São Paulo é a minha cidade de destino. Uma das minhas curiosidades é ler jornais. Chego a São Paulo e logo cedo, no raiar do sol (e lá o sol nem sempre raia), vou à banca de jornais e revistas, e, agora, de tudo (livros etc., etc., etc.). Adquiro os jornais de sempre: Folha, Globo e, às vezes, Estadão. Adquiro também uma ou outra revista, uma vez que sou assinante da CartaCapital. Se me perguntarem se compra a revista Veja, de antemão, respondo, com a secura que a resposta exige e mais um ponto de exclamação: NÃO! As razões são pessoais e ideológicas. Não suporto o discurso da direita. Bem. Fiquemos por aqui, porquanto respeito a diversidade.
Um dos problemas de São Paulo e como de toda cidade considerada grande é saber onde as ruas se localizam. Lembro que, certa vez, peguei um táxi para ir ao teatro. O taxista, vejam bem, um profissional que tem a obrigação de conhecer as ruas, se perdeu. Foi uma complicação, uma vez que temos essa mania de sair de casa em cima da hora. Mas, aviso: não era enrolação do motorista. Ele não sabia mesmo. Era habituado a atuar numa parte da cidade, portanto pouco ou nada conhecia do local para onde teria que prestar aquele serviço. A sorte foi que, em outro táxi, ia um casal amigo, que se deslocara de outra região. E, por telefone, fomos nos comunicando até que chegamos à avenida onde fica o teatro. Chegamos quase em cima do início do espetáculo, uma peça que tinha como atores Bibi Ferreira, com os seus quase noventa anos de idade, e o excelente Juca de Oliveira. Assistir valias todos os sacrifícios.
Esse grave problema referente à localização de ruas ou avenidas parece que está sendo solucionado. Os maiores informantes, que matam a curiosidade dos incautos, são os jornaleiros. Na Avenida Paulista, é uma festa. É só ficar numa banca que a gente tem a ideia do que se pergunta para os jornaleiros, que, pacientemente, prestam as informações. - Onde fica a Rua Augusta? Onde fica o Laboratório Delboni? Em que imediações fica a agência do Banco do Brasil? Ou onde fica o shopping tal? E os jornaleiros respondem: - Siga à direita, passando a primeira quadra, na segunda, bem na esquina. E Isso quase é o dia todo.
Parece que - não sei se com justa razão ou não - alguns jornaleiros ou prestadores de serviços em estacionamento resolveram solucionar o seu problema e os dos outros, cobrando pelas informações prestadas o preço módico de R$ 8,00. Tudo leva a crer que a moda está pegando. E quando pega, meu amigo, não tem como escapar dessa facada.
A reportagem registra o seguinte diálogo entre uma advogada e um dono de banca de revista: - Onde fica o posto da previdência social, pergunta a advogada. Responde o jornaleiro: - Custa R$ 8,00 a informação. Surpresa com a cobrança, advogada retruca: - Como assim? Não vou pagar. Resposta do dono da banca: - Então não sei. Em seguida, a advogada procura matar por si mesma a curiosidade. E, logo em seguida, encontra o que estava procurando. Com alívio, por não ser obrigada a desembolsar o preço da informação, encontra o edifício e diz: - Ah, é ali. Da próxima vez, pensou, saio de casa com todas as informações. De outro modo, o pagamento se faz necessário, porque ninguém trabalha de graça. Essa é a regra do sistema de nossas cidades, como ocorre com o costume que nos foi imposto de vigilância de carro não vigiado. Quem não paga?!
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