Em sua décima geração, o Honda Civic incorpora um visual mais agressivo, interior ampliado e um equilíbrio dinâmico superior. O tradicional sedã da marca japonesa há muito tempo deixou de ser o best seller do segmento, primazia que ficou com o sóbrio Toyota Corolla. Vice-líder entre os sedãs médios, o Civic voltou a vender bem após a renovação completa.
No caso do Novo Honda Civic EXL, a marca foca nos consumidores mais tradicionais, aqueles que já possuem um Civic anterior. Ou seja, aceitam bem motorização flex sem turbo, querem visual mais discreto, porém com luxo, além de muito conforto ao dirigir.
Sem querer chamar muita atenção, o Novo Honda Civic EXL acaba por fazer o contrário, mas cumpre bem seu papel de intermediário top, já que o Touring é quem realmente apresenta performance e eficiência energética superiores.
Com preço salgado (R$ 105.900), o Novo Honda Civic EXL poderia ser mais barato pelo que oferece. Além disso, a frugalidade do CVT não foi sentida no uso urbano em nossa Avaliação NA, bem diferente do esperado.
Lembra um personagem de anime (desenho animado japonês) olhando de frente. Mas, em certo ângulos, há quem diga ser um esportivo. De qualquer forma, embora desagradece alguns, a frente do Novo Civic trouxe de volta um pouco da jovialidade da geração oito, aquela do New Civic, que agrada tanta gente.
A culpa da semelhança com o anime recai sobre a barra cromada proeminente que imprime um olhar raivoso, agressivo. Ela também dá um toque de esportividade e jovialidade ao Novo Civic, assim como as vistosas lanternas em formato de bumerangue, integradas ao desenho da tampa e dotadas de LEDs, diodos também presentes nas luzes diurnas frontais.
O perfil da carroceria é bem aerodinâmico, quase um cupê, harmonizando-se bem frente e traseira. As luzes indicadoras de posição nos para-lamas dão um toque de importado ao Civic 10, pois são obrigatórias nos EUA. Os para-choques têm aspecto com toque esportivo, assim como as rodas de liga leve aro 17 polegadas.
O ambiente interno do Novo Honda Civic EXL é escuro, mesmo teto e colunas são pretos. Os bancos em couro, portas, painel e demais revestimentos, igualmente escurecidos. Se tivesse bancos em tecido, facilmente seria confundido com a versão Sport. Faltou um teto solar elétrico para clarear um pouco mais o habitáculo. Mas no geral agrada.
O painel tem revestimento central metalizado em tonalidade cinza com relevos, enquanto partes do volante multifuncional com paddle shifts, console e multimídia possuem acabamento em preto brilhante. Chama atenção o túnel central elevado com elemento vazado e um porta-copos/objetos bem resolvido.
O quadro de instrumentos é análogo-digital, sendo muito interessante seu display central TFT com conta-giros semicircular, velocímetro digital, computador de bordo e um enorme econômetro. Estranhos são os níveis de combustível e temperatura da água, compostos por barras luminosas e graduais, não harmônicos com a tela principal.
No volante, chama atenção o regulador de volume (muito) sensível ao toque. Os comandos de mídia, computador de bordo (i-Mid) e piloto automático possuem revestimentos plásticos que aparentam certa fragilidade e baixo custo. Sem keyless, o Novo Civic EXL o convida a dar partida na própria chave…
A multimídia tem tela sensível ao toque e belo visual. O navegador GPS é de fácil manejo e as demais informações são apresentadas da mesma forma, sendo bem resolvido o conjunto. A câmera de ré tem três visualizações, mas não há sensor de estacionamento.
Junto com GPS, mídia, telefonia e outros sistemas, o display também reproduz os ajustes do ar-condicionado, que é dual zone. Sobre o conjunto há um pequeno botão para ajuste do brilho da tela. O dispositivo tem hot spot Wi-Fi e sistema Android Auto e Car Play.
Já a alavanca da transmissão é bem posicionada e conta com funções do Brake Hold (que mantém os freios acionados com o carro parado e engatado), freio de estacionamento eletrônico e a função Econ. Há uma base logo à frente para smartphone e passagem de cabo para recarga mais abaixo, no elemento vazado, que tem entrada HDMI, USB e fonte de 12V. Um segundo plugue USB fica entre os bancos.
Nas portas, o acabamento é bom, assim como do painel frontal. O porta-malas tem botão próprio na entrada do motorista, que também dispõe do comando para rebatimento elétrico dos espelhos retrovisores. Falando nisso, o interno é apenas dia e noite. Faltou um eletrocrômico. Também faltaram saídas de ar para o banco traseiro, que tem três apoios e cintos completos, além de Isofix e apoio de braço central com porta-copos.
O espaço geral é muito bom e surpreende o arranjo na parte traseira. A altura interna é também muito adequada. Já os bancos são bem confortáveis. O do motorista tem ajuste de altura e nada mais. Por R$ 105.900, bem que poderia ter ajustes elétricos, não? Pelo menos o sistema de som é bom, assim como o espaço generoso do porta-malas com seus 519 litros.
Como a proposta da Honda indica, o Novo Civic EXL foi feito para ter um desempenho bom, mas não surpreendente. Agora, reforçado por um câmbio CVT e embalado num pacote estrutural muito bem equilibrado.
O propulsor 2.0 i-VTEC FlexOne alcança rotações elevadas demais para potência e torque, mas o sistema VTEC garante um funcionamento mais plano e agradável na maior parte do tempo. Os 150/155 cv e 19,3/19,5 kgfm são alcançados em 6.300/4.800 rpm, respectivamente com gasolina e etanol.
Estão bem distantes do 1.5 Turbo, mas são adequados para a categoria, que ainda faz uso de motores grandes e aspirados. Ele tem boa resposta na aceleração e retomada, mas graças ao CVT, funciona a maior parte do tempo entre 2.000 e 2.500 rpm. Rodando a 110 km/h, não passa de 1.800 rpm. No modo S, alcança níveis mais elevados, mas o CVT é suave demais para pretensões mais esportivas.
Sua ênfase é o conforto ao dirigir, com aceleração linear, embora tendo de equalizar sua principal característica com a simulação de marchas, para quem ainda não se desprendeu do câmbio automático tradicional.
O CVT deixa o 2.0 Flex um pouco mais manso, mas nada que o desabone em performance. O que chamou a atenção, negativamente, foi a falta de frugalidade do Novo Civic EXL em uso urbano. Consumo alto mesmo. Com etanol, ele não passou de 6,5 km/litro, e isso em trechos totalmente planos. Com gasolina, fez apenas 8,9 km/litro. Desagradou. Números abaixo do verificado no Inmetro e feitos com o modo Econ ativado.
Apesar da decepção no meio urbano, o Civic 10 Flex melhorou um pouco na estrada, obtendo 11,2/14,5 km/litro, respectivamente com etanol e gasolina.
Dificuldade na partida a frio com etanol, assim como uma vibração desagradável na parte frontal foram verificadas. Acreditamos que o consumo elevado no meio urbano, assim como estes detalhes citados, possam estar relacionados apenas com a esta unidade testada.
O uso dos paddle shifts se mostrou quase desnecessário no dia a dia e mesmo quando se buscou uma condução mais animada. Mas o que o Novo Honda Civic 2017 tem mesmo de destaque é a dinâmica de condução, que supera os rivais (avaliados) do segmento médio, em nossa opinião.
O conjunto direção, suspensão, chassi e motriz são muito bem dimensionados durante a condução, apresentando um equilíbrio dinâmico muito bom. Nas curvas, o Novo Civic EXL tem um handling excelente, sempre estamos na mão do condutor.
A direção é leve, mas sua progressividade aparece no momento certo, enquanto a suspensão tem boa mescla de firmeza e maciez. Os freios também completam o bom pacote do Novo Civic, atuando de forma muito boa.
A rigidez da carroceria funciona muito bem e garante esse equilíbrio bem elogiado nesta avaliação. E o que faltaria para ficar perfeito? Um motor 1.5 Turbo de 150 cv (já em uso nos Jade e Step-WGN), que mesmo flex faria um bem enorme ao Novo Civic. Até poderiam disfarçá-lo de 1.4 para não concorrer com o (mesmo) propulsor do Civic Touring com seus 173 cv.
O Novo Civic EXL tem dirigibilidade elogiável e performance apenas mediana, suficiente para manter-se entre boa parte dos sedãs médios vendidos no Brasil. O câmbio CVT ajuda no conforto ao dirigir e mantém a reputação de economia, embora apenas verificado na estrada. No geral, o conjunto é muito bom.
Mas, nem tudo são flores. A Honda poderia ter reforçado seu Novo Civic EXL com itens que são encontrados nos rivais até mais baratos, tais como teto solar elétrico, retrovisor eletrocrômico, banco do condutor elétrico, faróis de xênon ou LED, keyless, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro (apesar da boa câmera) e difusores de ar traseiros, por exemplo.
Apesar disso, o Novo Civic EXL vem com controles de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa, sistema de dirigibilidade ágil (AHA), seis airbags, multimídia com GPS e dados de tráfego, Android Auto e Car Play, Wi-Fi, acabamento em couro, ar-condicionado dual zone, HDMI, entre outros.
Com tudo apresentado, o Novo Civic EXL ficou devendo de modo geral. Poderia ser mais barato, algo como R$ 99.900 para compensar as ausências citadas e brigar melhor com quem está abaixo dos R$ 100 mil. Ou então, poderia manter o preço e ficar mais equipado.
Se o caso for ter uma dinâmica de condução semelhante, então as versões EX e Sport se mostram mais interessantes, já que custam bem menos e, pelo menos em segurança e performance, ficam empatadas com a EXL.
Publicado em Veículos na Edição Nº 15784
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