“MALDITO SERÁ O CACHORRO...”

Faz dias e esse título me persegue, me provoca e me desperta. Sinto-me ao dever/obrigação de tocá-lo em frente. De externá-lo, como dever de ofício.  Qual o médium ao dever de seguir e “desenvolver” as faculdades de sua mediunidade. Coisas da espiritualidade – que é como dizem. E então, vamos nessa viagem...

Corria o ano de 1968 e lá se vão cinqüenta e dois anos. Eu estava naquele meu segundo emprego público, às voltas com o cursinho pré-vestibular, em pleno regime militar, naquela repartição de saúde pública, em que tudo aspirava, respirava, pairava e sustentava-se ao sabor do regime. E eu lá, sem dever e sem pagar!  Foi numa saudável manhã de expediente que ouvi alto e bom som, vinda de conversa alheia uma frase que dizia: “MALDITO SERÁ O CACHORRO EM QUE UM DELES LHE CORRER ATRÁS, PORQUE ENTÃO TODOS OS OUTROS IGUALMENTE TAMBÉM LHE CORRERÃO”. Talvez nem tanto nessa ordem. E, dessa afirmativa segue o desfecho. “Observe!”. E insistia: “ Observe!”.

A frase explodiu em mim com força de advertência. Afinal, até então, jamais  tinha ouvido tal assertiva. E fiquei com aquilo na mente. O mundo deu só algumas voltas e eu, em carne e osso vi a frase igualmente materializada em carne e osso: Sabe  você aquele grupo de cachorros com uma fêmea  no cio e os machos se juntam   em volta, na vadiagem e estabelecem a corriola que afinal se tem visto? Foi quando vi que naquele grupelho de caninos vadios, irrompeu-se uma breve briga entre dois deles –um dos quais em vantagem saiu-lhe correndo atrás. Foi então, quando todos os demais  lhe seguiram em perseguição. Isso eu vi!

Materializada a frase em que “MALDITO SERÁ O CACHORRO EM QUE UM DELES LHE CORRER ATRÁS...”, já fiquei atento, não porque estivesse a dever ou a pagar mas... pela mera observação da frase e do fato. O mundo continua na giratória e sem mais demora outro exemplo na minha cara volta a acontecer: Viajávamos todos dentro de um coletivo, no centro histórico da capital, quando ali, um passageiro acusa o outro de uma ilicitude qualquer. Ambos descem à altura de uma pracinha ali existentes e vão acertar as contas entre si. Foi quando metade do ônibus também desceu e foi prá cima daquele “MALDITO CACHORRO”. Outros tantos, pela rua, sem nada saberem do que havia acontecido, igualmente voaram pra cima daquele infeliz, “justiçando-o” com a língua e com as próprias mãos. Eis a vida!

Novamente aquela frase estava ali a perseguir o meu imaginário. Com o perpassardo tempo já estava astéesquecendo

Estava assistindo seguidamente a realidade de que...  “MALDITO SERÁ O CACHORRO EM QUE UM DELES LHE CORRER ATRÁS...” E já estava até  me esquecendo dessa frase que me vergastara o juízo quando leio no jornal de que no Rio de Janeiro, também  após uma briga  dentro de um ônibus, os contendores foram também acertar as conta lá fora. E com a perseguição geral, acabou sendo linchado publicamente no meio da rua. Essa mesma matéria dava conta de que a vítima (assassinado) seria INOCENTE. E então mais uma vez eu pude ver que... MALDITO SERÁ O CACHORRO EM QUE UM DELES LHE CORRER ATRÁS...

·    Sabe você aqueles vídeos que lhe mandam pelo WHATZAP, via celular?  Pois é! Tantos anos se passaram (tantos anos se passaram) e, recentemente eu recebo via whatzap, um vídeo com a seguinte exibição, tudo em carne e osso: É que um solitário leão,  quiçá espancado pelos embates da savana fazia-se perseguido por um bando de hienas. O vídeo ilustrava (ilustra) o  embate com a legenda  dos partícipes, “dando nome aos bois”. No vídeo  enquanto o leão se esquiva de uma, duas, três hienas, um bando de tantas outras lhe perseguem  insistentes, ferozes, implacáveis e covardemente.

O leão chega a morder e a enfrentar uma ou outra mas, com um bando de tantas sanguinárias e péssimas em tudo,  elas mesmas  os urubus da savanas, que se nutrem da carniça e da carcaça alheia e ainda com aquela gritaria debochada e sem  dar trégua ao felino, nem chance de escapatória, tal o círculo fechado que fazem,  não há leão que resista. Ainda que o leão tenha a força e seja até mesmo o símbolo e o exemplo da  força. Afinal está escrito que... “contra a força não há residência”. E nesse embate, novamente a lição, agora em paráfrase: “Maldito será o leão em que um bando de hienas lhe fizerem um cerco...”. Agora meu caro (leitor) a reflexão e o raciocínio serão encargos seus. Reflita como tiver, puder e lhe convier.

Olhando o texto que até aqui se faz, podemos constatar que o filme nacional que ora se vê em preto e branco e a cores e ao vivo, por ai e por aqui, travestido de REPÚBLICA e seus penduricalhos, também podemos ver que há um leão perseguido e encurralado por hienas – que são os abutres, oportunistas  e aproveitadores da savana, que se nutrem da carcaça e da desgraça alheia. Ainda que esse “alheio” seja o cidadão, o contribuinte, o erário. E se os filmes das telas ou das salas da vida são frutos da ficção, logo podemos ver que o fictício tem a ver com a realidade. Afinal, MALDITO SERÁ O CACHORRO EM QUE UM DELES LHE CORRER ATRÁS...”, ou como neste desfecho: “Maldito será o leão em que um bando de hienas lhe fizerem um cerco...”