Substantivo cruel, a atormentar a todos nós. Mas, mesmo assim, clama o ditado popular: quem não deve, não teme. E quem deve, teme o quê?! Há toda espécie de dívida. Dívida em dinheiro, a mais comum, desde que inventaram esse bendito ou maldito instrumento de troca. E já se vão alguns milhares de anos. Dizem até que a história da dívida é a história do dinheiro. Mas há controvérsias, como rebate o bordão do humorista, ainda citado por aí afora. A dívida, afirmam outros, vem desde o escambo. Pois bem. Esse debate mereceria um tratado a ...
Aconteceu numa das nossas chamadas cidades grandes, com muito movimento festivo durante a noite, e baladas que ultrapassam ou invadem a madrugada, onde é comum os jovens se encontrarem e extravasarem, por todos os meios disponíveis, a força da sua alegria. Assim conto. O velho e experiente taxista fazia o seu serviço de rotina. Cansado, pois rodara desde o cair da noite e continuava o seu trabalho pela madrugada adentro. Eram três e tanta da manhã. Passava por uma dessas baladas, e uma jovenzinha, ainda no desabrochar da idade, sai trôpega do burburinho, pede parada ...
Marilena Chauí, filósofa reconhecida no mundo inteiro, capa da revista Cult, ano 19, n.° 209, do mês de fevereiro deste ano, deu entrevista, em que, analisando fatos políticos e econômicos, chega a fazer esta preocupante afirmação: “Vivemos um momento que fará 1964 parecer uma coisa muito simples.” Antes, esclareço: fazer referência ao pensamento de Marilena Chauí é mais do que uma obrigação, por se tratar de uma pensadora renomada, com posições científicas de esquerda, mas não da esquerda festiva retratada em slogans corriqueiros como o povo unido jamais será vencido, ou ainda “meu partido é meu país”, frase ...
Para todas as idades, para todas as épocas. Ou ainda: não haverá crianças débeis, se todas tomassem Emulsão de Scott: o melhor óleo de fígado de bacalhau, combinado com cálcio e sódio. Tonifica e cura todos os nossos males - apregoavam os entusiastas desse santo remédio. Vovó não é mais a mesma, sapecava a propaganda nas folhas de nossas revistas e jornais. No rádio, entre uma música e outra, o locutor chamava a atenção: pessoas pálidas ou com tuberculose, Emulsão de Scott resolve. Ah!, quantos de nossos pais não tomavam diariamente uma colher ...
Ensina a máxima jurídica, popularizada aos quatro cantos, que decisão judicial não se discute, cumpre-se. Ou ainda: o juiz só fala nos autos. Tanto a primeira sentença como a segunda só têm validade (e olha lá, hem?) para os juízes das instâncias inferiores. Os ministros do Supremo Tribunal Federal não contam. Na primeira hipótese, o STF sempre dá a última palavra. O que diz está dito. E acabou-se. Suas decisões são absolutamente definitivas. Sempre que provocado em ações e recurso constitucionais de sua competência jurisdicional, pronuncia-se. Às vezes, dependendo dos interesses em conflito, avança em temas ...
Joga a chave, meu amor, não chateia, por favor. Tou bebendo por aí, tou sonhado com você. Iê, iê, iê, iê, iê, iê, joga a chave, meu amor, não chateia, por favor. Essa é a súplica do malandro quando chega da farra e precisa ter a compreensão da mulher que está submissa no lar doce lar. Zangada, resiste em recebê-lo, e ele pede ao amor que lhe jogue a chave, por favor. Precisa do descanso da esbórnia. João Roberto Kelly, esse monumento da cultura do carnaval brasileiro, soube bem expressar nessa marchinha o sentimento de uma ...
Alguém já disse: viver é envelhecer. Se não me engana, foi Simone de Beauvoir. Talvez se tenha aí uma verdade, a depender de cada pessoa. Uns envelhecem com muita nitidez. Tanto no modo de ver o mundo e pensar como fisicamente; outros insistem em não envelhecer. Lutam bravamente contra o tempo e os sintomas materiais da velhice, fazendo de tudo para que a juventude não os abandone. Com velhice ou sem velhice, mais morremos que vivemos. No naufrágio do Titanic, todos se preocupavam com a morte iminente. Os músicos, não. Continuaram tocando. Impassivamente tocando, como se ...
Não é simples indicação de sinal de trânsito. Nem se encontra superada essa histórica dicotomia. Está, digamos, embaralhada, nos confusos tempos atuais, em que os movimentos de direita vêm tendo ressonância na Europa e no continente sul-americano. O perfil ideológico da direita, na concepção de Norberto Bobbio (Direita e Esquerda – razões e significados de uma distinção política), é caracterizado pelo inigualitarismo, enquanto a esquerda, como movimento de libertação, persegue o resultado de combate e derrubada de regimes despóticos, fundados na desigualdade entre quem está em cima e quem está embaixo na escala social, insurgindo-se contra uma ordem ...