Desde o dia 9 de agosto servidores estaduais de diversas áreas paralisaram suas atividades visando pressionar o governo a pagar a revisão geral anual (data-base). Este, por sua vez, alega falta de liquidez financeira para honrar com os compromissos. Líderes empresariais das três maiores cidades do Tocantins – Palmas, Araguaína e Gurupi – e com o presidente da Federação do Comercio do Tocantins (Fecomércio-TO), Itelvino Pisoni, sobre esse quadro delicado do Estado e na avaliação dos dirigentes a crise fiscal do Executivo está comprometendo o desenvolvimento econômico da região, mas a greve do funcionalismo piora esse cenário. “No momento que o Estado vive hoje, não é possível mais uma paralisação. Isso só vem agravar, principalmente, a saúde, a educação e a segurança pública”, avalia Pisoni.
Nessa mesma linha de pensamento, o presidente da Associação Comercial e Industrial de Gurupi (Acig), Jaime Xavier, manifestou sua opinião. “O Estado já vem numa situação de inércia e a greve só vem agravar ainda mais”. Ele relatou, como exemplo, a situação de uma empresa da sua cidade que estaria buscando, há 120 dias, a liberação para iniciar suas operações. Segundo o dirigente, a justificativa atual do Executivo para não dar a permissão, seriam os entraves causados pela greve.
“É um negócio delicado: quem quer produzir tem que receber autorização de quem não produz. E hoje a justificativa que chega para esse empresário é que a greve está atrasando. Por isso que falei que agravou um pouco mais a situação, mas isso já existia antes”, observa.
Na visão do presidente da Acig, o movimento do funcionalismo público deveria ser repensado. “A greve prejudica mais a sociedade. O autor da bagunça não está sofrendo nada”, acredita o empresário. “Eu acho que os grevistas tinham que parar as atividades, mas fazer uma forma de pressão muito forte, como acampar na porta do Palácio, fazer greve de fome. Porque senão, daqui a pouco, a sociedade começa a odiar a greve”, alerta.
Jaime Xavier considera a situação “desgastante” e que acarreta sérios prejuízos e problemas. Entretanto, ele pondera ao afirmar que não “condena” a paralisação. “Eu não quero fazer juízo de valor da greve. Pois é importante que as pessoas lutem pelos seus direitos”, justifica.
Por outro lado, o empresário atenta para o fato de que o fim do movimento não vai representar a solução desejada para a sociedade em geral, pois a realidade do poder público é muito mais complexa. “A greve vai acabar, mas isso não significa que as coisas vão andar. A greve acaba, mas o Estado não funciona, não anda, não deslancha, não sai do lugar”, lamenta.
Por sua vez, o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Palmas, Davi Gouveia, analisa o movimento que reivindica a revisão geral anual, como desgastante para os dois lados. “Tanto do lado do governo, quanto do lado do funcionalismo”. Mas o empresário também acredita que a paralisação dos servidores, bem como a greve dos bancários, piora o quadro econômico do Estado.
“Todo esse montante de greve acaba atrapalhando e enfraquecendo a nossa economia, que já está bastante fragilizada. Toda greve é prejudicial para a sociedade e a comunidade como um todo. E é prejudicial, e muito, ao comércio”, ressalta o dirigente.
Ao comentar o assunto, o diretor da Associação Comercial e Industrial de Araguaína (Aciara), Manoel de Assis Silva, enfatizou que grande parte da queda nas vendas, ao menos em sua cidade, tem relação direta com o movimento grevista que está ocorrendo.
“Nós estamos vivenciando um caos e estamos sendo muito prejudicados por essa ‘tarefa de casa’, digamos assim, que o Estado deixa de fazer. E essa greve piora mais ainda, em todos os sentidos: criou-se uma instabilidade que prejudica e tem afetado o nosso comércio, gerando uma queda no nosso movimento”, afirma.
Para a Federação do Comércio, o momento é delicado. Pisoni ressalta que a economia não começou a reagir, e, portanto, a greve representa “a problemática da falta de compreensão dos servidores”. “Um problema muito sério é a incompreensão do momento atual em relação ao funcionalismo público, que radicaliza a todo instante. Para o momento, eu condeno isso”, opina o gestor.

Conta não fecha
Pisoni recorda ainda que o Executivo elevou os tributos em 2015 com objetivo de atenuar o cenário, mas mesmo assim não conseguiu organizar a “casa”. “Houve aumento de impostos no ano passado e me parece que não resolveu a situação. As coisas continuam aumentando e o Estado não consegue se readequar em torno do novo momento”.
Dados divulgados pelos secretários de governo durante audiência pública nessa quarta-feira, 13, na Assembleia, comprovam isso, pois mostraram que a relação receita/despesa da máquina pública não fecha, ou seja, o Estado não tem conseguido arrecadar o suficiente para pagar todos os seus custos. E no primeiro semestre de 2016 acumulou déficit de R$ 600 milhões. Desse modo, o percentual que deveria ser destinado para investimento não tem sido aplicado.
“Se nós estivéssemos em um momento que a economia estivesse normal e o governo pudesse pagar os salários, e ainda sobrar recursos para investimentos, seria a maneira ideal”, comenta Davi Gouveia sobre o assunto. “Porque o salário ajuda a girar a economia, mas o investimento, o Estado empregar capital, também é muito importante”, acrescenta o membro da CDL palmense.
De acordo com o diretor da Associação Comercial e Industrial de Araguaína (Aciara), Manoel de Assis, o que faltou foi planejamento. “Mesmo vivenciando a crise eles não tomaram medidas de redução de custo, de adequação de receita e despesa. Com isso, o Estado deixou de cumprir com algumas obrigações”, argumenta.
Nessa linha de raciocínio, Jaime Xavier, da Acig, aponta a falta de governança, ordem, disciplina e respeito no serviço público como os principais fatores que motivaram o atual cenário do Tocantins. “É um Estado que não tem moral. Eu percebo que o poder público está fragilizado, está perdido, desorientado e desnorteado e, por isso, a crise nacional fica pior no Tocantins do que em muitos outros Estados”, critica. O empresário, descrente, diz que não vê nenhum política de fortalecimento da economia a médio e longo prazo.

Saídas
A recomposição desse quadro difícil, entretranto, para os demais gestores, vai depender de ações sérias do Executivo. Mas, além disso, da contribuição da sociedade. “Cada um tem que entrar com a sua parcela de contribuição, com a sua colaboração. É um momento de reflexão. Eu acho que todos deveriam abrir mão de alguma coisa, a própria categoria do funcionalismo deveria repensar e tentar adiar essa situação”, sugere o dirigente da Fecomércio.
Outro caminho importante recomendado por Pisoni é o do diálogo. “Antes de deflagrar uma greve tem que esgotar todas as possibilidades de haver um acordo. E por parte do governo tem que haver um entendimento que existem áreas prioritárias e nessas áreas ele precisa entrar com mais determinação, para tentar resolver a situação. Porque o governo não demonstra aquela vontade de negociar, de resolver, de discutir”.
Por fim, Manoel de Assis, da Aciara, destaca como saída a necessidade de maior aproximação do governo estadual com as entidades representativas e, com isso, a definição de políticas “claras”, tanto para a reativação da economia quanto para solucionar o impasse do reajuste salarial dos servidores, que pelo visto está longe de acabar.