Há uma ministra do atual governo federal que, segundo as suas palavras, afirma, com veemência verborrágica, que estamos no alvorecer de uma “nova era”. Até aí tudo bem. Nada a opor. Em seguida, a erudita ministra, que ocupa a pasta da Mulher, Família e Direitos Humanos, ressalta a regra fundamental a ser seguida nessa “nova era”: “menino veste azul e menina rosa”. Pronto, nessa máxima filosófica, ética e moral, com pigmentação de crença religiosa, muitos começaram a polemizar; já outros, nem tanto. Alguns, preocupados com as cores azul e rosa, para distinguir menino de menina, entenderam que se trata de imposição fascista. Ora, convenhamos, vou meter minha colher nesse angu. Os fascistas de Mussolini usavam camisas negras e, como acessórios, porretes, chicotes e armas letais, que eram utilizados para espancar aqueles que se opunham ao regime fascista. E chegaram a matar centenas de italianos, sob o olhar da polícia, que fingia não ver os crimes praticados pelas gangues dos “fascio”. 

O fato é que a pedagógica ministra está preocupada com essa história de menino e menina. Um tema antigo, que, ao tudo indica, nos atormenta desde o início dos tempos, com algumas complicações, pois Deus, com o seu poder infinito, criou primeiro o homem. E é bom que esclareça que, na origem, conforme nos diz a Bíblia, não havia menino, nem menina. Portanto, não havia necessidade de Deus estabelecer essa regra distintiva do azul e rosa. A grande preocupação do Criador foi, do barro, fazer o homem a sua imagem e semelhança. A mulher-mulher veio como decorrência de que, no paraíso, fosse estabelecida uma socialização (nada a ver, ministra, com socialismo) do homem, nascido do barro, e da mulher, da costela do homem. Menino e menina ainda não tinham entrado na perspectiva criacionista, o que equivale a dizer que não havia essa sacrossanta determinação “do menino veste azul e a menina veste rosa”, como início da “era”. Ora, ora, ora, depois de tantos milhares de anos, do primeiro homem e da primeira mulher, vai-se implantar um novo tempo caracterizado pelo vesti azul e vesti rosa. Deve ser dito, e é uma necessidade que esclareça esse ponto, para que se possa chegar a “nova era”, que Deus não teve essa preocupação inicial. Fez apenas o homem a sua imagem e semelhança. E, aproveitando o sono do homem, fez depois a mulher, para a estafante e grave missão de ser companheira do homem, que, embora no paraíso, vivia uma insuportável solidão. Mas, como nem tudo é perfeito, ou seja, nem tudo é azul ou rosa, apareceu a serpente. Veio de mansinho, arrastando-se com cuidado, até chegar à mulher. Acrescente-se a isso a história da maçã. Daí em diante tudo se desmoronou. A paz passou a ser conquistada com guerra. O amor com a traição. O ódio subiu de cotação, e hoje faz parte das redes sociais. 
No princípio, após a concepção do homem e da mulher, era o verbo. E o verbo se fez homem. Deus mandou o seu Filho para resolver esses conflitos. Na época ainda não havia essa preocupação do azul e rosa. A distinção para turba foi feita entre Barrabás e Jesus. A turba optou pela libertação de Barrabás e a crucificação de Jesus. E Jesus, que venceu a morte com a ressurreição, continua sendo crucificado pelos exploradores do seu nome, que cometem as mais espúrias bizarrices.
Se a “nova era” da ministra consiste, de verdade, em “menino veste azul e menina veste rosa”, a pergunta que faz necessária é: e as outras cores como é que ficam? O presidente gosta do verde e do amarelo. Odeia o vermelho, considerada uma cor perigosa, porquanto socialista, comunista. Já eu, este escriba, não tenho preferência. Quanto a cores, sou democrata, embora estejamos vivendo um momento difícil para democracia, haja vista a invasão que ocorreu nos gabinetes de oito deputados do PT, que continuará na base do dito pelo não dito. E assim vai-se implantando o autoritarismo, sob a justificativa de que os tempos são outros, a “nova era” chegou.
Voltemos ao “vesti azul e rosa”. A “nova era” da nossa erudita e terrivelmente cristã ministra (ela fez questão de acentuar esse seu lado religioso, embora o Estado seja laico). Fez-me lembrar de um maranhense, Nonato Buzar, e de uma música de sua autoria, Vesti azul, que fez grande sucesso na interpretação de Wilson Simonal. As primeiras estrofes são assim: Estava na tristeza que dava dó / Vivia vagamente e andava só / Mas eis que de repente / Me apareceu um brotinho lindo / Que me convenceu... / Dizendo que eu devia / Vestir azul / Que o azul é a cor do céu / E o seu olhar também / Então o seu pedido / Me incentivou... / Vesti azul / Minha sorte então mudou. Essa música, que foi sucesso no Brasil inteiro, surgiu na época da pilantragem, quando Simonal cantou algumas coisinhas para popularizar ainda mais o seu público. Após todas essas elucubrações, penso que a ministra da “nova era” devia usar essa agradável música de Nonato Buzar, para promover as suas ideias revolucionárias. Já imaginou, meu caro amigo, o Brasil, de todos os pontos cardeais, vestido de azul e rosa. Uma das questões básicas seria como resolver a vestimenta dos times de futebol. Bem. Essa é uma questão que ministra pode resolver. Nela, não meto a minha colher.
P.S.: Lamento a morte do advogado e amigo José Clébis dos Santos. 84 anos de vida e de luta. No exercício da profissão, foi sempre ético. Participou das nossas grandes lutas. Deixo meus votos de pesar à família de José Clébis.

• Membro da AML e AIL.