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DOIS AMANTES E UM INTRUSO

Estão ali na rua, os três. Pra cima e pra baixo. Eles não andam. Eles correm. Mas não correm em velocidade como corriam aqueles atletas olímpicos da Grécia Antiga e tinham como prêmio uma coroa de louros, quer dizer: de folhas, do ramo de oliveira. Não! Também não correm como correm esfalfados aqueles cavalos do Jockey Clube, em que a vitória pode se dar por “um milésimo de segundo”. Não! Também não correm como correm os estróinas motoqueiros no trânsito por aqui. Também Não! Eles correm como se estejam fazendo um “exercício” regular, um “cooper” digamos, como aliás costumam praticar na sua rotina. E lembram aqueles bonitões e bonitonas, sarados e saradas na orla da paia ou nas pistas por aí. Eles que se vestem mais comportados; elas  visivelmente bem torneadas e “mostrando as partes” e, como se nada quisessem, mas incentivando a perdição, a tentação  – olhares e desejo em frustração. E elas, que se acham donas da situação, fingidas e no fingimento... nem aí...

Dois deles são “namorados” entre si. Melhor dizendo: o casal. Diz-se “namorado” porque nestes tempos e faz tempo, o que já faz tempo, a isso se chamava “mancebia”, “amasiamento”. Amantes. Embora que Roberto tenha adjetivado a isso como “amada amante”. Porém, diz-se “namorado” porque  é mais elegante. Menos agressivo, menos pejorativo. Mais sociável até. A palavra “namorado” soa bem em qualquer lugar. Dignifica, até.  Não é mesmo assim? Taí os motéis da vida que os digam. Aliás que hoje é “motel” mas e antes???... Antes era CHATÔ. 

Se lembra você  do CHATÔ? Aquele da bacia, ou uma jarra de água  (bacia e jarra de estanho, tantas vezes escoriadas), da toalhinha e do sabonete que era reutilizado por uma centena de quantos vinham depois? Sabonete, às vezes dividido em até três porções. E aquele sofrido ventilador que tinha por lá? Ainda bem, porque às vezes, nem, isso.  E ali sim: os legislativos da vida perdiam era feio: “um verdadeiro TOMA LÁ DÁ CÁ”!!!   As mamães que ficavam em casa, não posso dizer aqui que “se borravam”, tampouco que “se urinavam”, mas  se escabelavam, endoidaavam. Tinham o maior medo de suas filhas “moças” irem parar no chatô. E olha que a virgindade naquela época era como uma moeda forte. Um ouro! Era pré-requisito ao casamento. Não por nada, é que as moças ficavam mal vistas  “mal-faladas”. E, pior: “não era mais moça”. Isso era no tempo do atraso e da roda quadrada”. Nera não?!

Até parece que o chatô tinha uma maldição: Ave-Maria-Cruz-credo! Esconjurava Dona Rosa, depois de umas duas “cajibrinas” no Juízo, pois que foi lá no chatô que sua Rosita linda e portátil, “deu as carnes”. No chatô também tinha outra: se não era no dia seguinte, ou na semana seguinte, dias depois todo o mundo ficava sabendo, ficava falando. Podia ficar “em sete capas”, podia “ficar encubada”, toda escondida, sei lá o quê, mas o chatô não perdoava. Quem manda não ter moral prá chegar lá e ficar de bico calado?  Hoje não, tá tudo tão vulgar, de uma vulgaridade sem limites que o chatô fica no quarto ao lado. E papai e mamãe pra disfarçar, aumentam o volume da TV na hora do Jornal Nacional falar da Pandemia.  Ou, quando não é isso e porque já assistiram ao Jornal do SBT,  também no disfarce, põem e cadeira e sentam-se à porta da rua. E haja brisa!  Aí, é como diria aquele outro: “A molecagem é grande”!!!

O terceiro (te lembras do terceiro, né?) O terceiro é um INTRUSO mas está pelo meio. Ta  pelo meio e não abre nem pro trem carregado de dinamite, dessas que explodem um banco atrás do outro. E até, por vezes, pegas em quantidades estarrecedoras! E os bancos, acima do bem e do mal, distante de tudo e de todos e, como “regra de segurança” não informam o montante desmontado. Deveriam mesmo era derramar tinta na dinheirama prá não dar gosto nem dinheiro fácil para a bandidagem. Este (o terceiro), um MASOQUISTA de primeira, até parece que se satisfaz e se conforma e se realiza tão somente com a sua condição de INTRUSO, só pela gandaia. E, pelo visto os outros dois, de tão inexpressivo que é o “terceiro” não se incomodam com o masoquismo do intruso.

E lá se vão os três, no pique, na sua correria natural. Parece que  vão a lugar nenhum. Nestes tempos  em que aflora a temporada do cio dos quadrúpedes  - que CIO, em meio aos bípedes e racionais, todo o tempo é temporada e toda hora é hora, lógico então que aquela partícipe do trio está no cio. Sim porque “ninguém é de ferro”, pelo que aquele seu parceiro de ocasião, um aproveitador de plantão, aproveita o cio da sua companheira, esta também de ocasião. E de cio em cio, tocam a vida e a pândega. Até mesmo o terceiro e intruso masoquista que, pra deixar de ser besta, deveria mesmo era ser “preso e processado”. E ainda levar uma taca dos parceiros de xadrez.

E o terceiro, o INTRUSO, o que é que ele tem a ver com aquele vai e vem dos três? Não tem nada, vezes nada, absolutamente. nada. Mas ele quer mesmo é “estar na molecagem” , na curriola, no chafurdo, no furdunço, com dizem por ali. Afinal são três CACHORROS. Ela que está no cio; ele o namorado, o amante de ocasião, um tremendo aproveitador da inquietude alheia – sim, mas alguém tem que quebrar o galho e salvar a situação!  E o terceiro, um moleque oportunista, inconveniente, salafrário, metido pelo meio, um intruso que fica querendo se intrometer onde não é chamado e mais: plenamente ignorado. E, nestes tempos em que a palavra CANALHA, está muito em moda com canalhas pra todos os lados, diz-se então que o TERCEIRO é um baita de um canalha!

Pelo visto os três além de desocupados – já que poderiam prestar-se ao menos para fazer zoada (que queria dizer mesmo era “zuada”, porque tantas vezes dá vontade de falar errado) e espantar os ladrões de moto, ou assaltantes de celular que são tantos e que só aumentam cada vez mais -  são moradores de rua tal o estado físico e as condições de “asseio” em que se encontram. Fossem bípedes e racionais, logo se diria: são  usuários e até mesmo “traficantes”. Mas não, são verdadeiros... ... ... CACHORROS SEM DONO.
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Este texto nasceu da cena que nele em princípio se vê, quer dizer: nele se deduz. Deveria comportar-se em cinco ou seis linhas. Dez até, talvez. Para compor um texto variado, em assuntos diversos. E era só isso! Mas... qual uma cana que quanto mais se espreme mais caldo dá. Taí, deu no que deu! Quais os atores da cena foi o texto mais VADIO (para escapar do VAZIO), que já escrevi em toda a minha vida. Olha o bagaço!

Viegas que canta “o filho da p.***”, “a ponte que partiu”, “a folha que cai” e os “noiados da vida”,  questiona o social. Email: viegas.adv@ig.com.br