Todos nós temos um hoje. Que começa ao despertar do sono. Houve uma época em que o meu hoje era pela metade, considerando para isso a perspectiva do dia, com sol ou chuva. Trabalhava à noite e tentava viver durante o dia. Qual seria o hoje dessas pessoas excêntricas que resolvem, por conta de um ato de grande amor, ou um equívoco amoroso, vir a mundo? Como será o hoje de um desses seres humanos que são considerados invisíveis, pois não integram a estatística da mais rudimentar pesquisa, por serem “moradores” de rua? Com sol, sem sol, com ...
Em todos os campos de observação de todos aqueles que têm um compromisso ético, social e humanitário, já que é fundamental o dever e obrigação de pensar, pondo como centralidade o ser humano na essência da sua dignidade, como pessoa, como ser social, político (Aristóteles, no século V a/C já dizia) e moral, a conclusão irrefutável, porquanto evidente, é que, nos tempos atuais, a situação está mais para urubu do que para colibri, isso na tirada humorística do fenomenal Sérgio Porto, na voz do seu personagem Stanislaw Ponte e Preta.
Começo dizendo o óbvio: estamos em pleno século XXI – não parece, mas estamos -, e parte desse centenário do tempo já foi consumida. Nesse transitar, até aqui chegarmos, vivemos o teocentrismo, em que Deus ditava todos os nossos desejos, o renascimento, no qual o humanismo passou a ser o centro da arte e da ciência, o iluminismo, fundamentado na razão e na luta pelo exercício amplo da liberdade. Passamos pela modernidade e nos encontramos na pós-modernidade, em que o mundo praticamente renuncia do antropocentrismo para eleger um novo Deus, que, num leve toque mágico, resolve todas as ...
O título é longo, mas deve ser mantido, porque o texto será bem mais curto.
Além da live do desembargador de São Paulo, que, dizem, como infrator reincidente, resolveu agredir um guarda municipal (“O senhor não é polícia (...) não sabe ler?” – “Você quer que eu jogue na sua cara? Faz aí, que eu amasso e jogo na sua cara.” E etc., etc. etc. e tantos outros etcéteras.), os Estados Unidos, como sempre, transferiram para a nossa pátria amada os problemas da cura ou não cura da cloroquina, que, ainda mais, tem o complicado nome ...
O mundo está rodando e eu, aqui, meio parado. E, rodando, rodando, as coisas vão se transformando e, na mesma dimensão, a linguagem. Fala-se em plataforma para isso, plataforma para aquilo. E aplicativo pra cá, e aplicativo pra lá. Tanto que o pobre que precisa do pobre e necessário auxílio de emergência, se não fizer uso do aplicativo tal, ou da plataforma tal, vai ter que, no futuro bem próximo, como dizia Stanislaw Ponte Preta, comer capim pela raiz, deitado em berço esplêndido de uma dessas covas de algum dos cemitérios que ficam pela aí (linguagem desatualizada de ...
É chavão, mas precisa ser dito: esse isolamento nos aprisiona. Pelo menos a mim. Sou acometido dessa sofrência de ficar entre as quatro paredes, cercado de livros e música por todos os lados. É um modo de ir escapando. Outros, ermitães, convivem melhor com a solidão de estar isolado para se livrar desse desagregador vírus, que, quando não fere, mata.
Lendo e ouvindo música, encontrei-me com as notícias, nos jornais, nas revistas, todas on line, e uma canção da eterna Dolores Duran, para amenizar o vácuo da distância de não poder abraçar os amigos queridos.
Estava eu a assistir a um filme sobre o apóstolo Paulo. Na cena, ele conversava com Lucas, que cumpria uma de suas missões cristãs, fundamental para construção dos pilares onde hoje se assentam os postulados da Igreja. Lucas ouvia os ensinamentos de Paulo, que estava no cárcere, por ter sido condenado à morte por Nero, culpado de traição ao império romano, e Lucas, na penumbra da cela, transcrevia palavras de Paulo e as levava para a comunidade, que as multiplicava em cópias manuscritas e as enviava, como orientação sobre os ensinamento de Cristo, para as cidades distantes, ou ...
Recebo a visita de um amigo e de uma velha conhecida. Queriam conversar. Tanto que queriam conversar que vieram desprovidos dos celulares. Disseram-me, com a ênfase, que merecia tal fato, isso para os dias de hoje, que haviam deixado propositalmente os aparelhinhos em casa. Que bom, suspirei levemente. Encontraram-me na porta. Fato incomum, estava olhando o tempo e perscrutando o céu. Já era inicio da noite. Nesses momentos, não costumo ter a companhia do moderno e incômodo interlocutor. Gosto de ver o tempo. Que passa, roçando-nos como a brisa que vem do mar. E tenho essa mania besta ...