Para todas as idades, para todas as épocas. Ou ainda: não haverá crianças débeis, se todas tomassem Emulsão de Scott: o melhor óleo de fígado de bacalhau, combinado com cálcio e sódio. Tonifica e cura todos os nossos males - apregoavam os entusiastas desse santo remédio. Vovó não é mais a mesma, sapecava a propaganda nas folhas de nossas revistas e jornais. No rádio, entre uma música e outra, o locutor chamava a atenção: pessoas pálidas ou com tuberculose, Emulsão de Scott resolve. Ah!, quantos de nossos pais não tomavam diariamente uma colher desse milagreiro remédio. Tá com enxaqueca, tome Emulsão de Scott. É batata!

Mas Emulsão de Scott era apenas um entre muitos remédios, que faziam parte do costume da cura fácil de nossos males, muitas das vezes resolvidos com uma reza que tirava o mau olhado e levantava a arca caída. A folha verde murchava, e a criança voltava a sorrir, no fulgor das traquinagens, minutos após a benzedeira cumprir o seu ofício de expurgar a doença pela raiz.
Tinha o sebo de Holanda. Dores no peito, sebo de Holanda. Dores nas juntas, sebo de Holanda. Servia pra combater muitos males. Reumatismo, sebo de Holanda. Criança, era o encarregado de ir à quitanda comprar o sebo de Holanda. Toda quitando que se prezava tinha que ter o bendito sebo de Holanda. Vinha enroladinho num invólucro de papel celofane, de cor opaca. Quando aplicado em mim, não gostava. Era algumas vezes aquecido, e como ajudava a aliviar a dor no peito, quando a constipação estava forte. Deve ainda andar por aí, pelas prateleiras de nossas farmácias, esse remédio que aliviou as dores de crianças e adultos. Não esqueçam, hem!?: sebo de Holanda.
Modernamente – mas nem tanto – e mais industrializado, concorrendo com a Emulsão de Scott, havia o Biotônico Fontoura. Esse fazia mais que milagre. Segundo Pelé, que foi seu garoto propaganda, era a receita do campeão. Quem não tomasse Biotônico Fontoura era um fraco. Não merecia o mínimo respeito. Abria o apetite e fazia do sujeito triste um alegre. Pobre não dava muito valor ao Biotônico. O sebo de Holanda era mais democrático, por ser encontrado nas quitandas das esquinas. No Éden, tradicional cinema da rua Grande, em São Luís, antes do filme, havia a publicidade. Na do Biotônico, aparecia a figura trejeitosa de um japonesinho, com os olhinhos miúdos indo de um lado pro outro. Japonês, a gente sabe, tá sempre rindo. Ri de tudo. E esse japonesinho da propaganda do Biotônico não podia ser a exceção. Risinho prali, risinho pracolá. E tome Biotônico. A rapaziada saía do cinema doida pra tomar Biotônico. Mas tinha que se conformar com o detestável óleo de rícino. Outra opção cruel para combater os males do estômago.
Ah!, não queiram saber, fui uma das vítimas desse famigerado e, mais uma vez, detestável óleo. Muito usado para fazer limpeza intestinal. Prisão de ventre, a solução mais em conta: óleo de rícino. A sua aplicação posológica era a mais antiga; o pai ou a mãe com o cinto de prontidão numa das mãos e com a outra a colher, daquelas grandes, com o óleo. A alternativa para o pobre-coitado do paciente era beber ou beber. Depois, aguardar o resultado, que não tardava muito. Era fulminante. Saía tudo que não prestava das entranhas do indivíduo. O óleo de rícino, além de horrível para ser tomado, tinha efeito laxativo devastador.
E o sal de fruta Eno? Num vidrinho azul. Ainda existente e na ativa, dizem. Não sei. Contra azia e má digestão, tome sal de fruta Eno. Aí vinha aquele chiado da sua efervescência. O sujeito, acreditando no efeito profilático, enchia o bucho de mocotó ou de carne de porco, das bem gordurosas, mais farinha-d’água, e, para prevenir o efeito catastrófico, recorria ao sal de fruta, que servia até mesmo para combater ressaca. Sal de fruta Eno ajudou muita gente a trabalhar na segunda-feira. Também gozou de muito prestígio o Leite de Magnésia Phillips. Um laxante e tanto. Fui a sua vítima. Conto: no Rio, foi submetido a uma cirurgia de hemorroida. Portador de prisão de ventre, com medo das dores, tomei uma dosagem de Lei de Magnésia. Foi tiro e queda. Quando a coisa veio, veio como se fosse uma avalanche. Recomendação médica: tive que deitar com as pernas pra cima. O Leite de Magnésia Phillips fez um estrago incontornável.
Suportamos muitas intempéries com esses remédios. Meu avô tinha sempre às mãos o famoso Elixir Paregórico, indicado para gases, dores estomacais e intestinais. Serviu, ao lado da Coramina, de uso rotineiro, para que ele, que sofria de muitos males, vivesse até os 76 anos de idade. Deus dá o frio conforme o cobertor. Os nossos remédios nos ajudaram a vencer o tempo. Quem sabe, um dia, vencerão a morte.