Não é simples indicação de sinal de trânsito. Nem se encontra superada essa histórica dicotomia. Está, digamos, embaralhada, nos confusos tempos atuais, em que os movimentos de direita vêm tendo ressonância na Europa e no continente sul-americano. O perfil ideológico da direita, na concepção de Norberto Bobbio (Direita e Esquerda – razões e significados de uma distinção política), é caracterizado pelo inigualitarismo, enquanto a esquerda, como movimento de libertação, persegue o resultado de combate e derrubada de regimes despóticos, fundados na desigualdade entre quem está em cima e quem está embaixo na escala social, insurgindo-se contra uma ordem injusta, precisamente por ser inigualitária. O valor fundamental da esquerda é a liberdade. Mas não o liberalismo. Por isso a sua luta contra os privilégios de classe. A direita é conservadora, opondo resistência às mudanças na concessão de direitos que eliminem ou reduzam as desigualdades, já que, por si, é inigualitária. Na Constituinte, que elaborou a Carta de 1988, foi criado um bloco de parlamentares intitulado de Centrão, que albergava os conversadores de direita, para resistir aos avanços propugnados pela esquerda. Ainda assim, a Carta da República vigente consagrou algumas importantes conquistas no campo trabalhista, como, por exemplo, os direitos sociais.
Numa síntese: a esquerda é progressista, e a direita, conservadora.
Historicamente, essa postura vem desde a Revolução Francesa, cujos deputados, na sessão de 28 de agosto de 1789 da Assembleia Constituinte, opondo-se à concessão do direito de veto ao rei, se agruparam nos assentos à esquerda do presidente, criando-se a partir daí uma tradição que se projetou até o ano de 1968. Essa arrumação topológica se transformou numa divisão politica. E o rótulo de esquerda passou a expressar a ideia de mudança, de justiça social e de igualdade, emergindo várias tendências de esquerda. No Brasil, Luís Carlos Prestes representou, após a revolução de 1930, a esquerda, ao se opor ao governo de Getúlio Vargas, tendo sido encarcerado cerca de 10 anos, até redemocratização em 1945. 
No curso da história, o conceito de esquerda passou a expressar as ideias defendidas pelos partidos comunistas e socialistas, atuando em regimes democráticos. O rótulo de direita passou a caracterizar os partidos conservadores, com uma tendência racista, de exclusão e de conteúdo extremamente bélico, com forte discurso contaminado pelo ódio. Os Estados Unidos e França são exemplos marcantes dessa inigualitária postura. Com candidatos conservadores avançando na luta pelo poder.
Um leitor de uma revista semanal, que omito o nome, escreve o seguinte: “Minha filha e irmão moram na França e os relatos sobre Marine Le Pen são aterrorizantes. O discurso é de ódio e ela insufla a população contra os imigrantes, principalmente mulçumanos. ‘A França para os franceses’, esse é o tema fascista da extrema-direita. Felizmente, apesar do momento que o País vive, por causa dos últimos atentados ocorridos em Paris, não foi desta vez, ainda, que ela conseguiu alcançar seu intento.” Pois bem. Esse discurso do ódio tem sido o fundamento da direita, com boa receptividade.
Dois livros publicados no Brasil sobre a esquerda e a direita. Um de autoria de Vladimir Saflate (A esquerda que não teme dizer seu nome), e o outro de João Pereira Coutinho, Luiz Felipe Pondé e Denis Rosenfield (Por que virei à direita). Cada autor justifica as razões pelas quais comunga com as ideias da esquerda ou da direita. João Pereira Coutinho diz que “virar à direita acontece nas melhores famílias. Aconteceu na minha. Eu tentei. Juro que tentei. Ser de esquerda tem as suas vantagens. Consola e alma e consola os outros.” Saflate faz referência a dois tipos de antiesquerdistas: os animados pelo fim do socialismo real e os formados pelas viúvas da esquerda, que, entre outros argumentos, afirmam que não dá mais para sonhar com o Estado de Bem-Estar Social e pugnam contra os programas de inclusão social. Acrescento: o mais ferrenho adversário da esquerda nela militou e dela se beneficiou. Há muitos por aí, inclusive com mandatos. É só olhar para direita.