Antonio Cícero, compositor, poeta, crítico literário, filósofo e escritor brasileiro, que, recentemente, concorreu para uma vaga na Academia Brasileira de Letras, em disputa com outros intelectuais, não tendo infelizmente obtido êxito nesse certame, é havido como um pensador e poeta de grande respeito no meio intelectual. Em 1996, lançou o livro de poemas Guardar, que foi o vencedor do Prêmio Nestlé de Literatura Brasileira. O poema Guardar foi incluído na antologia Os cem melhores poemas brasileiros do século XX, organizada por Ítalo Moriconi.
Não quero colocar em discussão o talento de Antonio Cícero. O fato de ...
Tenho a subida honra de, acreditando na superada arte de escrever cartas, manter contato com Suas Excelências. Talvez em vão. Quem sabe?! Mas tentar se faz necessário. Para isso, faço uso de uma expressão que foi popularizada na época da Redentora pelo inesquecível Stanislaw Ponte Preta, que tinha por mania de denominar alguns notórios e famigerados deputados federais de depufedes, uma corruptela para indicar a obtusidade dos representantes do povo, ou melhor, de si próprios. Portanto, Suas Excelências tiveram um grande admirador, que tinha o esmero de garimpar os autores das besteiras que assolavam ...
Este verso de Fernando Pessoa me vem à alma, provocativo, todas as vezes que me ocorre a partida de um amigo. E muito mais ainda porque não é apenas um amigo, mas dois amigos, com os quais tive a humana e venturosa possibilidade, na passagem por esta finita dimensão, de com eles conviver. "'Stou só e sonho saudade." Nessa poética frase pessoana está todo um sentimento de vazio. Com a partida dos amigos para o encontro com o eterno, ficamos nós na solidão desta existência terrena e transitória. Creio que, por isso mesmo, certa vez perguntaram a Oscar ...
Com espírito aventureiro, há alguns anos passados, no finalzinho de 1959, resolvi concluir o curso de Direito no Rio de Janeiro. Minha tia Morena preparou a minha mala de couro, com algumas roupas, que se faziam necessárias para aquela incerta jornada, já que ia tentar a sorte na chamada cidade grande. Rio era Rio. E ainda é. Na verdade, nem ia bem para o Rio de Janeiro. Minha intenção era Curitiba, Paraná, onde me diziam que a educação superior era de primeira qualidade. Acreditava, como diziam naquela época os mais ousados, no meu taco. Bem. Quanta ousadia. Não ...
E tudo porque Raduan Nassar foi escolhido, por unanimidade, para receber Prêmio Camões de 2016. Solenidade supimpa, realizada no Museu Lasar Segall, no dia 17 deste mês. O Prêmio Camões é considerado uma das maiores honrarias da literatura em língua portuguesa, concedido pelos governos do Brasil e Portugal. Uma espécie de Nobel da literatura dos que escrevem em língua portuguesa, contemplando o conjunto da obra do autor. Muitos grandes escritores ganharam, e muitos excelentes literatos não foram agraciados. Todo prêmio tem essa característica contraditória. Cito alguns que receberam essa láurea: Mia Couto, Miguel Torga, João Cabral de Melo ...
Quer queiram ou não, a mulata é a tal. Mesmo porque o teu cabelo não nega mulata, porque és mulata na cor, mas como a cor não pega, mulata, todos querem o teu amor. Mas, contrariando esses louvores machistas, estão querendo, os afoitos e intolerantes de sempre, preconceituosos de si mesmos, cassar o mandato de rainha do carnaval, a mulata brasileira. Não sei se terão êxito nessa façanha destrutiva do que Gilberto Freyre chamou de "mulatismo cultural". Muita gente, entre as quais entro de mansinho, está demonstrando a sua insatisfação. A coisa, com licença da má palavra, sem ...
Rubem Braga elaborou, sem ter intenção, uma antologia da poesia brasileira, ao criar, no ano de 1953, uma página na revista Manchete, onde semanalmente eram publicados dezenas de poetas. E fez essa seleção até o ano de 1956. Em 1979, retornou à coluna, dessa vez com as publicações na revista Nacional, que era um tabloide que circulava como encarte nos Diários Associados, indo até 1990, ano em que o cronista morreu. A coluna era denominada A poesia é necessária. Recentemente, por iniciativa de André Seffrin, especialista em literatura brasileira, foram selecionados cerca de 160 poemas e publicados em ...
Nada morre para sempre! Alguma coisa sempre fica. De onde outra nasce. Porque a vida quer viver. Como um profeta a fazer premonições, Fernando Pessoa, na voz do seu heterônimo Álvaro de Campos, clama: - Não! Só quero a liberdade! Amor, glória, dinheiro são prisões! Em síntese: o poeta não quer outra vida a não ser viver.
O tempo é um eterno desafio do viver. O passado nem sempre é passado. Insisto e repito William Faulkner: - O passado nunca morre. Sequer é passado. Em A cor púrpura, um personagem, sentindo a opressão das circunstâncias, traduz ...