PALMAS - A decisão do Palácio Araguaia de pagar o 13º salário inicialmente apenas para os servidores que recebem até quatro salários mínimos (R$ 3.152) piorou a expectativa do comércio para o fim do ano, que já não era positiva devido à crise financeira que atinge o País e o Estado. A previsão é das principais entidades do setor produtivo, que se mostraram preocupados com a economia do Tocantins.
“O servidor público representa muito. Esta decisão de postergar pagamento para janeiro, obviamente, na véspera de natal, impactará de forma negativa. Não vende e logo não arrecada tributos, o que, de toda forma, prejudica o Estado”, avaliou Kariello Coelho, presidente da Associação Comercial e Industrial de Palmas (Acipa).
Questionado se a decisão prejudica a oferta de emprego no setor privado, Kariello Coelho adiantou que as demissões já estavam acontecendo e afirma que a queda da circulação de dinheiro no fim do ano, a situação piora. “Na verdade, nem as contratações temporárias estamos fazendo. O impacto será maior no primeiro semestre de 2016, quando ex-funcionários pararão de receber o seguro-desemprego”, prevê.
Kariello Coelho espera iniciar o diálogo com o Estado a partir desta terça-feira, 22, para projetar a regularização do décimo terceiro. O presidente da Acipa se disse surpreso com o anúncio do Palácio Araguaia e avaliou que a decisão revelada a poucos dias do Natal prejudica o planejamento para amenizar os impactos. “O anúncio foi feito no final de semana. Não deu tempo da maioria dos comerciantes digerirem. Foi uma grande surpresa, porque o Estado vinha honrando todos os pagamentos. Faltando apenas três dias para o Natal, o que fizermos não vai trazer grandes resultados”, afirmou.
Apesar da preocupação, o presidente da Acipa ponderou a situação do Tocantins ao comparar com outras unidades da federação. “Vamos olhar o lado positivo. Se você pegar os estados do País, a maioria está parcelando os vencimentos do servidor. Dos males do menor”, comentou. Kariello Coelho ainda pediu para que o governo, diante da situação, “planeje melhor 2016”. “Esta decisão vem para ratificar o que já esperávamos. O Natal menor que os anos anteriores, sem crescimento. São milhões e milhões de reais que não entrarão no comércio”, comentou.
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Palmas (CDL), Antonio David Goveia, também prevê queda nas vendas em relação ao ano passado. “Logicamente, quanto mais dinheiro tiver circulando na economia, melhor para todos. Funcionário público e comércio. Economia é uma corrente, interdependente entre pessoas.”
David Goveia disse compreender a situação do Tocantins, mas discordou a opção escolhida pelo Palácio Araguaia, em pagar o décimo terceiro apenas para aqueles que recebem até quatro salários mínimos. “Lógico que o governo quis privilegiar quem recebe menos, mas de repente fosse melhor se estendesse a medida para todos”, comentou.
“O que ganha mais, às vezes por uma diferença pequena, fica de fora. Se estendessem esta medida para todos seria melhor, mais recursos inseridos na economia”, acrescentou o presidente da CDL de Palmas, que finalizou minimizando a posição do Palácio Araguaia. “Eu só vejo, analiso com certa normalidade, tranquilidade, porque se o governo chega a este ponto, logicamente tem os seus motivos. O que leva a crer falta de caixa.”
Jaime Xavier Oliveira, da Associação Comercial e Industrial de Gurupi (Acig), admitiu ao CT que não tem como determinar o nível do prejuízo, mas garante que a previsão não é positiva. “Dados concretos não tenho, mas a expectativa é preocupante. A situação já não é boa, e na medida em que os governos não pagam ou parcelam vencimentos, isto chega de maneira negativa [no comércio]”, comenta.
Para amenizar o impacto da menor circulação de dinheiro no fim de ano, Jaime Xavier cita que a Acig em parceria com a CDL de Gurupi vai sortear quatro automóveis para os clientes. “Estamos fazendo campanha de premiação de Natal. O que tem de promoção é só isto. Tentar trazer o consumidor de outras cidades”, afirma.
Apesar de mostrar otimismo quanto ao fim da crise, o presidente da Acig foi mais crítico a respeito do Palácio Araguaia. “A crise já é fruto da falta de planejamento. Aqueles estados que fizeram a leitura correta do quadro vivem situações melhores. O Tocantins não se preparou e teve um empurrão da questão nacional que complica. Na medida em que o governo federal diminui os repasses, reflete diretamente. Internamente a situação é complicadíssima”, finaliza.