Naquele chão de tanta pobreza havia um ditério que dizia: “o que a gente tem de passar não se bota na porta dos outros”. Hoje esse ditério não existe mais. As novas gerações não o conhecem. Era ali uma terra dos Filhos da Precisão, eles mesmos que viviam ao DEUS DARÁ. E quando se falava em “... Deus dará”, até parece que a terra tremia porque não tinha nem mesmo a última cuia de farinha, nem mesmo um único caroço de arroz, tampouco a última “bandinha de peixe seco” ...
MEMÓRIAS DA CASA DO ESTUDANTE (2ª. edição – revista e ampliada)
Era assim: A casa do estudante na Rua do Passeio, no Gavião, esquina de Vila Bessa, lembrava uma grande “colônia”, uma “república” e até mesmo um zoológico, como se dizia naquele tempo de moradias coletivas. Gente de várias cidades do interior. Tinha até do Ceará e do Piauí. Tudo estudante do segundo grau – Ginásio e científico. Grande maior parte uns mais pobres do que outros. Alguns empregados. Alguns outros que recebiam uma simbólica “mesada” dos pais e outros até mesmo dos avós. Era ...
Lição da Física e da vida me ensinam que “a toda ação corresponde uma reação...” Tenho usado e aplicado essa regra em argumentos nas minhas defesas criminais. E posso dizer do resultado simpático que o desfecho tem dado. Nesse diapasão e, de outro lado, também faz certo que “quem diz o que quer, ouve o que não quer”.
Aquela então cidadezinha de uma comunidade cristã, vivia órfã e carente de padres para conduzir espiritualmente o povo católico. O povo então vivia de joelhos ao chão orando e ...
Faz dias e esse título me persegue, me provoca e me desperta. Sinto-me ao dever/obrigação de tocá-lo em frente. De externá-lo, como dever de ofício. Qual o médium ao dever de seguir e “desenvolver” as faculdades de sua mediunidade. Coisas da espiritualidade – que é como dizem. E então, vamos nessa viagem...
Corria o ano de 1968 e lá se vão cinqüenta e dois anos. Eu estava naquele meu segundo emprego público, às voltas com o cursinho pré-vestibular, em pleno regime militar, naquela repartição de saúde pública, em que tudo ...
Ouso dizer que nossas mães, nossas avós, nossas tias, as amigas e comadres e vizinhas de nossas mães, avós e tias e tantas outras desse grande universo, em particular as menos endinheiradas em pés no chão, já foram peritas e práticas na indicação, ministração e no preparo de chás e beberagens e infusões e lambedor e emplastros para os seus filhos e netos e bisnetos e filhos de criação e agregados e outros em volta. Chás, infusões e beberagens e outros artifícios já foram o grande remédio de tantas gente – tudo feito ...
Era domingo, um dia assim um tanto quanto vazio, evasivo e parado por aqui, em que parece até que o vento não venta e que as palhas do coqueiro lá em cima se fazem inertes, desoladas, abandonadas em si mesmas. E tal como foram deixadas, lá estão. Até parece que está tudo igual, desde às seis da manhã até agora, tarde do dia. Até parece que nada se move; que está tudo como dantes e nada é igual a nada. E nada motiva nada.
Estão ali na rua, os três. Pra cima e pra baixo. Eles não andam. Eles correm. Mas não correm em velocidade como corriam aqueles atletas olímpicos da Grécia Antiga e tinham como prêmio uma coroa de louros, quer dizer: de folhas, do ramo de oliveira. Não! Também não correm como correm esfalfados aqueles cavalos do Jockey Clube, em que a vitória pode se dar por “um milésimo de segundo”. Não! Também não correm como correm os estróinas motoqueiros no trânsito por aqui. Também Não! Eles correm como ...
AGERMIRO DE BASTIÃO e SEU CIRÇO (Lendas da Valentia)
Argemiro de Bastião cuja língua do povo só dava conta de chamar AGERMIRO, era um roceiro, brigador, encrenqueiro e “confusista”. (Confusista: que pratica confusão). Mudou-se pras bandas do Canta-Galo, onde matou um, não deu passo em fuga e passou uma temporada na penitenciária. Quando voltou à sua terra de origem, capitalizava o seu tempo e experiências e escaramuças e vida-de-cão na penitenciária para posar de “herói”, ou “chefe” naquele pequeno mundo de roceiros e incautos em pés no chão. Pensamento, ação e herança maldita da penitenciária.
Viegas, Clemente Barros. (São Clemente papa e mártir). CLEMENTE vem do Almanaque de Bristol, antiga publicação do laboratório farmacêutico. Estudou as primeiras letras na escola da palmatória e dos joelhos ao chão, no sertão. Concluiu o curso primário (na terra natal), no tempo em que a escolaridade era levada a sério. Foi menino de recado e de mandado. Nos cursos Secundário e Técnico no internato da Escola Federal, onde ingressou via do “Exame de Admissão”. Cursou Direito, num tempo em que não havia celular, nem internet, nem FIES, nem as vantagens atuais. Não tinha livros, escrevia em papéis avulsos, taquigrafava as aulas ao verbo dos professores. Morou em casas de estudantes e cortiço, andava a pé, driblou o bonde, poucas roupas, curtiu a “Zona” e jamais dirá que “comeu o pão que o diabo amassou”. Trabalha desde os cinco anos, com intervalo dos onze aos vinte anos. Está na casa dos 73. Não brincou quando criança ou adolescente e na vida adulta tem três brinquedos que os leva a sério: 1 - Escreve a coluna CAMINHOS POR ONDE ANDEI; 2 - Escreve a crônica PÁGINA DE SAUDADE, Rádio Mirante/AM, domingos, há mais de dez anos; 3 - Tem uma “rádio”, com antena de 300 mm de altura, 1.000 a 1500 mm de alcance, com dois ou três ouvintes que, como você vê, “um que pode ser você”. É o rastro e a sombra de si mesmo. É o filho que veio e os pais que se foram. Superou milhares de concorrentes para nascer. É mais um na multidão e considera-se a escrita certa por linhas tortas, na criação do CRIADOR. Cumprimenta os seus interlocutores com votos de “saúde”! E diz aos semelhantes todos os dias que “...a vida continua”. (•) Viegas questiona o social.
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