Crônica da Cidade

Crônica da Cidade

Bem-te-vi

Aureliano Neto*

Ainda, de todo, não havia acordado. Olhei para a janela e percebi, num relance, alguma luz insinuando-se a penetrar pela opacidade do vidro canelado. Os restos da madrugada insistiam em permanecer no horizonte, embora percebesse que o dia se aproximava perseguido por alguns tímidos raios avermelhados que prenunciavam o despontar do sol. Não levantei. Ao contrário, apreguicei-me, ficando a estremunhar-me na cama. O dia anterior não fora dos melhores. Cansativo do começo ao fim. Queria curtir-me um pouco, ainda que fosse, em rápidos devaneios. O corpo sucumbira ao sono. Como enfatizavam meus ...

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Buscar o Tempo Perdido

Aureliano Neto*


Sou patologicamene pessoano. Por isso, alinho-me a sua poética quando, em O Guardador de Rebanhos, Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, reflete o seu pensar estético afirmando que “Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo.../Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer/Porque eu sou do tamanho do que vejo/E não do tamanho da minha altura.../Nas cidades a vida é mais pequena/Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro./Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,/Escondem o ...

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Ganhar e Poupar

Aureliano Neto*

Não costumo poupar. Mas não se trata de poupar elogios, ou coisa que o valha. Não é bem isso. É fazer poupança, guardando dinheiro sob os cuidados de um banco, ou qualquer dessas instituições financeiras, que atravancam as nossas ruas e avenidas, com enormes placas de publicidade convidativa. Convicto, faço parte da grande maioria dos brasileiros, que, segundo estudos feitos por abalizados economistas, não tem por hábito poupar. Essa natureza de não poupador de nosso povo foi elevada à condição de grande notícia dada pelas nossas televisões, com direito à chamada de ...

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11 de Setembro

Aureliano Neto*

Setembro, para mim, sempre foi um mês agradável. De um semblante jovial, afagado pela beleza das flores de primavera, que se vestem em trajes iridescentes, para conceber um quadro de alegria nas manhãs ensolaradas. Assim, trata-se de mês típico, com indumentária própria, que difere do mês agosto, que, por superstição, muita gente o tem como azarado, apresentando-se como placo da ocorrência de grandes tragédias não só nacionais como internacionais.

O mês de setembro é marcado por alguns acontecimentos que o diferenciam dos outros meses do nosso calendário. Cita-se que, ...

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Cheque? Pra quê?

Aureliano Neto*

Anúncio enfático, bem à vista, numa casa comercial, onde fui comprar alguns produtos para ludibriar a minha diabetes, que os entendidos também chamam de mellitus: “COMUNICADO – Informamos aos nossos clientes que não aceitamos cheques.” E, sem maior cerimônia: ponto final, sem sequer um reles sinal de exclamação. Vejam bem, com esses comunicados que se encontram espalhados por aí afora, o cheque chegou a essa situação de absoluto desprezo. Quase ninguém o quer. A justificativa plausível é que os comerciantes têm medo – na verdade pavor - da inexistência de fundos, que ...

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