Primeira história:

Aconteceu numa das nossas chamadas cidades grandes, com muito movimento festivo durante a noite, e baladas que ultrapassam ou invadem a madrugada, onde é comum os jovens se encontrarem e extravasarem, por todos os meios disponíveis, a força da sua alegria.
Assim conto. O velho e experiente taxista fazia o seu serviço de rotina. Cansado, pois rodara desde o cair da noite e continuava o seu trabalho pela madrugada adentro. Eram três e tanta da manhã. Passava por uma dessas baladas, e uma jovenzinha, ainda no desabrochar da idade, sai trôpega do burburinho, pede parada e entra no carro. Com muita dificuldade, diz a rua para onde quer ser levada e quase num muxoxo consegue pronunciar o número. Cai de imediato em sono profundo, literalmente apagando. O condutor do veículo, vendo a passageira desfalecer, mesmo assim, vai ao endereço indicado. Rompe a semiescuridão da madrugada e os esparsos respingos de uma leve chuva. Chega ao local murmurado pela passageira. Desce e tenta acordar a jovem esparramada no banco de trás. E nada. Insiste. E nada. Vai à portaria do prédio e pede informações ao porteiro a respeito da família da passageira. A resposta é afirmativa. É lá que ela mora. Pede que seja chamado alguém da família, pois está tendo dificuldade de acordá-la. O porteiro liga para o apartamento. Desce à portaria um senhor. O taxista mostra-lhe a jovem no banco de trás em total desfalecimento. O senhor se identifica como pai da moça. Mas, em vez de atender à filha, vira-se revoltado para o taxista e num rompante lhe diz:
- Isso é hora de você me perturbar. E aproveita para proferir uma seleção de impropérios, sob o argumento de que estava no sossego do seu lar e foi acordado àquela hora da madrugada.
O taxista, embora agredido, mas sem perder a calma, responde ao pai da jovem desfalecida, ou por excesso de álcool ou por uso de drogas:
- Senhor, eu lhe trouxe uma joia, sua filha. Por favor, retire-a do meu carro e pague a minha corrida. E não esqueça: leve-a para um hospital, porque ela está em estado de coma. E, atendida a sua súplica, saiu.
    Não sei por que me veio à lembrança Cora Coralina, no poema Aninha e suas Pedras: “Faz de tua vida mesquinha / um poema. / E viverás no coração dos jovens / e na memória das gerações que hão de vir.”

Segunda história:

O filho de 14 anos para a mãe:

- Vou sair para comprar um jogo de game. A mãe pergunta: - Quanto tu tens para compra. Responde o filho: - Duzentos e poucos reais. A mãe: - Não dá. O filho: - Compro com o cartão. A mãe; - Teu cartão ainda não foi desbloqueado. O filho: - Uso o do motorista. (Observação necessária: esse menino tem carro e motorista, mais cartão de crédito). A mãe: - Não, não usa o cartão do motorista. Vai até a cômoda e tira mil reais. O filho cumpriu a determinação e veio de lá com algumas notas enroladas na mão. A mãe: - Deixaste os duzentos reais. O filho: - Não. E, com as cédulas ainda nas mãos, foi para a compra.
Dias depois, começam a desaparecer joias da casa, como relógio Rolex e etc. A mãe desconfia, como não poderia ser de outra forma, da empregada. Contrata uma empresa de vigilância, que instala vídeos em todos os cômodos. Diz para o filho e para as pessoas da família. Os sumiços provisoriamente cessam. Aos poucos, com alguns intervalos, voltam a ocorrer. Um dos vídeos flagra o filho tirando uma joia valiosa de um lugar e pondo em outro, para, passado um tempo, fazer a subtração definitiva. A empresa mostra as gravações e diz para mãe que era o seu filho quem realizava os furtos. Logo, vem ao conhecimento da mãe que o filho faz uso de drogas. A mãe, preocupada, leva ao conhecimento do pai. Este, irritado, diz enfaticamente:
- Preciso trabalhar para ganhar dinheiro. Não posso me preocupar com “craquinho” (o filho?!).
Solução dada, para que pudesse trabalhar e ganhar dinheiro sem a preocupação do “craquinho”: comprou um apartamento em Miami e mandou para lá o filho, o “craquinho”, e mãe, a bisbilhoteira e delatora. Cumpriu-se a sanção paterna.
Essas duas histórias são absolutamente verdadeiras. Mostram as novas famílias: esfaceladas, sem amor, sem afetividade, sem compromisso, sem responsabilidade, egoísta, e alicerçadas em contas bancárias. É a nova “felicidade” a gerar infelicidades.