Como não frequento as redes sociais, não sei. As minhas informações eu as colho nas chamadas mídias alternativas, que há algum tempo não o eram. Esclareço para os menos informados: a mídia alternativa sobreviveu na época da ditadura civil-militar. Então, no período da censura braba, em que asseclas da ditadura torturavam e matavam, e a corrupção (Ponte Rio-Niteroi e etc.) corria frouxa, mas entre as paredes palacianas, sem um só zumbido, as questões mais polêmicas, dos bastidores do poder, vinham à tona através das mídias alternativas, sobretudo os jornais tabloides, como Opinião, Movimento, Pasquim, A Voz Operária, Ex, Tribuna Operária, Repórter, Cadernos do Terceiro Mundo (uma revista) e outras publicações, que denunciavam, defendiam os direitos humanos e combatiam o regime autoritário, o qual era apoiado por esses mesmos que andam por aí. É só prestar atenção na história não oficial. Mas, por favor, esqueçam gente como Marco Antonio Villa, aquele da Ditadura à brasileira.
Em Imperatriz, nos idos dos anos 70, o jornalista Jurivê, o advogado Osvaldo Alencar, HiroshyBogea, também jornalista, e mais este aqui que vos fala, criamos uma revista. Demos a ela o nome de Momento, uma corruptela do tabloide Movimento, em que tratávamos de temas polêmicos referentes à região tocantina. Entre os quais, as lutas políticas e as matérias de economia. Sem deixar de lado, é claro, a grilagem do Pindaré, região de conflito agrário, que já havia sido túmulo de muitos trabalhadores rurais. Eu, por incrível que possa parecer, era advogado do INCRA, especificamente do Projeto Fundiário de Imperatriz e, ainda por cima, chefiava o Grupo de Discriminação de Terras Devolutas. Pois bem, esta história tem como finalidade lembrar a força da imprensa alternativa, da qual era um voraz consumidor. E entre os jornais que lia, estava Movimento, Opinião e Ex. O jornal Ex havia publicado uma grande reportagem sobre os conflitos fundiários na região amazônica, enfocando o problema do “grilo” do Pindaré. À época, visitava o INCRA, no caso o Projeto Fundiário, o ministro da Agricultura Alysson Paulinelli. Lembram-se dele? Estatura média, um sorriso sempre a aflorar nos lábios, bem vestido e bem falante. Fomos recebê-lo no aeroporto até então denominado Guilherme Cortez. Tinha lido o jornal Ex, e a reportagem sobre os conflitos de terra, com destaque para os grileiros, estava formigando o meu cérebro. Apresentei-me como um dos editores da revista Momento e fiz-lhes perguntas. Íamos editar o primeiro número, e a capa era sobre o “grilo” do Pindaré. Essa capa, ressaltando o teor da principal matéria, foi feita por um desenhista de nome Baixim, elaborada com um grilo (inseto) sentado numa tora de madeira. Baseado nas informações do Ex, fiz algumas perguntas ao ministro que ficaram sem resposta. Ainda assim, publicamos a reportagem, e a revista na região teve algum sucesso. Porém começou a ser construído meu caminho para demissão, que, diga-se, era o que tanto desejava. Precisava voltar a minha atividade advocatícia. Com urgência. Foi o que fiz.
Mas, vejam bem, a questão é: qual é a última? Me perguntariam: a última de quê? Ora, do capitão ou dos seus diletos filhos. Dei uma rápida olhada na mídia alternativa e venho a saber dessa história de trancoso. Isso: da ingovernabilidade. Essa conversa mirabolante se parece muito, mas muito mesmo, com aquela de Jânio Quadros, que, ao renunciar, alegou que fora obrigado pelas forças ocultas. Na verdade, como era um populista autoritário, queria voltar a palácio no braço do povo, como ditador. No caso da ingovernabilidade recente, seria um engodo falar-se em forças ocultas. Então, o fio alimentador da trama são as corporações; ou seja, sem sombra de qualquer dúvida: a democracia. De fato, é difícil governar numa democracia, porque exige diálogo, não só com as instituições agasalhadas no sistema constitucional, mas com os segmentos ativos da sociedade, entre os quais as representações de classe, que têm seus direitos vilipendiados.
Num primeiro momento, teve-se a liberação do uso de armas de fogo, como meio de defesa e de redução da criminalidade. Deve ser isso, não é mesmo? Um humorista desses nossos jornais fez uma afirmação condizente com essas liberalidades: o Brasil não é quartel, até porque no Texas porte de arma não liberado, é obrigatório. Mas, convenhamos, até prova em contrário, Texas é Texas. Ou ainda, veio a lume a expressão em que turma da luta pela educação foi tachada de “idiotas úteis”. Nem esse pessoal, pelo seu zelo, sequer foi chamado de inocentes úteis. Vem o José Simão e tasca o seguinte: “Os idiotas úteis. Os idiotas inúteis estão todos no governo! Rarará!”
O capitão tem tantos filhos. Cada um com um mandato. Vereador, deputado, senador. Com votação de dar inveja até mesmo a Tiririca. Cheguei, por tudo isso, a uma nefasta conclusão, antes que resolvam condecorar o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra: nosso povo, com raras exceções, por essa lucidez de escolha, são uns “idiotas úteis”.
* Membro da AML e AIL.
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