Crônica da Cidade

Crônica da Cidade

O amor acaba ou começa

Uns – e não são poucos – dizem que sim. Outros, muito fiéis ao sentido transcendental desse sentimento, afirmam que não. A dúvida sobre esse ser ou não ser do amor tem provocado as mais acaloradas discussões, sobretudo no campo filosófico, psicológico ou, mesmo, da religiosidade. Antes de recorrer aos nossos consagrados poetas, que podem nos dar uma mãozinha na solução desse intrincado problema existencial, quero dizer-lhes que sou adepto dos que pensam na eternidade do amor, enquanto quem ama estiver trocando passos, ainda que trôpegos, nessa terra de amores e de muitos desamores. Mas não sofro do ...

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Apesar de tudo...

Apesar de tudo, ou apesar de você, ou, ainda, apesar de todos nós, como diriaa sentença em sua lógica: não há mal que venha para o bem, nem bem que venha para o mal. As coisas acontecem. Se não acontecerem, a gente faz acontecer, ou fazem-nas acontecer. Hoje estou cheio de “ou”. A bem da verdade, adoro “ou”. Possibilita-me alternar o pensamento. Ora vou para um lado, ora vou para outro. Sigo a marcha da maré. Que enche e vaza. Assim somos nós: enchemo-nos e esvaziamo-nos. Todos os dias. E não ficamos enjoados.  Nesse zanzamento de ...

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João Batista, o Bom Ladrão

Na véspera, pelos inúmeros destaques, fora um dia de muitos crimes. Isso nos leva à grave conclusão: o crime está cotidianizado. Ou os jornais os estão cotidianizando. Não sei. Sou um tanto socrático. Nada sei, ou só sei o suficiente para ir levando a vida. Mas... Peguei os jornais, para ter uma ideia de como as coisas estão indo. Nada de diferente. Repetindo a expressão hamletiana: há algo de podre no reino da Dinamarca. A página policial cheia de tragédias. Vejamos: Ladrão assalta ônibus; Traficantes são presos com crack; PM captura duas pessoas com revólver calibre ...

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Sonhos

Todos sonhamos, ainda que acordados, mas sonhamos. Mesmo que os sonhos sejam pesadelos, são infelizmente sonhos. Vivemos e sonhamos. Sem trégua. Muitas vezes sonhamos mais que vivemos. E os sonhos podem ou não se realizar, na mesma medida em que sonhamos. Se não se realizam, azar de quem sonha. Quando se realizam, na proporção dos sonhos sonhados, vem a exaltação da conquista: – Realizei o sonho de minha vida! Ou porque encontrou o grande amor. Ou porque descobriu, num átimo de uma carícia, que está sendo amado. Ou porque conseguiu a cura da doença quase incurável. ...

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MEDOS

Quando o medo, esse fenômeno psicológico de forte caráter afetivo, nos acomete, aprisionando-nos do acordar ao dormir – e principalmente ao dormir –, impõe-se a nós mesmos tomar algumas providências pessoais, para não descambar para a ideia fixa de que, em cada esquina, vamos encontrar à espreita o inimigo, que nos subtrairá algum bem, sendo o mais caro deles a vida. Quem não tem medo? Eis a indagação universal a nos atormentar, provocando-nos respostas ou dúvida a todo segundo da nossa falível existência. Lendo, certa vez, um conto de Paulo Mendes Campos, cujo livro se encontra ...

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Olha a faca!

(Olha a faca!) Olha o sangue na mão. Ê, José! Juliana no chão. Ê, José! Outro corpo caído. Ê, José! Seu amigo João. Ê, José!... Amanhã não tem feira. Ê, José! Não tem mais construção. Ê, João! Não tem mais brincadeira. Ê, José! Não tem mais confusão. Ê, João!... Esta canção de Gilberto Gil, Domingo no parque, relata a história de dois amigos: José, o rei da brincadeira, e João, o rei da confusão. Um trabalhava na feira, e o outro na construção. Dois personagens que continuam persentes no cotidiano de nossas cidades. Mas João, o ...

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D. Zezé

Já não me lembro mais da sua pessoa. Se era alta, baixa, tipo de cabelo. Branca sei que era. Mas apenas não me ocorrem os traços da sua pessoa física, que se perdeu na passagem do tempo distante. O tempo tem essa força passageira diluidora. Devastadora mesmo. Sepulta algumas de nossas ternas lembranças, deixando-nos órfãos das pessoas que, por um momento, ainda que por um exíguo momento, as tenhamos amado, ou a elas devotamos uma ternura, próxima da fronteira do amor. D. Zezé fora uma delas. Quando passo pelo Codozinho de Cima, em frente onde fora ...

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O Mendigo e o Cachorro

Amar depende de quem se ama. Pode-se amar a pessoa amada. E até não ser amado pela pessoa que se ama. Mas ela é amada. Alguns, no ato de amar, são fetichistas: amam os pés da pessoa amada, ou amam o nariz um tanto afilado, ou a suavidade da voz, ou ainda inteligência e mesmo até a burrice. A não ser os sádicos, ninguém ama a grossura, a indelicadeza, o mau humor, a falta de afetividade, o desrespeito. Muito menos o silêncio, como desvalor da pouca atenção dada à pessoa amada. Ah!, ia esquecendo, há os ...

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