Crônica da Cidade

Crônica da Cidade

Poemas e poetas

Em 2006, estive na FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty, evento cultural onde participam artistas da literatura brasileira e mundial. Paraty é uma cidade aprazível. Com ares de uma antiguidade respeitável. Na parte em que se realiza toda a programação da feira, tem suas ruas calçadas de pedras, que exigem de quem se desloca de um lugar para outro muito cuidado no caminhar. Mas é agradável participar dessa extraordinária feira, em que pessoas de quase todas as nacionalidades vão expor e discutir as suas produções literárias e a de quem esteja sendo homenageado. Este ano, estou de ...

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Qual é a última?

Como não frequento as redes sociais, não sei. As minhas informações eu as colho nas chamadas mídias alternativas, que há algum tempo não o eram. Esclareço para os menos informados: a mídia alternativa sobreviveu na época da ditadura civil-militar. Então, no período da censura braba, em que asseclas da ditadura torturavam e matavam, e a corrupção (Ponte Rio-Niteroi e etc.) corria frouxa, mas entre as paredes palacianas, sem um só zumbido, as questões mais polêmicas, dos bastidores do poder, vinham à tona através das mídias alternativas, sobretudo os jornais tabloides, como Opinião, Movimento, Pasquim, A Voz Operária, Ex, ...

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Vamos à guerra?!

Finalmente, por curiosidade, me apossei do decreto das armas, assinado pelo capitão e também presidente Jair Messias Bolsonaro. Além dessa importante e expressiva assinatura, por se tratar de um dos altos dignitários da República, constam, ainda, como anuentes, que consagraram com o brasão de sua caneta o decreto, o ex-juiz Sérgio Moro, que, de um pulo, saiu da magistratura para ser Ministro da Justiça, com poderes extraordinários para fazer o diabo que quisesse, ainda com a promessa explícita de ser alçado a Ministro do Supremo Tribunal Federal, e mais Fernando Azevedo e OnyxLorenzoni, os quais, por serem tão ...

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A loja e as moças

Quando a gente ultrapassa os trinta, como acontece comigo e muitos outros, surge essa história de “no meu tempo”. Pois é. No meu tempo – falava eu com um amigo -, as mulheres tinham toda a primazia. Nos ônibus e nos bondes, tinham preferência de fazer o trajeto sentadas. Disputavam essa prioridade com as pessoas notadamente mais velhas, distinguidas pelos cabelos encanecidos. No meu tempo, criança embirrava, mas não embirrava muito. Havia limites de embirramento. Os pequenos escândalos infantis, em lugares não muito apropriados, eram resolvidos com algumas educativas palmadas (ou chineladas, a dependerem do tipo de aporrinhação). ...

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Uma conversa vaidosa

Depois que andaram dizendo por aí que iriam desinvestir nos cursos de sociologia e filosofia, com finalidade de focar em áreas que gerem “retorno “ao contribuinte, irrompeu-me a interrogação exclamativa: em que pátria amada estou?! Nós mudamos ou eles mudaram? Não houve resposta. Mas, um pouco depois, a massa cefálica deu um suspiro e questionou: será que a possível nova medida educacional tem como objetivo fomentar profissionais sem formação ideológica? É. Cá comigo mesmo, quis aceitar essa sugestão do meu inquieto cérebro. 
No caminho dessa estapafúrdia insensatez, que tem a idealização de em ministro da deseducação, deu-se ...

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Pela mão de Alice

Estamos vivendo o século XXI, que ainda não se libertou das graves doenças do século XX, geradoras de tantas desigualdades. Boaventura de Sousa Santos, pensador renomado e sociólogo de prestígio universal, em seu livro Pela mão de Alice – o social e o político na pós-modernidade, 14. ed., 2013, faz a seguinte advertência: “O século XX ficará na história (ou nas histórias) como um século infeliz. Alimentado e treinado pelo pai e pela mãe, o andrógino século XIX, para ser um século-prodígio revelou-se um jovem frágil, dado às maleitas e aos azares. Aos catorze anos teve uma doença ...

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Carta para uma mulher que teve o marido assassinado com mais de oitenta tiros de fuzil

D. Luciana dos Santos Nogueira, sei que a senhora está passando por um momento de dilacerada e sofrida dor. O título dessa cartinha é longo, mas se faz necessário, D. Luciana, até porque, não sei se a senhora percebeu, paira um silêncio impiedoso. Na verdade, um silêncio de indiferença criminosa. Ainda assim, resolvi escrever-lhe. Saí do mutismo da indiferença. Mas advirto: não quero me intrometer na sua dor e angústia. As forças que mataram o seu marido, que dirigia um modestíssimo Ford KA, de cor branca, a transportar a sua família, entre os quais uma inocente criança de ...

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PEDRO RICO

Pedro Rico. Cor branca. Pele alvacenta. Parecia político, com jeito de deputado. Daqueles que usavam calça de linho branco, bem engomada. Ria que ria. O riso, sempre espontâneo. Demonstrava ter posses. Ou no vestir ou no falar. Sempre vestido de branco. Camisa e calça de uma alvura que o distinguia dos outros Pedros. Tinha o respeito. Da roupa e do riso cativante. E de ser Pedro. Talvez pela roupa branca, ou por ser branco, ou por apresentar-se com jeito de ter posses. Passava e dizia, com entusiasmo: — Quero te ver doutor! — Seu refrão preferido. Repetido e ...

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