Caros Depufedes,
Tenho a subida honra de, acreditando na superada arte de escrever cartas, manter contato com Suas Excelências. Talvez em vão. Quem sabe?! Mas tentar se faz necessário. Para isso, faço uso de uma expressão que foi popularizada na época da Redentora pelo inesquecível Stanislaw Ponte Preta, que tinha por mania de denominar alguns notórios e famigerados deputados federais de depufedes, uma corruptela para indicar a obtusidade dos representantes do povo, ou melhor, de si próprios. Portanto, Suas Excelências tiveram um grande admirador, que tinha o esmero de garimpar os autores das besteiras que assolavam o País. E não eram poucos. Continuam muitos, lutando bravamente pelos seus interesses pessoais, ou em defesa dos interesses daqueles a quem servem como vassalos.
As S. Exas. Depufedes, esta despretensiosa e ultrapassada cartinha. Se não gostarem, joguem-na no lixo. Se gostarem, façam dela o uso que melhor lhes convier.
Antes, um lembretizinho: nos idos de 1964, na época da Redentora, aplaudida por muitos, os mesmos do impeachment, todos nós sabemos que campeava um autoritarismo explícito, com muito pau-de-arara e choque elétrico nos presos de então, denominados de subversivos. O então ministro da Guerra, Arthur da Costa e Silva, especialista em falar besteira, disse coisas de arrepiar os cabelos da careca atual do futuro ministro Alexandre Moraes: "Vivemos uma nova guerra da independência, na qual o movimento de 31 de março equivaleu ao gesto épico de d. Pedro às margens do Ipiranga." D. Pedro deve ter se sentido mal com essa grosseira comparação. O general ou marechal - não lembro nem me interessa saber o seu posto -, não se contendo com essa declaração histórica estapafúrdia, ao se manifestar sobre as torturas, declarou ainda: "As denúncias de torturas não passam de uma campanha bem organizada, com o objetivo de desmoralizar a Revolução" (isso mesmo, Revolução com R maiúsculo). Pois é. Torturaram e torturaram que a Redentora terminou morrendo desmoralizada.
Pois bem, Suas Excelências Depufedes, estamos atualmente com quase 13 milhões de desempregados, e a recessão atingiu um patamar brutal, que compromete a dignidade do povo brasileiro. Isso é mais do que tortura, porquanto atinge não só o desempregado mais a sua família. Vive-se o drama da intensa desigualdade. Uns poucos com muito, e os muitos sem nada. Segmentos da sociedade brasileira estão deixando a faixa da pobreza para sobreviver as agruras da miséria. A renda média do brasileiro diminuiu em 9,1%. E o detentor do capital continua ganhando muito dinheiro, sem gerar emprego. Bastam que sejam examinados os balanços financeiros dos bancos, instituições que passam a largo da crise, informatizando-se e reduzindo substancialmente o número dos seus empregados.
Suas Excelências Depufedes, esse é o quadro, que, recorrendo ao lugar-comum, é dantesco. E que felizmente não os alcança, nem aos seus familiares. Ainda bem. Ou ainda mal, porque só sente o drama quem padece na carne.
Mas os depufedes Rodrigo Maio, do DEM, presidente da Câmara Federal, considerado um político pró-mercado, segundo os analistas dos jornais do Sul, além de outros como o notório José Carlos Aleluia, do DEM, Celso Maldaner, do PMDB, e Vítor Lippi, do PSDB, resolveram nomear os culpados de toda essa situação. O chamado pode expiatório. E dizem, fazendo coro de sua grande descoberta: a culpa é da legislação trabalhista e da Justiça do Trabalho que a aplica. Conclusão essa de uma simplicidade doentia. O depufede Maldaner foi mais longe no diagnóstico, ao afirmar: "O maior inimigo do Brasil hoje é o Estado." Ah!, meu caro depufede Maldaner, por essa sua teoria, devemos acabar com o Estado. Cada um por si e Deus pelos menos favorecidos, sem direito a, na hora da confusão, recorrer à polícia, ou seja, sem cassetetes, ou bala perdida. E disse mais o depufede Maldaner: A legislação tem que premiar quem gera emprego e não punir. Aqui pune-se quem gera emprego. O nosso depufede só faltou dizer: revogue-se a Lei Áurea. Proteja-se o gerador de empregos e puna-se o trabalhador. Nessa concepção do ilustre depufede, o trabalhador foi predestinado a apenas trabalhar. Sem direitos. Revoguem-se os direitos sociais da Constituição Federal. Trata-se de letras mortas. Enfim, Suas Excelências, depufedes, como diz o depufede Vítor Lippi, temos uma indústria de ações trabalhistas. Criem-se, senhores depufedes, como sugestão deste escrita, alterando os direitos fundamentais da Constituição brasileira, uma lei, ou qualquer regra que proteja o pobre desprotegido do empregador, com uma simples frase: É proibido o trabalhador reclamar os seus direitos. Assim, Suas Excelências, acaba-se a indústria de ações trabalhistas. Aliás, não sei se os senhores estão de acordo, caminha-se celeremente para isso. A legislação trabalhista será terceirizada, e a Justiça do Trabalho, que, no dizer do depufede Rodrigo Maia, "não deveria nem existir", será extirpada pela perda da sua finalidade.
Ah!, Suas Excelências Depufedes, uma dúvida que me atormenta: quando vocês se candidataram, defenderam essas tão progressistas ideias, para ter os votos que tiverem, inclusive dos trabalhadores que vocês tanto odeiam? Seria bom esclarecer esse ponto controvertido nas próximas eleições, se ainda tivermos.
Obrigado pela atenção.
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