Maria da Conceição Evaristo de Brito, escritora, poeta, contista e romancista. Em 2015, com o livro Olhos d'água, foi laureada com o prêmio Jabuti, na categoria de contos. Algumas de suas obras já se encontram traduzidas para o francês, inglês e alemão. Titulou-se em mestre e doutora em literatura brasileira e comparada. Professa e pratica a arte da escrevivência. Assim, ela mesma o diz, na apresentação de sua obra memorialista Becos da memória: "...já afirmei que invento sim e sem o menor pudor. As histórias são inventadas, mesmo as reais, quando são contadas. Entre o acontecimento e narração ...
Por ela, faria o possível e o impossível. Por exemplo, ainda se não cumprisse, me poria de joelho para vencer os degraus na subida à Igreja da Penha, no Rio de Janeiro, uma façanha, diga-se, de muita convicção e excepcional amor. Façanha que não é para qualquer esquerdista ou direitista. Talvez um centro-direita da turma da mamata. Ou um esquerdista de mesa de bar. Também seria capaz de comer feijão todos os dias, ainda que não seja minha opção alimentar preferida. Alguma dúvida? Entendo. Todo brasileiro é maluco por feijão. Há as raras exceções. Respeitemos essas raríssimas exceções. ...
Podia ser qualquer dia. Mas foi um dia de domingo. Não tenho ideia do que se comemorava nesse dia. Alguma data festiva. Caía uma chuva bem fina. Dessas que molham pra valer. As nossas ruas e avenidas estavam cheias de carro. E de água. Tanto indo quanto vindo. Alguns com pressa e outros pouco ligando pro tempo. O sinal fechou. De repente, vi aquele rapaz. Sem camisa, ainda moço. Com aparência de velho. Tenho acompanhado, dia sim, dia não, a sua morte, como processo de deterioração não só física, mas moral. Quando o encontrei na primeira vez, nos ...
Na Constituinte, iniciada em 1.º de janeiro de 1987, cujos debates temáticos deram origem à Constituição de 1988, a direita (hoje entronizada no poder Executivo, Legislativo e Judiciário), representada por parlamentares conservadores, oriundos do sepultado regime civil-militar e eleitos pelas forças dominantes, convergiu para o Centrão, bloco reacionaríssimo formado por deputados e senadores do PMDB, PFL, PDS, PTB e de outras legendas de menor expressão. Na esquerda, estavam partidos como PT e PDT. O Centrão detinha maioria na Constituinte e representava setores da direita conservadora, tendo conseguido decidir votações importantes, como a questão referente à reforma agrária, ao ...
Fiquei na dúvida se no título colocaria o ponto de exclamação. Relutei. Mas, por via das dúvidas, resolvi fazer uso desse sinal exclamativo. Por quê, não me perguntem. Não sei. Continuo na dúvida. E, por estar na dúvida, melhor recorrer a ele, até porque a exclamação se encontra desprezada nos dias de hoje. Não muito distante no tempo, os jornais gostavam de fazer uso da exclamação, a evocar a atenção do leitor sobre alguma matéria sensacionalista. Agora, não há essa necessidade. Tudo, quando não é fake news, são assuntos corriqueiros. E, por isso mesmo, não há exclamação que ...
Há uma ministra do atual governo federal que, segundo as suas palavras, afirma, com veemência verborrágica, que estamos no alvorecer de uma “nova era”. Até aí tudo bem. Nada a opor. Em seguida, a erudita ministra, que ocupa a pasta da Mulher, Família e Direitos Humanos, ressalta a regra fundamental a ser seguida nessa “nova era”: “menino veste azul e menina rosa”. Pronto, nessa máxima filosófica, ética e moral, com pigmentação de crença religiosa, muitos começaram a polemizar; já outros, nem tanto. Alguns, preocupados com as cores azul e rosa, para distinguir menino de menina, entenderam que se ...
E se esta mulher respondesse não? Como seria o rito da história? Mas, diz o evangelho que, após a explicação do anjo Gabriel, ela, a virgem prometida em casamento a um homem chamado José, ciente de que o Espírito Santo desceria sobre a sua pessoa, como escolhida por Deus, aceitou ser a mãe do Filho de Deus, a quem teria que dar o nome de Jesus, e disse, com humildade, fé e convicção: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra.” Antes de concordar com a proposta do anjo enviado por Deus, os ...
Meu Brasil não é o de exibição de bandeirinhas verdes e amarelas. Também não é o Brasil de apenas cantar, em pose de sentido, o Hino Nacional. Meu Brasil não é tão somente o que ganha a Copa do Mundo, a servir de regozijo em passeatas ufanistas; mas também é o que perde, com a dignidade da cabeça erguida e não da subserviência. Meu Brasil tem várias cores. É o negro, o branco, o mulato, o pardo, o de alvos dentes, ou dos dentes amarelados, e ainda o dos banguelas, que emitem um sorriso trágico, ...