São Paulo - Assim como ocorreu no ano passado, a combinação entre os preços altos do boi gordo e a queda das cotações dos grãos usados na alimentação deve ampliar as margens dos pecuaristas que utilizam o sistema intensivo de engorda de bovinos e elevar o número de animais criados nesse sistema em 2015. Essa é a expectativa do gerente-executivo da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), Bruno Andrade.
Depois de dois anos de queda no número de animais confinados, devido às dificuldades impostas pelos elevados custos na aquisição de grãos e do boi magro, a atividade voltou a crescer em 2014. De acordo com estimativa da Assocon, o número de bovinos confinados no Brasil totalizou 4,1 milhões de cabeças no ano passado, crescimento de 4% ante 2013. Para este ano, Andrade ainda não tem uma projeção, mas avalia que a atual conjuntura vai estimular os confinadores.
“Acreditamos no crescimento do confinamento novamente. O primeiro semestre começou com preço do boi gordo alto e custo de produção atrativo”, afirma Andrade. Para ele, a atual escassez de chuvas em Goiás e São Paulo, dois dos mais importantes Estados produtores de gado bovino, é outro fator que vai impulsionar a atividade pois afeta as pastagens que alimentam os animais.
O última divulgação do indicador Esalq/BM&FBovespa para o boi gordo no Estado de São Paulo ficou em R$ 142,53 a arroba, pouco abaixo dos R$ 143,75 do fim de dezembro, mas quase 25% acima do mesmo dia de 2014.
Tradicionalmente, o sistema de confinamento é utilizado no Brasil para complementar a oferta de bovinos criados a pasto no período da entressafra (entre o fim de maio e novembro), quando as pastagens perdem qualidade. De acordo com Andrade, isso faz com que a utilização dos confinamentos se concentre no segundo semestre - historicamente, de 87% a 92% dos animais são colocados sob engorda intensiva nesse período.
Neste ano, porém, a “má distribuição de chuvas” em Goiás e São Paulo tem prejudicado tanto as pastagens que o primeiro semestre pode superar a marca histórica de 13% de participação do sistema de confinamento. Conforme as estimativas da Assocon, Goiás lidera o ranking dos Estados confinadores do país, com a criação de cerca de 1 milhão de animais em 2014. São Paulo é o terceiro principal Estado na atividade, afirma Andrade.
Há três anos, o número de animais confinados no país corresponde a uma fatia de 10% dos bovinos abatidos por ano. Mas a engorda intensiva deve ganhar mais representatividade na próxima década, aposta Andrade. Com áreas de pastagens cada vez mais ameaçadas pela agricultura e necessidade de ampliar a produção de carne bovina para atender a demanda externa crescente, o Brasil terá de investir em produtividade, e o confinamento é uma das principais ferramentas para isso, diz.
Na avaliação do gerente-executivo da Assocon, a queda do número de animais confinados em 2012 e 2013 foi pontual, provocada por efeitos conjunturais - preços dos grãos e dos animais de reposição. Assim, argumenta, os confinamentos já vêm crescendo há mais tempo. “Há quatro ou cinco anos, confinávamos pouco mais de 2 milhões de cabeças”, afirma. Agora, esse número dobrou.
Uma fonte da indústria de carnes também avalia que deve haver aumento no confinamento este ano, uma vez que os preços do boi são atrativos e o custo da ração para a alimentação também é estimulante.
A participação relativa dos bovinos oriundos de confinamentos nos abates avançou no país, segundo a Assocon, passando de 5% há cinco anos para 10% nos últimos três anos. Segundo Andrade, essa participação só não aumentou mais porque as outras atividades - engorda de bovinos a pasto e semiconfinamento - também cresceram no período. Mas, nos próximos anos, a tendência é que a participação dos confinamentos se intensifique, reforça ele.
Um estudo do Rabobank, divulgado em outubro de 2014, corrobora a avaliação de Andrade. Nesse trabalho, os analistas do banco projetam que, em 2023, 20% da carne bovina produzida no Brasil será oriunda de animais confinados. “O crescimento é lento, mas constante”, diz o estudo, ressaltando que os investimentos necessários para ampliar a estrutura de confinamento são muito altos para os pecuaristas - em torno de R$ 600 por cabeça, ou R$ 6 milhões para uma estrutura com capacidade estática de 10 mil animais.