Por ela, faria o possível e o impossível. Por exemplo, ainda se não cumprisse, me poria de joelho para vencer os degraus na subida à Igreja da Penha, no Rio de Janeiro, uma façanha, diga-se, de muita convicção e excepcional amor. Façanha que não é para qualquer esquerdista ou direitista. Talvez um centro-direita da turma da mamata. Ou um esquerdista de mesa de bar. Também seria capaz de comer feijão todos os dias, ainda que não seja minha opção alimentar preferida. Alguma dúvida? Entendo. Todo brasileiro é maluco por feijão. Há as raras exceções. Respeitemos essas raríssimas exceções. Voltaria ao nobre ofício da advocacia, onde militei durante alguns bons anos. Sei que é cansativo e exigiria uma devoção sacerdócia. Mas, pela pátria amada, vale a pena retornar ao antigo ninho, onde lutamos (com alguns bravos companheiros) pela melhoria da prestação jurisdicional. Pela pátria amada, no exercício dessa histórica e nobre profissão, empunharia, ao lado dos companheiros/as as bandeiras de todas as liberdades, incluindo a de uma educação plena, sem quaisquer restrições ou censura ideológica.
Pela pátria amada, ainda que com alguma desconfiança (o que é natural, dadas as circunstâncias recentes), voltaria a ler o célebre jornalista, de extrema direita, Reinaldo Azevedo, que, de um momento histórico para outro nem tanto histórico, resolveu dizer coisas que antes não dizia. No site www.247, consta o seguinte: "O jornalista Reinaldo Azevedo afirma que a eleição nas duas casas do Congresso neste início do ano legislativo já está resolvida: Maia na Câmara e Renan no Senado; Reinaldo faz uma provocação, no entanto: 'Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) chega à casa com um currículo realmente inédito; não me ocorre o nome de outro senador que já tenha homenageado dois milicianos, membros de organização criminosa: um está preso, e outro foragido.'" Para quem ainda não se está familiarizado com essa nova nomenclatura, milícia é uma, como diz Reinaldo Azevedo, organização criminosa, com ativa participação de policiais, que tem como função específica assassinar pessoas inconvenientes, como ocorreu com a vereadora Marielle Franco, que foi executada no dia 14 de março de 2018, com a sequência dos atos filmada, e que, até este momento, as investigações, de forma concreta, não chegaram aos criminosos milicianos da trama e do brutal assassinato, embora sejam feitas meras referências inconclusivas a respeito.
Pela pátria amada, há muito já estaria engajado em uma luta, quem sabe, inglória, para combater o ministro colombiano da deseducação Ricardo Vélez Rodriguez. Por quê?, perguntar-me-iam. (Desculpe a mesóclise. Aliás, peço licença ao nosso famigerado golpista Temer para dela fazer uso.) Respondo: esse colombiano (só faltava este, não é mesmo?) veio para confundir e não para explicar. Nesse ponto o Velho Guerreiro, Chacrinha, estava certo. Ou melhor: certíssimo. Ora bolas, ninguém pode dizer nada, nem o pensador Leonardo Boff, que tem a doce mania de pensar e escrever livros, que o colombiano da deseducação tasca o rótulo de marxista-leninista, e, numa atitude autoritária, manda o pensador que nasceu em Concórdia, Santa Catarina, para voltar para Coreia do Norte, alegando que é o único lugar em que marxista-leninista de botequim é consumido. Ora bolas, Leonardo Boff é um pensador, um filósofo, que tem dado a sua contribuição, na formação da nossa cultura, debatendo ideias. Aí, vem um sujeito lá da Colômbia, erigido à condição de ministro para, em vez de debater ideias, desconstruí-las com absoluta arrogância e incivilidade. Pela pátria amada, entre Vélez e Boff, fico com este por ser portador, notoriamente, de uma massa cefálica mais arejada, mais aberta, para o debate. Assim, pela pátria amada, quem deve voltar para sua origem? Vélez ou Boff? A escolha é sua.
Pela pátria amada, vem a mim uma devastadora preocupação, já manifestada, neste pedaço de página, em outro momento. Essa preocupação decorre da leitura que fiz dos jornais, na qual consta a manifestação de magistrados e advogados sobre a possível extinção da Justiça do Trabalho. E, num sentido muito mais plausível, o esvaziamento dessa justiça. Pela pátria amada, antes que seja tarde, uma vez o Estado social, em que pesem as garantias dos direitos sociais na Constituição Federal, está sendo substituído pela força do neoliberalismo, o alerta da manifestação deve alcançar as organizações sindicais dos trabalhadores. Pela pátria amada, todo cuidado é pouco. Trump representa esse pensamento de denominação para enfeixar o poder absoluto dos Estados Unidos sobre a América Latina. A esse pessoal o que interessa não são direitos trabalhistas, e muito menos Justiça do Trabalho, mas os interesses dos que detêm o poder econômico. Há um provérbio que diz que se você encontrar um jabuti em cima de um galho, ou foi mão de gente ou enchente. Os Guedes que estão por aí, vieram mais como presentes de grego do que para atender as nossas lamúrias cotidianas. E, ainda pela pátria amada, cuidado, e muito cuidado, com essa história pra boi dormir, pregada pela insensatez do lucro desvairado: é melhor ter emprego do que ter direitos. Quem bem me avisa, também dizem, amigo é.
* Membro da AML e AIL.
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