O título é longo, mas deve ser mantido, porque o texto será bem mais curto.
Além da live do desembargador de São Paulo, que, dizem, como infrator reincidente, resolveu agredir um guarda municipal (“O senhor não é polícia (...) não sabe ler?” – “Você quer que eu jogue na sua cara? Faz aí, que eu amasso e jogo na sua cara.” E etc., etc. etc. e tantos outros etcéteras.), os Estados Unidos, como sempre, transferiram para a nossa pátria amada os problemas da cura ou não cura da cloroquina, que, ainda mais, tem o complicado nome de hidroxicloroquina. De fato, os nossos “amigos” do Norte, que estão sempre presentes nos momentos mais conturbados da nossa vida, haja vista o golpe de 64, mandaram pra cá três milhões de comprimidos da tal cloroquina. Dois milhões foram doados pelo cloronaquinista Trump, que, como o daqui, pouco está ligando para quem se contamina ou morre da infecção do coronavírus. E mais um milhão foram doados pela empresa farmacêutica Novartis. A par dessas liberalidades capitalistas, que dão para desconfiar, pois a esmola quando é demais o cego desconfia, ainda não se sabe qual foi o destino de mais de um milhão e duzentos mil de comprimidos de cloroquina fabricados pelo Laboratório do Exército brasileiro.
O Ministério da Saúde, através de generais, coronéis e etc., têm recomendado o uso desse milagroso medicamento, a ser usado de forma preventiva ou profilática. Essa recomendação foi feita por escrito e “devidamente” divulgada. Porém, sem a participação de médico. Aliás, o nosso Ministério, que tem a finalidade de tratar da saúde do povo brasileiro, é dirigido por um general, que recentemente declarou que está cumprindo uma missão. Mas que missão? Pergunta necessária, em vista da atroz dúvida de se estar numa guerra, em que há necessidade de uma estratégia militar, ou na iminência de algum conflito bélico. Bem. São só elucubrações. Meras e vazias elucubrações. O general deve estar muito preocupado com o cumprimento de sua árdua missão médico-logística, nessa guerra travada com o inimigo invisível.
Mas, o pior de tudo isso é que essa enxurrada de comprimidos, doados e fabricados, precisam ser descartados, daí a campanha insistente contra tudo e contra todos. A Sociedade Brasileira de Infectologia, juntamente com outras organizações nacionais e internacionais, tem dito que a tal cloroquina é ineficaz para prevenção ou cura da Covid-19, não devendo ser usada em qualquer fase do tratamento. Alguns insistiram e morreram, não sem antes se ufanarem de estar tomando o tal medicamento. Outros, que tomaram e não sentiram os efeitos da doença, estão por aí fazendo loas ao tratamento. Uns tantos outros não tomaram o discutido remédio. Medicaram-se com alguns comprimidos para febre ou dor de cabeça e nada sofreram. Esses que escaparam ilesos, segundo dizem os entendidos, poderiam ter tomado qualquer coisa, até Sal de Fruta Eno e nada sentiriam. A explicação para isso: só os cientistas. Isso sem o ufanismo de se livrarem desse cavalo de Tróia, que nos foi presenteado pela insensatez.
No vendaval dessas confusões – coronavírus, cloroquina e o destempero do desembargador paulista -, só nos resta pensar numa sociedade que é constituída por pessoas, que devem ser tratadas como seres humanos. Bandidos ou não, ricos ou pobres, doentes ou sadios, ladrões ou honestos, homens ou mulheres, brancos ou pretos, homossexuais ou não, todos são pessoas humanas, a receberem tratamento digno dessa condição. Há uma veemente necessidade de se reconstruir as pilastras humanistas da solidariedade social. E ser tolerante.
Membro da AML e AIL.
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